sexta-feira, 24 de maio de 2013

Bullying em Krypton

Por Ilan Brenman

Palavrórios e Rabugices_bullying (Foto: Ana Luiza Carvalho)
Um menino franzino nos Estados Unidos da década de 30 do século passado está de mão levantada na sala de aula de sua escola:
– O que foi? – perguntou a professora.
– Estou apertado, preciso ir ao banheiro – responde o menino, com ar de desespero.
A professora não permite que o garoto saia. Resultado: ele não suporta e faz xixi nas calças! A turma inteira tira o maior sarro do acontecimento. A humilhação e o constrangimento prosseguem por um bom tempo.
O menino adora histórias em quadrinhos, tem uma imaginação fértil e, com o lápis na mão, começa a imaginar um herói invencível. Essas histórias vão aliviando sua dor e dão esperança para um futuro melhor. Nessa jornada, aparece outro menino vindo do Canadá, também sofredor de perseguição na escola. Os dois, Joe Shuster e Jerry Siegel, se tornaram grande amigos e, juntos, criaram um dos super-heróis mais famosos do mundo: o Super-Homem.
Não se sabe se essa história é real ou não, mas ela serve para uma reflexão sobre o bullying. É interessante notar que, muitas vezes, é dos sentimentos de humilhação e constrangimento que podem nascer super-heróis. Temos muitos exemplos de pessoas que usaram o sofrimento como uma fonte rica para superar seus traumas, o bullying não é o bicho de sete cabeças que pintam por aí. É evidente que cada pessoa é uma pessoa, existem reações diferentes quando nos deparamos com as adversidades da vida.
Lembro de um programa que assisti sobre um rapper brasileiro famoso. Ele falava sobre o bullying que havia sofrido na escola. Enquanto seus amigos jogavam bola na quadra, ele era ignorado por todos e ficava sozinho com um caderno na mão escrevendo suas rimas. Ou seja, aquilo formou o rapper, aquele sofrimento produziu um artista em contato com sua criatividade, o isolamento o ajudou naquele momento. No caso dele, o resultado foi positivo e só pôde ser reconhecido anos depois.
O bullying causa sentimentos de infelicidade. Para alguns isso pode desencadear efeitos devastadores, porém, para outros, pode propiciar experiências transformadoras – isto é, para superar o que ocorreu, tais pessoas vasculham e encontram nas suas almas uma força que elas nem sabiam que existiam. A partir dessa descoberta, vão correr o mundo para se tornarem heróis do seus destinos.
   Blindar a infância e a juventude desses sofrimentos é praticamente impossível. A vida penetra no ser humano sem aviso prévio, devemos ficar atentos a esses acontecimentos e compreender que, muitas vezes, eles mais fortalecerão nossos filhos do que os enfraquecerão.
 *Este texto faz parte da coluna Palavrórios e rebugices da edição 234 (Maio de 2013) da revista CRESCER
Ilan Brenman (Foto: Felipe Gombossy)

Ilan Brenman
 é doutor em educação e um dos principais escritores de literatura infantil do Brasil, é pai de Lis, 9 anos, e Íris, 6. E-mail: crescer@ilan.com.br 

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