Estadão Conteúdo
Há algum tempo, os leitores cobravam de Thalita Rebouças um livro sobre bullying. Um dia, já pensando no projeto, ela postou um vídeo no Snapchat em que perguntava a seus seguidores se eles tinham alguma história dessas para contar. Recebeu cerca de 5 mil e-mails.
Era o embrião de Confissões de Uma Garota Excluída, Mal-amada E (Um Pouco) Dramática, seu 21.º livro, que ela autografa neste sábado, 21, em São Paulo. O lançamento marca também sua chegada à Sextante, com quem já tem assinado o contrato de um volume de crônicas para adultos e de sua primeira chick-lit. Os livros anteriores, que somam dois milhões de exemplares vendidos, seguem na Rocco.
Mais do que assimilar as histórias dos leitores, o que ela quis foi conhecer o universo sobre o qual estava escrevendo – e percebeu que não mudou nada desde que ela era “toda torta”. “Eu tinha dente torto, canela torta, cabelo ruim. Lembro do dia em que descobri que era míope e da minha avó falando que a única coisa boa que eu tinha ia ficar escondida atrás dos óculos. Eu me senti péssima”, conta – e ri, hoje.
A Tetê, protagonista de Thalita Rebouças, também sofre bullying em casa – e na escola. “Sua mãe fica o tempo todo falando para ela tirar o bigode, raspar o sovaco, pintar a unha”, comenta a autora sobre a adolescente que não tem amigos, usa óculos e aparelho, está acima do peso, tem o cabelo volumoso e é estabanada – e que se vê diante de novos desafios, além de sobreviver à essa fase dramática. O pai perde o emprego e a família vai morar com os avós de Tetê, que, no meio disso tudo, tem de mudar de escola. E esta é sua chance de fazer amigos, tanto que lá se aproxima dois garotos, um nerd e um gay – Zeca é o primeiro personagem homossexual de peso de Thalita.
Muitos dos problemas de Tetê e de tantos leitores que escreveram para Thalita um dia deixarão de ser problemas. “Mas o adolescente vê tudo com uma lente de aumento. Então, ela se acha um pavor, e não é. Como eu também não era o monstro que eu achava que eu era”, diz a escritora de 41 anos.
Entre os relatos que mais a tocaram, histórias de crianças que se sentem excluídas dentro de casa e se veem entre o pai que fala mal da mãe e da mãe que fala mal do pai. Outra garota disse que toda sua família sabe que ela odeia canela e que na hora de comprar chiclete para dividir só compram de canela. Bullying com comida, um clássico nas melhores famílias.
A história da canela e a questão dos apelidos, outra queixa comum, foram alguns dos relatos incorporados ao enredo. Mas os leitores talvez não se aborreçam porque suas experiências não entraram diretamente no livro – Thalita percebeu em muitas das mensagens a vontade apenas de desabafar, e de fazer isso com um ídolo. E neste sentido, livros como os que escreve acabam ajudando o leitor a encontrar o seu lugar e a se colocar no lugar do outro, ela acredita.
A autora tem uma rotina diária de ouvir e de responder o seu leitor, e de criar as histórias que, para ela, se conectarão com essas meninas e meninos – mais meninas. É uma prioridade dela, e a autora faz com gosto, mas é também uma parte importante do trabalho que se reverte em livros vendidos e filas quilométricas em sessões de autógrafos.
Os planos para o futuro próximo estão agitados, para a alegria dos fãs. Thalita sai agora em turnê de lançamento. Escreve os próximos livros. Acompanha a adaptação de suas obras – Era Uma Vez Minha Primeira Vez chega aos teatros em 2017 e seis obras vão virar filme. É Fada, com estreia em 6 de outubro, é baseado em Uma Fada Veio Me Visitar e terá a youtuber best-seller Kéfera no elenco. Sucesso de público garantido. Também em outubro, começam as filmagens de Tudo Por Um Pop Star e em dezembro, Fala Sério, Mãe. E já estão em produção Ela Disse, Ele Disse, Era Uma Vez Minha Primeira Vez e Tudo Por Um Namorado.
Não há muitos filmes aqui para este público. “Estou louca para estrear um para as pessoas começarem a investir. Por que podemos consumir filmes feitos nos EUA e não podemos fazer uma coisa aqui, nossa?”, questiona a escritora que, além disso tudo, estreia, em junho, no GShow, a websérie Absurdices. A primeira temporada terá 10 episódios de dois minutos cada um. No programa, faz o papel dela mesma, contando o que passa no dia a dia – do pai que dá cantada em lançamento, à mãe que me pede para cheirar a axila da filha para dizer que tem cecê, à menina que a para no shopping e pede para ensiná-la a beijar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.