Durante
este período trabalhando na implantação do projeto CAD nas escolas
Estaduais de Mineiros, nos deparamos com vários desafios e fatos que
muitas vezes nos angustiam, nos chocam e pedem frequentemente sabedoria
na tentativa de solucioná-los.
Contudo, a maior dificuldade encontrada é a falta de amparo e apoio das
famílias em transmitir aos filhos valores e limites tão essenciais para o
bom desenvolvimento do ser humano. O que mais nos entristece é
constatar que algumas famílias muitas vezes já desistiram de tal tarefa.
Compreendemos que a educação dos filhos, embora seja tarefa extremamente
complexa, deve ser intransferivelmente da família, vivenciada em um
ambiente de paz, carinho e diálogo, não se pode, contudo, transferir
essa responsabilidade ao Estado, representado pela figura da escola ou
mesmo ao Conselho Tutelar, ao Promotor de Justiça ou ao Juiz de Direito.
Frisamos em conversas com as famílias a responsabilidade tanto moral
quanto legal que os mesmos possuem em relação a seus pupilos. Dizemos
sempre que a escola é local de ensino e construção da cidadania, mas
educação e respeito vêm de casa e não é a escola que tem que suprir o
papel dos pais e sim apenas complementá-lo.
Sendo assim gostaria de compartilhar com os leitores uma reportagem da
autora e mestre em educação Tania Zagury, muito propicia para auxiliar
as famílias que vem encontrando dificuldades em impor na medida certa os
limites para que os jovens se desenvolvam bem e consigam se tornarem
cidadãos responsáveis, críticos e cumpridores de seus deveres em
sociedade.
Lília e Isabel Cristina
Implantadoras do projeto CAD
Implantadoras do projeto CAD
Vejam também no link Download o resumo do livro de Içami Tiba: Disciplina na medida certa.
OS ADOLESCENTES E OS LIMITES
Tania Zagury
Tania Zagury
Como estabelecer limites a um adolescente, se o meio favorece justamente o contrário?
Limitar é ensinar que todos temos direitos, sim, mas deveres também.
Limitar é mostrar que o outro também deve ser considerado quando nos
decidimos a agir, que nunca devemos pensar apenas em nós mesmos, mas sim
compreender que vivemos em grupo, ou seja, convivemos.
Antes de tudo, é preparar nossos filhos para o exercício da cidadania. É
esta, sem dúvida, uma parte importante do trabalho educacional da
família. Estabelecer limites é dar responsabilidade, o que implica em
tornar nossos filhos, mais cedo, adultos responsáveis.
NOSSA REALIDADE
Quanto mais hostil for o meio, ou seja, quanto pior estiverem às
coisas na sociedade, mais nós, os pais, devemos compreender e introjetar
a importância do nosso papel, em especial, o PESO do nosso exemplo e
dos nossos ensinamentos. Mais que temer a influência do meio, devemos
continuamente analisá-lo com nossos filhos, para que eles tenham
condições de se defenderem de influências indesejadas.
Se vivemos numa sociedade em que muitas pessoas acham que podem tudo
devido à impunidade existente, isto não é motivo para que ensinemos
nossos filhos a serem desonestos. Pelo contrário, é desvelando essa
realidade injusta e analisando o que está ocorrendo que poderemos
instrumentalizá-los a adotarem uma postura combativa e de luta contra as
injustiças.
“Entregando os pontos” estaremos apenas dando razão à desonestidade e à
falta de caráter. Afinal, qual o nosso objetivo ao educarmos nossos
filhos? Formar um cidadão respeitado, justo, honesto ou criar um
arremedo de ser humano, alguém que só pensa em “se dar bem”,
independente da forma, já que existe tanta coisa errada por aí?
ORIGEM DA AGRESSIVIDADE
A agressividade não é inerente à adolescência, como muitos pensam. O
que caracteriza esta faixa etária do ponto de vista do crescimento
intelectual e afetivo é, entre outras coisas:
A) antagonismo: é a capacidade incansável e inesgotável de o jovem se
opor, contestar e colocar-se contra tudo ou quase tudo que pessoas
revestidas de algum grau de autoridade lhe apresentam, em especial se
essas pessoas forem o pai e a mãe.
B) instabilidade emocional: as grandes mudanças físicas, intelectuais,
emocionais e sociais que ocorrem na adolescência podem influenciar o
humor, levando a fortes e contraditórios sentimentos, alternando
alegria, euforia, tristeza e melancolia, mau humor ou mutismo.
C) inquietação: nesta fase do desenvolvimento, o jovem percebe, intui e
vivencia a chegada da idade adulta, que ele deseja e teme ao mesmo
tempo: deseja pelo tanto de liberdade e independência que sonha
conquistar; teme pelo que pressente que irá assumir, em termos de
responsabilidades, abandonando uma etapa na qual o prazer é a tônica e
as obrigações ainda são poucas.
TOLERAR?
Nada justifica, entretanto, que, por conta do que foi exposto, o
jovem passe dos limites de uma convivência sadia para agressões graves. O
que é compreensível e aceitável é surgirem atitudes de irritabilidade,
mutismo, depressão leve, impaciência, espírito de contradição, teimosia,
resistência passiva etc., nunca violência e desrespeito. É muito bom
quando os pais compreendem o que o adolescente está passando e deixam
passar, sem revidar, algumas das atitudes citadas, não levando tudo a
ferro e fogo, a fim de favorecer a independência do filho.
Afinal, a maior parte dessas atitudes representa apenas a insegurança
característica da idade e o desejo de crescimento. Entendendo o que se
passa, é mais fácil tolerarem algumas atitudes de autoafirmação dos
filhos. Nunca, porém, os pais devem permitir que as coisas cheguem ao
ponto de gritos, zombarias, agressões físicas, verbais ou morais. Se
isto acontecer, provavelmente será porque não foram estabelecidos, de
forma clara, os limites do que é aceitável e do que não é.
PRESSUPOSTOS PARA EDUCAR
Pais bem orientados e equilibrados agem com os filhos adolescentes apoiados em um tripé básico:
A) empatia: para isso é necessário saber ouvir, sem preconceitos, deixar
o coração livre e desimpedido para “sentir com” e, principalmente, dar
mostras de compreensão do sentimento do outro.
B) diálogo: depois de ouvi-lo colocar suas dúvidas e problemas, você
parte para a análise conjunta da situação e a busca de soluções
possíveis, de preferência orientando, sugerindo, mas deixando, sempre
que possível, a decisão final a cargo do jovem.
C) estabelecendo limites: ter empatia e dialogar não impede nem
impossibilita que, quando necessário, você estabeleça limites, com base
na sua autoridade e no dever de zelar pela segurança dos filhos. Isto
quer dizer que, muitas vezes, por mais que tente, você não conseguirá
convencer seu filho de alguma coisa que considera fundamental e, então,
se torna necessário estabelecer alguma regra ou proibir alguma coisa.
QUANDO AGIR
A agressividade deve ser combatida toda vez que superar os limites da
educação, da polidez, da civilidade. E também sempre que percebermos
que nosso filho está agindo, falando, se comportando, enfim, de forma
que possa colocar em risco sua segurança, seu futuro. Mesmo quando não
se trabalhou os limites na infância, é possível reverter à situação. É
mais difícil, mas não impossível. O fato de os pais perceberem que
perderam tempo, deixando de aproveitar a infância para o estabelecimento
dos limites mínimos, o que determina uma convivência baseada no
respeito e na igualdade de direitos e deveres, já os coloca um passo
adiante na resolução do problema.
ANTES, O EXEMPLO
O jovem pode também estar gritando, agredindo, para ser ouvido, como
se fosse um pedido de socorro, num meio desfavorável. A omissão, a
indiferença ou a falta de amor e o desrespeito são outros determinantes
de atitudes agressivas. De fato, não existem apenas os pais
equilibrados, amorosos e justos. São muitos os que agridem física e
moralmente os filhos. A falta de compreensão ou ainda a omissão e a
indiferença são os elementos que mais levam à agressividade.
A regra básica para qualquer relacionamento, seja entre pais e filhos, marido e mulher, irmãos ou amigos é:
- para sermos respeitados, precisamos respeitar. Então, se só falamos com nossos filhos aos berros, enfadados ou sendo muito críticos, provavelmente receberemos em troca um tratamento pelo menos semelhante. Sejamos adultos, mostremos equilíbrio, revelemos sempre o nosso amor e carinho, sejamos justos e equânimes, mas tracemos limites claros, objetivos e adequados e, por fim, estejamos sempre disponíveis para nossos filhos. Assim diminuísse muito a agressividade e encurta-se o caminho para a maturidade.
Fonte: Educação Disciplina r na Escola
Nenhum comentário:
Postar um comentário