74% dos profissionais já sofreram a violência nas escolas, aponta Apeoesp.
Especialista da UFSCar acredita que é preciso envolvimento da sociedade.
“Já pensei em parar de dar aula várias vezes”. Essa é a afirmação da professora de sociologia Ana Luiza Siqueira que já foi vítima de agressões verbais por parte de alunos na rede pública de São Carlos (SP). Uma pesquisa do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) mostra que 74% dos profissionais já sofreram esse tipo de violência nas escolas. Para a categoria, a profissão está desmoralizada.
Ana sempre se emociona ao lembrar das dificuldades enfrentadas com os alunos. Ela conta que as agressões verbais são as mais comuns. “Nós não temos uma equipe preparada para lidar com tantas situações de violência. O aluno é a maior vítima dessa violência. Eles se maltratam, se agridem, nos maltratam e nos agridem. O aluno acha que pode te xingar, te ofender, te desrespeitar, porque você é feia, porque você é bonita, velha, nova, homem ou mulher. Quando a gente chama os pais, a gente se depara com histórias terríveis de vida”, afirmou.
Ainda segundo a professora, é preciso discutir que tipo de escola a sociedade quer. “Eu não sei qual é o caminho, mas precisamos escolher um caminho para atingir esse objetivo. Estou em greve porque não estou satisfeita com minhas condições de trabalho. Acho que a bandeira, antes de salário e de tudo, tem que ser condições de trabalho”, destacou.
Pesquisa
A pesquisa do sindicato foi feita entre janeiro e março deste ano com 1,4 mil professores. A agressão mais comum citada por eles é a agressão verbal (74%), seguida de bullying (60%), vandalismo (53%) e agressão física (52%).
A pesquisa do sindicato foi feita entre janeiro e março deste ano com 1,4 mil professores. A agressão mais comum citada por eles é a agressão verbal (74%), seguida de bullying (60%), vandalismo (53%) e agressão física (52%).
Ao todo, 44% afirmaram já ter sofrido algum tipo de violência na escola em que lecionam. Os principais tipos de violência citados são agressão verbal (39%) e assédio moral (10%).
9% dos professores disseram que ameaças e bem pessoal danificado por alunos são comuns. Além disso, três em cada 10 professores afirmam ser comum presenciar tráfico de drogas ou alunos sob efeito de bebidas alcoólicas nas escolas. 40% ainda disseram que não existe nenhum tipo de campanha nas escolas para combater a violência.
Apesar disso, a diretoria regional de ensino de São Carlos afirmou que o estado tem alguns programas na rede de ensino, alguns, inclusive, com a participação da família dos alunos. “O objetivo é integrar família e escola, porque nós sabemos que ambos têm o mesmo objetivo, a educação da criança e do jovem. A família uma educação informal e a escola uma educação formal. Quando ambos se conscientizarem da importância dessa parceria, a educação vai chegar próxima da excelência da qualidade”, afirmou a coordenadora do núcleo pedagógico da diretoria, Mara Silvia de Souza.
Profissão desmoralizada
Para Ronaldo Mota, representante do conselho estadual da Apeoesp, a profissão de professor está desmoralizada e a pressão enfrentada em sala de aula reflete na saúde. “É impressionante, nesses três últimos anos principalmente, o aumento dos professores que se afastam porque sentem essa pressão em sala de aula”, afirmou.
Para Ronaldo Mota, representante do conselho estadual da Apeoesp, a profissão de professor está desmoralizada e a pressão enfrentada em sala de aula reflete na saúde. “É impressionante, nesses três últimos anos principalmente, o aumento dos professores que se afastam porque sentem essa pressão em sala de aula”, afirmou.
É o caso da professora de filosofia Gisele dos Santos. Ela está afastada do trabalho há 30 dias com depressão e síndrome do pânico. “Eu penso no trabalho, penso na escola e começo a chorar muito. Eu empurrei essa situação por dois anos”, disse.
A coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência da Universidade Federal de São Carlos (UFScar), Lucia Williams, acredita que para diminuir os índices de violência é preciso envolvimento de toda a sociedade. “Comunidade escolar, profissionais de saúde, conselho tutelar, todo mundo integrado, até a polícia para estar monitorando as questões que ocorrem no entorno da escola. Os pais precisam aprender a colocar limites e trabalhar o comportamento moral”, afirmou.
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