domingo, 19 de maio de 2013

Caminhos para superar a violência nas escolas


Por Alessandra Moura Bizoni - alessandra.bizoni@folhadirigida.com.br
Ilustrado pela pesquisa “Violência nas escolas — O olhar dos professores” — realizada pelo Instituto Data Popular a pedido da Apeoesp, o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo —, o quadro de violência que assola a rede pública de São Paulo não é muito diferente da realidade das instituições de ensino das regiões Sul e Sudeste do país.

Divulgado na semana passada, o levantamento ouviu 1.400 dos 230 mil profissionais de ensino da rede pública de São Paulo e constatou que 44% dos educadores já sofreram algum tipo de violência em sua unidade escolar. Dentre as vítimas, 39% disseram ter sofrido agressão verbal, 10% assédio moral, 6% bullying e 5% agressão física.

Na avaliação de especialistas, os professores do Rio de Janeiro enfrentam problemas similares que acabam afastando-os da carreira, seja por motivos de saúde, seja por medo de uma rotina de insegurança.

Representante da União dos Professores Públicos no Estado (Uppe-Sindicato) no Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro (CEE/RJ) e vice-presidente do colegiado, Raymundo Nery Stelling observa que, muitas vezes, as escolas estão inseridas em comunidades cuja realidade é bastante violenta e, de algum modo, esse padrão se reproduz no ambiente escolar.

Segundo o estudo apresentado pelo Instituto Data Popular, dentre os profissionais entrevistados, 42% disseram ter presenciado alunos sob efeitos de drogas, 29% afirmaram ter observado os estudantes alcoolizados e outros 29% informar que há tráfico de drogas nas escolas.

O crescimento urbano desordenado e um elenco de carências sociais são fatores que agravam esse cotidiano de violência para o qual o professor, de acordo com Raymundo Nery Stelling, não foi preparado. “O professor não foi preparado para lidar com violência desse porte. Tudo isso é um grande reflexo de um modelo social que não contempla todos de forma igualitária. Diante desse cenário, o professor precisa se tornar um embaixador dessas realidades, coordenando pensamentos distintos e respeitando a diversidade dos grupos atendidos. Tudo isso exige um estudo maior por parte dos docentes e um grande equilíbrio emocional”, explicou o vice-presidente do colegiado.

O representante da Uppe-Sindicato no CEE/RJ observou, ainda, que esse cenário complexo de violência no ambiente escolar acaba afastando profissionais das redes públicas. “O quadro descrito na pesquisa contribui para o afastamento dos profissionais, seja por motivos de saúde, pois, diante desse cotidiano estressante, muitos adoecem; seja por exoneração, uma vez que os profissionais acabam se assustando com esse contexto de agressões e violência”, acrescentou o educador.

Por outro lado, Antônio Rodrigues, vice-presidente do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro (Sinpro-Rio) e representante da entidade sindical no CEE/RJ, argumenta que a violência no ambiente escolar é sinal de que a escola não consegue oferecer um ensino de qualidade.

“Não gosto desse discurso de professor como vítima da violência. O professor é uma classe empobrecida, que não tem oportunidade de fazer uma capacitação, de ler, de estudar para atender melhor seus alunos. Se há violência na escola, é porque a comunidade está sendo mal atendida. Há casos de Escolas do Amanhã, localizadas em comunidades carentes, em que não há casos de violência; pelo contrário, como o trabalho é bom, a comunidade participa, está presente”, analisa o sindicalista.

Representante do Sinpro-Rio no CEE/RJ, Antônio Rodrigues defende que a escola deve ser transformadora, de modo que os alunos por ela atendidos tenham condições de transformar a sua realidade. “Essa violência é resultado de uma escola que apenas reproduz um modelo mecanizado, que se importa em atender somente dados estatísticos, aplicando avaliações por competência. Se continuar com esse enfoque, vai continuar violenta, pois a instituição está inserida nas comunidades, absorvendo o que há de bom e o que há de ruim. A violência é subjacente à falta de serviços sociais, de bibliotecas, de cinemas”, assinala o docente.

O vice-presidente do Sinpro-Rio condena, ainda, a presença de policiais em unidades de ensino, prática adotada em 220 escolas da rede estadual de ensino. “A escola não precisa de polícia. Ela precisa se adequar ao processo intrínseco de formação do indivíduo. Quando a escola chama a polícia, atesta a sua incapacidade de transformação social, de fazer com que os alunos reflitam sobre a sua realidade”, completa o integrante do CEE/RJ.

Encomendada pela Apeoesp, a pesquisa analisou 1.400 casos em 167 cidades de São Paulo, entre 18 de janeiro e 5 de março deste ano.

Fonte: Folha Dirigida

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