A minha filha é adolescente e, ultimamente, fica muitas vezes
perturbada e introspectiva depois de usar o computador ou o telemóvel.
Para tornar tudo pior, começou a recusar ir à escola. Ela não quer falar
comigo nem com o pai sobre o que é que se anda a passar. Será que está a
ser vítima de cyberbullying e, se estiver, o que é que podemos fazer
para ajudar?
Os seres humanos andam a fazê-lo uns aos outros desde o tempo em que vivíamos em cavernas. Nas escolas há bullying desde que a primeira foi construída. O bullying é tão comum que é quase impossível encontrar alguém que não o tenha presenciado, tenha sido vítima dele ou que o tenha exercido.
Infelizmente, graças à tecnologia, os opressores podem fazer o seu trabalho sujo 24 horas por dias, sete dias por semana, a partir de qualquer ponto do planeta. Os especialistas calculam que metade dos alunos do ensino básico e secundário tenham sido vítimas de cyberbullying pelo menos uma vez e destes, um quarto sofreram-no regularmente. As más notícias são que, quando o bullying acontece online, é mais provável que seja feito em grupo e menos provável que alguém faça algo para o impedir.
O cyberbullying pode tomar muitas formas. Perseguir deliberadamente a vítima é só o princípio. Os bullies podem criar falsos perfis em redes sociais, começar rumores e publicar fotografias embaraçosas que denigrem o visado, conteúdos que depois receberão “likes” e serão reencaminhados e partilhados até ao fim do mundo - os cyberbullies são rápidos a utilizar as novidades tecnológicas em seu proveito. Há aplicações para smartphones que permitem aos bullies publicar os nomes dos seus “inimigos” no Facebook para que toda a gente os possa ver, fazer scan de fotos das vítimas e pontuá-las numa escala de 0 a 100 de fealdade, mandar mensagens de telemóvel anónimas e muito mais (não vou mencionar os nomes dessas aplicações, não faz sentido estar a dar novas ideias aos bullies).
Uma rapariga tem tantas probabilidades de ser vítima de bullying (ou de o exercer) quanto um rapaz. No entanto, há diferenças entre os dois sexos. Enquanto os rapazes fazem mais ameaças físicas, as raparigas espalham boatos (o que, na minha opinião, acaba por ser mais prejudicial já que a Internet possibilita levar essas mentiras muito longe).
As consequências podem ser desastrosas. Ser vítima de cyberbullying pode originar problemas de ansiedade e depressão, recusa em ir à escola, mau desempenho escolar, isolamento social e, em casos extremos, pode mesmo levar ao suicídio.
Daí que a resposta mais curta para a sua pergunta seja: Sim, muito provavelmente a sua filha estará ser vítima de bullying online. E sim, há muitas coisas que a família pode fazer para a ajudar. Ficam aqui algumas ideias:
- Mude o computador para uma zona mais social da casa, como a sala por exemplo, para que a possa ter debaixo de olho e aumentar as suas hipóteses de perceber o que se anda a passar;
-
Continue a tentar que ela fale consigo. Seja compreensiva, solidária e
amiga. Oiça sem julgar e ofereça-se para ajudar. Mas não faça demasiada
pressão. Ela pode recear que envolvê-la a si só vá piorar a situação;
-
O bem-estar e a segurança dela sobrepõem-se à sua privacidade. Diga à
sua filha que está preocupada com ela e que pode precisar de rever as
actividades dela online;
-
Encoraje-a a não responder. Responder com mensagens ou e-mails tipo “deixa-me em paz” só vai alimentar a fogueira, mostrando ao bully que encontrou um ponto fraco;
-
Desligue-lhes a tomada. A sua filha pode “desamigar” essas pessoas,
deixar de as seguir no Twitter e bloquear mensagens e chamadas dos
números que a andam a assediar;
-
Denuncie-os. O Facebook, o Twitter e outras redes sociais afirmam levar a sério as queixas de bullying. Informe a direcção da escola da sua filha do que se está a passar e, se for preciso, faça uma queixa à polícia;
-
Não apague nada. Guarde os e-mails, fotografias e mensagens para que os responsáveis possam fazer o seu trabalho.
Exclusivo Público / McClatchy-Tribune News Service
Fonte: Público de Portugal
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