domingo, 12 de maio de 2013

Para tentar conter crimes e vandalismo, governo instala câmeras em quase 600 escolas da rede estadual de São Paulo


Ação faz parte do Sistema de Proteção Escolar e terá custo anual de R$ 7 milhões

Do R7*
http://i2.r7.com/escola-estadual-zona-leste-450x338.jpgHÉLVIO ROMERO/Agência Estado - 16/02/2009
Atualmente, 1.567 escolas da rede estadual já possuem câmeras de monitoramento


O governo do Estado de São Paulo vai instalar câmeras em 597 escolas e em oito sedes de diretoria de ensino da rede pública. O objetivo é preservar o patrimônio público e tentar inibir o vandalismo e até mesmo ações criminosas. A ação faz parte do Sistema de Proteção Escolar e terá custo anual de R$ 7,65 milhões. Atualmente, 1.567 escolas já têm este sistema de vigilância.

Pais, alunos e educadores entendem que o momento talvez seja adequado para este tipo de monitoramento, e que a aplicação do sistema não represente necessariamente uma invasão à privacidade dos alunos das escolas que já têm e das que vão receber o equipamento. 

Aluno do primeiro ano do ensino médio, Erik Oliveira Nascimento, de 15 anos, não demonstra qualquer tipo de incômodo quanto ao monitoramento nas escolas. Para ele, a possibilidade de ter o registro de alguma ação criminosa pode ser positiva. 

— Não tenho nada contra ter câmeras na escola, seria bom pra ajudar quando acontecesse alguma coisa. Teria uma prova. 

A opinião é acompanhada pela mãe de uma aluna da rede estadual de ensino. Regina Célia da Cruz Santos defende a instalação das câmeras porque “infelizmente, tem aumentado o número de violência nas escolas, não só de alunos mas também entre alunos e professores”. 

— A câmera nos dias atuais é realmente uma forma de proteção. Sou a favor sim de câmeras dentro da sala de aula. Só não no banheiro.

Em março passado, um garoto de 14 anos foi detido em uma escola em São Luís, no Maranhão, com um revólver calibre 38 carregado na mochila. Segundo a Polícia Militar, o adolescente usou a arma para roubar o celular de um colega.

No último dia 30, durante uma briga, uma adolescente de 17 anos esfaqueou um colega da mesma idade dentro de uma escola da rede estadual de ensino em Ribeirão Pires, na Grande São Paulo. A menina diz ter sido alvo de preconceito por ser negra e nordestina. O garoto continua internado em um hospital da cidade.

Também no interior de São Paulo, um menino fraturou o nariz em uma briga dentro da sala de aula em uma escola estadual. Uma aluna informou que comentários racistas teriam motivado a agressão.
A psicóloga Celi Piernikarz afirma que a medida de proteção é importante nas escolas por ser um espaço que agrega muitas crianças e adolescentes. Para ela, o monitoramento não constrange os alunos.

— Eu não vejo problema algum ter este esquema de segurança. Conforme o tempo [passa], as câmeras passam a ser algo natural na rotina das escolas. Os alunos até esquecem que existe uma vigia.

Para Celi, o acesso às imagens possibilita rever e analisar conforme casos de violência externa e o comportamento dos alunos dentro das escolas.

Bom, mas não o suficiente

Professora de geografia e ex-gestora municipal, Márcia Gallo acredita que o monitoramento oferece vantagens às escolas. Ela defende, no entanto, a necessidade de implantar outros métodos educacionais com os alunos que trabalhem pela redução da violência e do vandalismo.

— É um recurso favorável. Mas as escolas devem fazer um trabalho de conscientização com os alunos, criar medidas que favoreçam a conscientização, a educação em relação à responsabilidade e à disciplina.

Por ter trabalhado em escolas que utilizavam câmeras de segurança, Márcia afirma que o monitoramento favorece o trabalho dos funcionários.

— Além da violência em horário de saída, há muitos atos de indisciplina dentro das escolas. Desta forma, utilizávamos [as imagens] como provas de acordo com os atos dos alunos.

Sem sucesso

Uma experiência vivida por uma professora há 15 anos em uma escola da zona norte de São Paulo não obteve o resultado esperado. Segundo Rosa Baldan, hoje aposentada, o equipamento não apenas não conteve as ações criminosas como foi alvo delas.

— Há 15 anos, colocaram câmeras na escola onde eu trabalhava, não deu certo. Na primeira semana, as câmeras que ficavam no pátio e nos corredores foram roubadas. Levaram também os equipamentos, como monitores, por isso nunca se soube quem foi. [O roubo] Aconteceu durante a noite de um fim de semana.

Rosa conta que as gravações não geraram problemas em relação aos professores, mas que alguns alunos se sentiam incomodados.

— Não reclamaram diretamente para coordenação, mas falavam para os professores. Já os pais nunca reclamaram.
Em entrevista ao R7 em abril deste ano, o coordenador do Sistema de Proteção Escolar, Felippe Angeli, informou que a Secretaria de Educação do Estado não tem uma ferramenta de estatística sobre índices de violência nas escolas.

— O ROE (Registro de Ocorrências Escolares) que existe desde 2009 é apenas uma ferramenta online em que os diretores registram atitudes como pichação no banheiro, o que não deve ser tratado como violência escolar. Atualmente temos professores mediadores em escolas do Estado, eles são treinados para mediar possíveis conflitos.
*Colaboraram Carla Torres e Jéssica Rodrigues, estagiárias do R7

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