Lucas Carvalho*
Vanessa Bencz foi vítima de bullying por boa parte da infância na escola. Portadora de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), a jovem era chamada de “burra”, “lixo”, “desperdício de oxigênio”, entre outros apelidos, graças às notas baixas em consequência da distração. Hoje, formada em jornalismo e autora de dois livros, ela lança uma história em quadrinhos sobre os desafios que enfrentou até a adolescência e espera ajudar outras pessoas a superar os mesmos obstáculos.
Crédito:Divulgação
Vanessa Bencz escreve a HQ com ilustrações de Fabio Ori e Denny Fischer
“A Menina Distraída”, HQ escrita por Vanessa e ilustrada por Fabio Ori e Denny Fischer, conta a história de Leila, uma menina de 14 anos que sofre com a perseguição dos colegas de escola. Por conta da distração, ela não consegue prestar atenção nas aulas e preenche seu tempo desenhando as folhas do caderno durante os discursos do professor. Para desafiar o bullying, ela se inspira na super-heroína que criou, a Mulher Raio, para superar seus desafios pessoais.
Vanessa, que é autora dos livros “Relato do Sol” e “Memórias de uma jornalista distraída”, há anos visita escolas de Santa Catarina para dar palestras sobre bullying. “Eu percebi que esse é um tema ainda muito vivo, que crianças e adolescentes ainda precisam falar muito sobre isso. Um dia, uma professora chegou para mim e disse: ‘Por que tu não faz um livro sobre isso? Algo não muito infantil e nem muito adulto, algo meio-termo para adolescentes’. Nós não temos quase nada no mercado”, explica a jornalista.
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HQ foi produzido com financiamento do Catarse
Assim surgiu a ideia de uma história em quadrinhos que alertasse para a questão. Através do Catarse, uma plataforma online de financiamento coletivo, Vanessa conseguiu arrecadar mais de R$ 20 mil para a produção da obra, que teve lançamento oficial na última sexta-feira (12/12), em Joinville (SC). Para adquirir um exemplar, basta mandar um e-mail para vbencz@gmail.com. No site oficial da HQ, é possível também fazer o download gratuito do primeiro capítulo.
“Quando era criança, eu tinha o sonho de lançar uma história em quadrinhos. Eu sempre quis ser desenhista, mas uma vez um professor me zoou na frente de todo mundo. Ele falou que, no máximo, eu seria uma cartazista de supermercado”, relembra a jornalista, que comemora o número surpreendente de apoiadores e de vendas. “A recepção tem sido a melhor possível!”
O preconceito
Vanessa diz que o TDAH continuou sendo um insistente obstáculo mesmo após o colégio, na faculdade de jornalismo e no mercado de trabalho. “É muito difícil a convivência [com pessoas que não têm TDAH]. Eu sou uma pessoa com um grau muito alto de distração. Quando eu vejo, já estou com tudo desorganizado. Isso já me prejudicou muito, já fui demitida… “, lembra.
Até mesmo o trabalho como palestrante é mais difícil para Vanessa, que diz ter um discurso verbal desorganizado. “Para jornalista, é um problema muito grave. Na entrevista, uma pessoa começa falando e você começa a ‘viajar’. Ela termina de falar e… você não prestou atenção em nada”, lamenta. Para se manter funcional, a autora admite que sem remédios específicos para seu nível de TDAH, ela estaria “frita”. “Não ia ter história em quadrinhos!”, brinca.
Vanessa afirma que a imprensa precisa dar destaque à questão do bullying e que o cenário atual nas escolas não é exagerado. “A situação só está como está porque a gente não fala o suficiente. Todos os dias chega para mim relato de gente que foi humilhada, agredida e até chegou a tirar a própria vida. É muito grave. As escolas devem colocar a mão na consciência e perceber que estão sendo irresponsáveis e negligentes. Cada um tem que entender a importância do respeito ao próxima e da tolerância com as diferenças”, finaliza.
* Com supervisão de Vanessa Gonçalves
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