É
grande o desafio que os educadores têm encontrado em relação aos
episódios de violência nas escolas, na sua maioria públicas. Todavia,
com manifestações diversas como indisciplina, vandalismo, bullying e
brigas entre pares e até com a equipe escolar. Os professores mais
antigos sentem uma espécie de saudosismo de outras épocas, quando era
muito mais fácil e prazeroso trabalhar com alunos.
No entanto, não podemos esquecer que educação é histórico-cultural e muda conforme o rumo da história e a sociedade em quese vive, não sendo nunca a mesma, principalmente na sociedade da informação e conhecimento, na era tecnológica em que vivemos. Por isso mesmo, a indisciplina e suas decorrências violentas podem estar indicando o impacto do ingresso de um novo sujeito histórico, com novas demandas e valores, numa ordem arcaica e despreparada para absorvê-lo totalmente, incapaz de acompanhar as transformações concretas do perfil de sua clientela. A partir desse ponto de vista, a indisciplina, a violência passaram, então, a ser a legítima força de resistência e produção de novos significados e funções à instituição escolar. Vê-se que é impossível pensar nas supostas qualidades de um educação de antigamente: escolarização já é exercício de cidadania. Não podemos deixar de lado que o que a escola tem de permanente, isto é, que resistiu aos embates do tempo é o clássico, ou seja, a função da escola é a transmissão-assimilação do saber históricamente acumulado, o saber sistematizado. Existe também um outro enfoque: os alunos não aprenderam limites na educação em família, os pais não os imporiam, a escola não os ensinaria, a sociedade não os exigiria, a televisão os sabotaria, etc. Todavia, numa análise mais profunda, vemos que há uma crise geral de projetos, de sentidos para as coisas, tanto institucional quanto pessoal, tanto ideológico quanto sócio-político-cultural. Na escola, esta crise se manifesta de muitas formas, mas com certeza uma das mais difíceis de enfrentar é a absoluta falta de sentido para o estudo por parte dos alunos. Estamos vivendo a queda do mito da ascensão social através da escola! Hoje, os alunos continuam não vendo sentido nas práticas das salas de aula e não vislumbram mais um futuro promissor pela via do diploma. Esse estouro da violência nas escolas é, com certeza, um sinal que precisa ser decodificado, entendido.Por outro lado, tudo está acontecendo justamente no momento em que os professores estão submetidos às mais desfavoráveis condições de trabalho, má formação, número excessivo de alunos em sala de aula e desvalorização da profissão. Há também uma visão ingênua de colocar a solução dos problemas educativos na máquina. No entanto, a quetão se refe- re à mudança de método para o ativo e interativo, onde a relação dialógica, dialética entre professor/aluno é fundamental que devem ser pautadas pela confiança, solidariedade e respeito. Mas isso pode acontecer num ambiente escolar, com carteiras dispostas em fileiras e o professor à sua frente, detentor do saber? Certamente que não, pois o mundo mudou, a sociedade mudou, mudamos nós e a escola continua do mesmo jeito? Enfim, as crianças e os jovens, principalmente os pobres, desejam uma escola onde consigam aprender, mas que também seja um espaço agradavel, onde possam encontrar amigos, ouvir música, serem ouvidos, ou seja, a equipe escolar precisa conhecer sua clientela, construindo um ambiente adequado às sua características e inteesses e não um espaço de indiferença, passividade e, sobretudo, um espaço de encontro, de identificaçãoe de pertencimento. Para aqueles preocupados com a problemática da indisciplina, a violência nas escolas, o aprofundamento das discussões exige, sem dúvida, um recuo estrátégico de pensamento. Este momento histórico-cultural não requer que o aluno permaneça estático, calado, obediente. O trabalho do conhecimento, pelo contrário, implica inquietação, o desconcerto, a transgressão. A questão fundamental está na transformação dessa turbulência em ciência, desta desordem em uma nova ordem. Leda Fernandes Michellão - pedagoga |
Fonte: JC Net
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