Das cinco situações de repercussão, quatro delas foram dentro da classe. Especialista Margarete Zenero orienta pais e educadores sobre o assunto.
Do G1 Piracicaba e Região
A frase "Te pego na saída" já está ultrapassada. A sala de aula parece ter deixado de ser local seguro. Dos cinco casos de violência escolar que tiveram repercussão na região de Piracicaba (SP) em 2014, quatro deles ocorreram dentro da classe. Uma das situações causou mais comoção pelos motivos que provocaram a agressão, quando uma adolescente foi espancada por colegas dentro da sala de aula em Limeira (SP) porque ela era recém-chegada na instituição e considerada bonita pelos colegas.
Situações como essa marcaram o ano e deixaram marcas também nos envolvidos que agora sentem medo do futuro.A Secretaria Estadual de Educação informou que entende o enfrentamento à violência em suas unidades de ensino como algo que deve ocorrer em diversas frentes, com comunidade escolar, famílias e a polícia.
A psicóloga Margarete Zenero dá orientações sobre como pais e educadores podem proceder no tratamento e na prevenção da violência na escola. Confira abaixo as várias situações de conflitos na escola que marcaram o ano.
Era bonita
A aluna de 15 anos da Escola Estadual Castelo Branco, em Limeira, levou tapas, socos e arranhões que causaram ferimentos no rosto e pescoço. A agressão, ocorrida em 9 de abril, teria sido motivada porque a jovem é nova na escola e se destacava pela beleza física, segundo o pai dela. A adolescente sofreu ferimentos no rosto e pescoço. A briga foi registrada com câmeras de celular pelos estudantes.
A aluna de 15 anos da Escola Estadual Castelo Branco, em Limeira, levou tapas, socos e arranhões que causaram ferimentos no rosto e pescoço. A agressão, ocorrida em 9 de abril, teria sido motivada porque a jovem é nova na escola e se destacava pela beleza física, segundo o pai dela. A adolescente sofreu ferimentos no rosto e pescoço. A briga foi registrada com câmeras de celular pelos estudantes.
Na época, familiares da jovem agredida afirmaram que a unidade de ensino tinha conhecimento da situação antes de chegar ao extremo. A Diretoria de Ensino de Limeira manifestou, em nota, repúdio a qualquer ato de violência e declarou que atua em conjunto com as famílias para evitar situações como a que envolveu as alunas da Escola Estadual Castelo Branco.
Aviões e bolinha de papel
Já em Piracicaba (SP), um aluno de 13 anos disse ter sido agredido por uma professora durante a aula na escola estadual do Jardim Gilda, no dia 8 de abril. A mãe do garoto registrou um boletim de ocorrência em que relatava que após empurrrão da docente, o menino bateu a cabeça na parede da sala e teve um corte na testa.
Já em Piracicaba (SP), um aluno de 13 anos disse ter sido agredido por uma professora durante a aula na escola estadual do Jardim Gilda, no dia 8 de abril. A mãe do garoto registrou um boletim de ocorrência em que relatava que após empurrrão da docente, o menino bateu a cabeça na parede da sala e teve um corte na testa.
Segundo o relato do estudante, ele e alguns amigos estavam fora do lugar, brincando com aviões de papel na frente da sala, quando a professora mandou que eles fossem para suas carteiras. "Eu disse que já ia sentar, quando ela me pegou pelo braço, me levou para o fundo da sala e me empurrou", contou o garoto à reportagem do G1. A direção da escola informou que a docente foi advertida sobre como lidar com situações de indisciplina em sala de aula.
Também em Piracicaba, uma jovem de 14 anos que estava grávida apanhou de colegas de classe do 7º ano dentro da sala na Escola Estadual Professor Antônio Mello Cotrim, no bairro Pauliceia, em agosto. A agressão teve início após uma "guerra" de bolinhas de papel.
A professora tentou apartar a briga, mas também foi atacada. Dois estudantes, uma garota de 15 anos e um menino de 13 anos foram apreendidos por terem participado da agressão. A polícia e o Conselho Tutelar foram acionados e os responsáveis pelos alunos foram chamados na unidade que realizou uma reunião para definir a punição aos estudantes. A Diretoria de Ensino da cidade também designou uma equipe de supervisores para acompanhar o caso.
Bullying
A mãe de um aluno de 6 anos da rede municipal de educação de Piracicaba denunciou uma professora à polícia, acusando-a de praticar bullying contra o filho, em abril de 2014. Segundo ela, a profissional teria apelidado o garoto de "perna-de-pau".
A mãe de um aluno de 6 anos da rede municipal de educação de Piracicaba denunciou uma professora à polícia, acusando-a de praticar bullying contra o filho, em abril de 2014. Segundo ela, a profissional teria apelidado o garoto de "perna-de-pau".
A mãe do garoto precisou mudar o turno de estudo do filho na instituição porque ele começou a ter dificuldades. "Meu filho nunca teve queixas. O caderno dele era repleto de elogios e todas as atividades eram feitas. De repente começaram a vir reclamações", disse. A Secretaria da Educação de Piracicaba respondeu, na época, que a denúncia da mãe do garoto não procedia e que a situação estava solucionada entre ambas as partes.
Preconceito
Ainda em Piracicaba, a mãe de uma garota de 12 anos que pesa 146 quilos e frequenta a Escola Estadual Pedro de Mello, no distrito de Tupi, reclamou do tratamento dado à estudante em razão da obesidade. Segundo ela, a direção sugeriu que a menina fosse retirada do estabelecimento de ensino. "Eu me senti ofendida. Minha filha é obesa e hipertensa, mas faz o controle com medicamentos. Isso não justifica um pedido desses", disse a vendedora Cláudia de Almeida Martins Rodrigues, de 42 anos.
Ainda em Piracicaba, a mãe de uma garota de 12 anos que pesa 146 quilos e frequenta a Escola Estadual Pedro de Mello, no distrito de Tupi, reclamou do tratamento dado à estudante em razão da obesidade. Segundo ela, a direção sugeriu que a menina fosse retirada do estabelecimento de ensino. "Eu me senti ofendida. Minha filha é obesa e hipertensa, mas faz o controle com medicamentos. Isso não justifica um pedido desses", disse a vendedora Cláudia de Almeida Martins Rodrigues, de 42 anos.
A Secretaria Estadual da Educação exigiu um laudo médico sobre as condições de saúde da jovem, que também é vítima de bullying praticado por alunos, de acordo com a mãe. Ela levou à escola um laudo assinado por um profissional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde a garota é acompanhada. O documento declarava que a "paciente não apresenta contraindicação para atividades escolares, mas tem limitações temporárias para atividades físicas até o controle da pressão arterial".
Especialista
Margarete Zenero, especialista em psicologia clínica, explica que parte da educação dos filhos, que deveria ser recebida em casa, tem sido transferida para a escola. "O trabalho de prevenção da violência na escola tem que ser feito em conjunto, mas todos são responsáveis. É preciso colocar os pais na roda", disse.
Margarete Zenero, especialista em psicologia clínica, explica que parte da educação dos filhos, que deveria ser recebida em casa, tem sido transferida para a escola. "O trabalho de prevenção da violência na escola tem que ser feito em conjunto, mas todos são responsáveis. É preciso colocar os pais na roda", disse.
Quanto às brincadeiras, ela recomenda atenção para reconhecer quando ultrapassa o limite. "Bullying não vem de uma hora para outra. Geralmente, há um líder que gerencia as ações e que, muitas vezes, é quem esconde baixa autoestima. Para isso, coloca o foco nos defeitos do outro, que podem até ser inexistentes", explicou.
A diferença entre a brincadeira e o bullying é que a primeira não é duradoura, disse Margarete. A escola precisa estar atenta e aberta a refletir sobre casos de violência e estabelecer medidas corretivas e preventidas. "É importante realizar um grupo de discussão junto com os pais", sugeriu.
Uma maneira de detctar se há situações de violência psicológica é perceber os “sinais”. Geralmente, o aluno vítima de bullying não é inserido nas atividades realizadas na sala de aula espontaneamente, além disso, ele é desvalorizado em suas atitudes e naquilo que fala. "Os amigos se afastam e o estudante vai se tornando solitário. Seu desempenho na escola também cai", explicou.
Tanto quem sofre, como quem comete bullying, necessita de acompanhamento profissional. "Nestes casos, os dois são escravos. O 'malvado' também precisa de ajuda". Outro aspecto a ser considerado é que, infelizmente, em certas situações, a criança ou o adolescente já chega à escola com um valor embutido nela e muitas vezes reforçado pelos próprios pais ou responsáveis.
Secretaria Estadual de Educação
A Secretaria do Estado da Educação informou que, desde 2009, conta com o Sistema de Proteção Escolar, iniciativa que orienta as equipes gestoras e apoia professores e alunos envolvidos em situações dessa natureza.
A Secretaria do Estado da Educação informou que, desde 2009, conta com o Sistema de Proteção Escolar, iniciativa que orienta as equipes gestoras e apoia professores e alunos envolvidos em situações dessa natureza.
Entre as ações do programa, está a figura dos professores-mediadores, que são educadores capacitados para criar ações preventivas nas escolas e ainda aproximar a comunidade das unidades em campanhas de prevenção à violência, racismo e outras formas de discriminação como o bullying. Hoje, existem 3.425 professores em todo o Estado. Em Piracicaba, o número aumentou de 11, quando a função foi criada em 2010, para os atuais 23.