Para Cris Cyborg, bullying de Dana é parte do passado: "Não guardo rancor"

Campeã peso-pena do Invicta FC diz que sempre tentou desmerecer críticas, focando em um ponto positivo: "Nunca respondi à altura do que eles mereciam escutar"

Por Adriano Albuquerque, Marcelo Barone, Marcelo Russio e Raphael MarinhoDireto de Curitiba

Cyborg: "Sempre fui atleta, sempre fui grande, mais bruta do que as outras meninas e isso me faz a lutadora que eu sou" (Foto: Jason Silva)

Na noite deste sábado, Cris Cyborgfinalmente fará a sua estreia no octógono do UFC. A brasileira, que aos 30 anos tem um cartel de 15 vitórias, uma derrota e um "no contest" chega ao UFC 198, em Curitiba, como uma das principais estrelas do card.

Mas nem sempre foi assim. Antes de entrar no Ultimate, Cris sofreu muitas críticas e foi vítima de preconceito até pelo presidente do UFC, Dana White.

Em 2014, durante um bate-papo com jornalistas, o chefão ridicularizou a curitibana, imitando até o seu jeito de andar e dizendo que ela parecia o "Wanderlei Silva de saias". O episódio de bullying foi um dos muitos sofridos pela lutadora durante a sua carreira, mas ela conta como superou todo o preconceito para conseguir, finalmente, lutar na maior organização de MMA do mundo:

- Quando você aceita que a pessoa te fale alguma coisa, você aceita o bullying. Então, todas as vezes que o Dana White ou Ronda falavam de mim coisas como:  “Ah, ela é igual homem”, eu pensava: “Pode ser que eles falem isso porque eu luto igual homem”. Eu tentava inverter o que eles falavam de mim para o lado bom. Se eu não os incomodasse, eles não falariam de mim. Eu estava ali como uma pedra no sapato deles, então tentava inverter o lado ruim. Sempre tento fazer isso na minha carreira e acho que você sofre menos, você absorve mais, aprende mais, evolui mais e, por isso mesmo, eu nunca respondi à altura que eles mereciam escutar. Eu sempre falei que não tinha nada para dizer, que resolveria dentro do octógono, porque sabia que esse dia iria chegar. Um dia eu ia estar no UFC e teria que dividir uma sala com o Dana White, e quando você fala uma coisa, não tem como voltar atrás. Por isso, eu sempre disse que você tem que pensar bastante antes de falar. É por isso que a gente tem dois ouvidos e uma boca…mas não muda. Eu não preciso chegar e pedir desculpa para ninguém, a pessoa vai se tocar e ver que fez errado. Mas isso é só mais um obstáculo, um desafio para mim. Sempre fui atleta, sempre fui grande, mais bruta do que as outras meninas e isso me faz a lutadora que eu sou, não é comum, é uma característica boa para o esporte - declarou a curitibana em entrevista ao Combate.com.

Cris Cyborg: "As pessoas me consideravam a melhor lutadora do mundo, mas eu não estava no melhor evento. Então, eu não podia ser a melhor lutadora do mundo" (Foto: Jason Silva)

Cris garante que superou as mágoas do passado, mas explica que não chegou a conversar com Dana depois de contratada pela organização. Toda a negociação para que ela lutasse pela companhia foi feita apenas com Lorenzo Fertitta, um dos donos da organização.

- Não…quando eu negociei com o UFC, ele (Dana White) não estava na sala, foi só o Lorenzo Fertitta. Para você ver que não teve…e nesse dia eu consegui abrir tudo o que eu passei para eles ali e acho que eles sentiram, porque na verdade eles nunca me conheceram, nem de conversar. É diferente de você jogar uma pessoa dentro do octógono para lutar, porque as pessoas me consideravam a melhor lutadora do mundo, mas eu não estava no melhor evento. Então, eu não podia ser a melhor lutadora do mundo. Mas você não precisava desmerecer ou humilhar outra atleta para você fazer a sua atleta crescer. Eles tinham toda a mídia para que a atleta deles pudesse crescer e eu achei isso muito baixo. Mas, superamos, estou aqui agora, isso só me fez crescer como atleta, como pessoa, amadurecer…Estou com 30 anos e não guardo rancor de ninguém. Vou fazer o meu papel na luta e fazer todo mundo ver quem eu sou.

O jeito tímido e a fala mansa da brasileira fora do octógono nem de longe lembram o híbrido de homem e máquina de seu apelido. E ela conta que muitas pessoas confundem a sua profissão com o jeito que é no dia a dia.

- Muitas pessoas vem falar comigo e dizem que sou gente boa. Será que elas acham que eu cumprimento alguém e já vou dando soco (risos)? A galera vê a minha luta e acha que eu sou brava. Às vezes me perguntavam se eu era russa, porque me viam meio fechada, mas a galera meio que te julga como você é no octógono, não te diferencia. Aos poucos as pessoas vão me conhecendo mais.

O UFC 198, neste sábado, está previsto para começar às 19h30 (horário de Brasília), com a primeira luta do card preliminar. O Combate.com fará a transmissão em tempo real do UFC 198 com todos os detalhes, e o Combate transmitirá todas as lutas ao vivo.

UFC 198
14 de maio de 2016, em Curitiba (PR)
CARD PRINCIPAL (a partir de 23h de Brasília):
Peso-pesado: Fabricio Werdum x Stipe Miocic
Peso-médio: Ronaldo Jacaré x Vitor Belfort
Peso-casado (até 63,5kg): Cris Cyborg x Leslie Smith
Peso-meio-pesado: Mauricio Shogun x Corey Anderson
Peso-meio-médio: Warlley Alves x Bryan Barberena
CARD PRELIMINAR (a partir de 19h30 de Brasília):
Peso-meio-médio: Demian Maia x Matt Brown
Peso-médio: Thiago Marreta x Nate Marquardt
Peso-galo: John Lineker x Rob Font
Peso-meio-pesado: Rogério Minotouro x Patrick Cummins
Peso-leve: Francisco Massaranduba x Yancy Medeiros
Peso-meio-médio: Serginho Moraes x Luan Chagas
Peso-pena: Renato Moicano x Zubaira Tukhugov