Andréia do Espírito Santo
Da Redação
Em
8 de novembro foram três casos, todos em escolas do bairro do Tapanã.
Na Escola Padre Francisco Berton, o aluno João Guilherme, de 17 anos,
foi morto a facadas ao ser assaltado na saída do estabelecimento; na
Escola Comandante Aldebaro Klautau, um aluno ameaçou de morte a diretora
por coibir a entrada de drogas na unidade; e na Nossa Senhora do Carmo a
briga de dois alunos, de 14 e de 17 anos, que foi parar na polícia,
levou à reação de uma gangue que tentou invadir a escola, mas foi
contida pela polícia.
Para
tentar conter essa onda de violência, que ocorre principalmente em
escolas públicas, os diretores e a comunidade estão se reunindo. Um dos
resultados dessa parceria é a realização de palestras com jovens, nas
quais são abordados os problemas que as drogas causam.
Um
desses projetos é o "Educar para não Reprimir", coordenado pelo
sargento da Rotam (Ronda Tática Metropolitana) Silvano Oliveira da
Silva. O sargento, que também é pastor da igreja Quadrangular, conta que
já foram feitas várias palestras em escolas dos bairros do Guamá, Terra
Firme, Tapanã e Barreiro, onde há uma parceria com a escola municipal
Inês Maroja, localizada na passagem Nossa Senhora da Guia com a
Mirandinha, um dos locais mais violentos do bairro.
O projeto faz parte das ações da ONG Comunidade Cultural Prevenir. "O projeto surgiu no início do ano. Foi um projeto individual que pensei em fazer depois que participei de um programa de televisão, no qual eu fui para a fronteira da Colômbia, Peru e Brasil. Nas palestras falamos sobre as drogas e a violência na escola. É uma palestra simples e diferente. Eu falo a minha experiência como policial, como pai de família e pastor. Chamamos a atenção dos problemas que a droga provoca. Começamos a trabalhar e conscientizar as pessoas do mal que as drogas faziam. E foi criando uma proporção grande que resolvemos fazer uma ONG. Hoje tem delegada, oficiais da polícia, civis, professores e tem a participação da comunidade", comenta.
Focos de projeto são as áreas perigosas
O
sargento Silvano explica que o trabalho é uma maneira de ir além da
prisão. "Trabalhamos nessa área na qual os policiais fazem algo além de
prender. Porque prender não resolve o problema. A prisão leva a uma
reflexão, mas não ressocializa. Nós mostramos nas palestras as mazelas
da droga e as entrelinhas, o dia a dia, os problemas que as drogas
causam na família, na rua e no colégio", comenta.
Para
ele, o melhor resultado é quando os problemas de violência na escola e o
número de usuários de drogas são reduzidos. "Já apreendi um adolescente
que depois veio participar do projeto. Hoje trabalhamos também com
aqueles jovens que abandonaram os estudos procurando oportunidade e
depois decidiram voltar a estudar. Em palestras já encontrei com vários
meninos que eu já apreendi. Eu conhecia a maioria e expliquei que estava
ali como alguém que poderia ajudar. O jovem entra no mundo do crime e
quer oportunidade de mudar. Todo mundo quer uma segunda oportunidade. A
escola é uma dessas oportunidades. Hoje, com a organização desse
projeto, estamos ajudando a combater a violência até dentro das escolas.
O nosso foco é nos colégios", esclarece.
O projeto é levado para onde há um índice elevado de violência, tanto na rua como na escola. "O Barreiro, por exemplo, é um local considerado perigoso. Aqui um jovem está matando o outro. Desde que iniciei o projeto diminuiu a violência no bairro e na escola. Nós lutamos para que os jovens não entrem no mundo da droga. Aqui no Barreiro a venda é absurda e, às vezes, entra na escola. Temos que impedir isso. Mostramos que ser traficante, usuário e 'avião' é tudo ilusão. A droga passa uma falsa felicidade. A pessoa não tem dinheiro e começa a roubar. A pessoa se torna refém da violência. Ele pega mais droga para revender. De usuário vira pequeno traficante", acrescenta.
Direção deseja aproximação com responsáveis por estudantes
Na
Escola Estadual Padre Francisco Berton, professores, alunos e pais
ainda tentam esquecer o assassinato de João Guilherme, de 17 anos.
Alguns comentam que o problema foi mesmo a violência que é constante no
Tapanã e no Cordeiro de Farias. Outros comentam que os alunos que
estavam com o menino começaram a ser ameaçados de morte e um deles nem
foi mais ao colégio por medo.
Para
evitar que os problemas externos interfiram no colégio, a direção tenta
ao máximo ter contato com a família. "Nosso principal problema é a não
presença dos pais no colégio. Mas, por meio dos projetos, tentamos mudar
a situação", comenta a vice-diretora da escola, Sandra Sacramento.
Ela
relata que dentro da escola não há registros de alunos que levaram
armas para a sala de aula, apesar dos comentários. "Uma vez comentaram
que um aluno estava armado, mas ele foi revistado e nada foi
encontrado".
O
problema, explica a vice-diretora, são as brigas dentro do colégio
entre estudantes. "Mas são casos logo resolvidos. Isso é problema de
bullying. Sabe-se que isso é um problema em muitas escolas. Nós fazemos
palestras para tentar acabar com esse problema. Durante a semana uma
aluna veio reclamar que alunos ficavam tirando graça com ela. Chamamos
todos os alunos e falamos para que isso não ocorresse. Pronto,
conseguimos resolver esse problema", afirma.
Ela conta que entre as atividades desenvolvidas estão as práticas esportivas e as de incentivo à leitura. "Dois projetos são desenvolvidos pelo professor Guilherme, de educação física. O outro é na biblioteca da escola", ressalta.
Coordenadora afirma que colégio é refúgio para as crianças
A
coordenadora pedagógica da Escola Estadual Padre Francisco Berton,
Suzana Coelho, participou da reunião que ocorreu no mês passado na
escola Nossa Senhora do Carmo, no Tapanã. Ela conta que o pedido da
reunião partiu dos professores e de pais de várias escolas do bairro
para cobrar mais segurança. Segundo ela, a situação melhorou. "Aqui tem o
problema de ser uma área perigosa. Eles cobravam a segurança na frente
dos colégios e mais palestras da polícia".
Ela
comenta que este é o único refúgio que as crianças encontram no bairro.
"O único refúgio deles para uma vida melhor é a escola. Por isso que
tentamos trabalhar com palestras e projetos que combatam a violência na
escola e ao redor", destaca.
O professor Guilherme Piedade é responsável por dois projetos na escola Padre Francisco Berton, ambos em parceria com a Seduc. O primeiro é o "Jogos ao Redor do Mundo" e o outro é o "Jogos Africanos". "Ambos usam a diversidade desses jogos, que são lúdicos e ajudam no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Nesses três anos dos projetos, a situação no colégio melhorou muito. Todos que participam precisam ter bom comportamento e boas notas. Isso incentiva as crianças a melhorar e combater a violência dentro do colégio".
Palestras inibem conduta agressiva
Uma
aluna da escola Inês Maroja, que tem 34 anos e faz o 4ª ano, conta que
as palestras e essa parceria da diretoria com a comunidade e a polícia
inibem o comportamento agressivo de estudantes. Ela prefere não ser
identificada e conta que nunca enfrentou problemas no colégio, mas tem
muitos amigos que enfrentaram. "Conheço muita gente que briga na escola
por besteira. Aqui não correu muito, mas tenho vários relatos de
confusões em outras instituições. Procuramos sempre orientar esses
estudantes a não fazerem isso. Seria muito bom se tivesse sempre
palestra", diz.
Ela conta que por ser mãe também se preocupa com os estudantes, principalmente com os filhos. "Nós, pais, fazemos tudo pelos filhos. Mas os filhos acabam perdidos pelo mundo. O filho, quando pequeno, vê o pai e a mãe fumando e se vê nesses ambientes, quer fazer o mesmo. Os meus filhos não têm problema, porque eu não fumo e não bebo. No entanto, o meu mais velho estava se perdendo. Ele saía com os amigos e eu ficava preocupada. Nós pais estamos sempre preocupados com os filhos. Quando sabemos é tarde demais. Meu filho não usa droga, mas começou a sair com pessoas que usam drogas. Ele foi se afastando de mim e tendo problemas na escola. Chegou a um ponto que tive que dar um basta e mostrar a realidade para ele, para dar um ponto final. Eu falei que no colégio tinha um projeto e chamei ele para vir aqui", acrescentou.
"Ideia é tentar trazer paz para a escola"
O
administrador escolar da Inês Maroja, Sergenson Fernandes Nascimento,
comenta que a escola melhorou muito desde as palestras. "A escola é
municipal e atende educação infantil até o 9º ano. Estamos felizes com o
projeto, porque nossa realidade exige esse tipo de trabalho para
combater a violência na escola. São alunos de até 17 e 18 anos. Hoje não
temos identificação de usuários de drogas, mas sim com a violência, que
combatemos aqui dentro. Alunos que têm predisposição de serem violentos
sem nenhum tipo de motivo aparente. Isso traz uma preocupação grande
para a escola", comenta.
A
escola Inês Maroja, comenta o administrador, tem vários tipos de
atividades que combatem a violência. "As palestras e outros projetos
servem para complementar uma ação que é da escola. A escola também
completa uma ação que é da família. A família pensa que o aluno vindo
para a escola já é feita parte dela. Mas não é assim. Às vezes, o aluno
nem vem para escola e quando vem pode trazer problemas, ser violento,
agir de maneira inadequada".
Ele explica que não há registros de brigas na escola, mas fora dela muitos alunos entram em situação de risco. "Os alunos comentam que o irmão foi preso, usa droga, foi morto pelo tráfico ou por cometer algum crime. Nós temos uma aproximação grande com a PM em relação a segurança. Sempre vamos em frente para tentar melhorar a situação de vida dos alunos. A ideia é tentar trazer paz para a escola. Aqui tem esporte para a comunidade. Tudo com a finalidade de evitar a violência. Nós cobramos boas notas do alunos, a frequência no colégio e nas aulas, além do bom comportamento".
Fonte: Amazônea