segunda-feira, 27 de maio de 2013

Jovem cineasta mariliense prepara filme sobre bullying


“Muro que divide mundos” é o primeiro longa metragem de Murilo Guimarães. Para o elenco ele buscou atores profissionais como Edwin Luisi e José Trassi que apoiam o projeto

TALENTO - O jovem diretor mariliense, Murilo Guimarães - Foto: Paulo Cansini
Murilo Guimarães tem apenas 18 anos de idade, mas já prepara o lançamento de seu primeiro longa-metragem, “Muro que divide mundos”, com participação dos atores Edwin Luisi (Genaro, de Rebelde/Record; atualmente Tio Lili, de Sangue Bom/Globo) e José Trassi (o Luisinho, de Carandiru). O projeto da Vocação Filmes surgiu de observações do jovem em sala de aula. A ideia se ampliou, está em fase de finalização com previsão de estreia para o mês de dezembro.
“O foco é levar a reflexão sobre a questão do ambiente escolar que os jovens vivem hoje em dia. Abordar a consciência, ou a falta dela, sobre o tema do bullying é necessário”, enfatizou o ator José Trassi, em entrevista ao Jornal Diário.
A história de Murilo com o cinema começa na infância, com o pai fotógrafo. Ele começou a filmar aos 12 anos de idade e o irmão mais velho, Matheus, 23, que assina a assistência de direção de “Muros que divide mundos”, começou aos 14.
Matheus ficou três anos na Inglaterra e Estados Unidos, para intercâmbio e quando retornou, Murilo já estava com a ideia do filme.
Dentro da sala de aula na Escola Amilcare Mattei, Murilo conta que ficava observando as brincadeiras. O tema bullying logo o interessou. É uma questão atual e presente na rotina principalmente das escolas. “Comecei a pesquisar e não tem uma legislação específica, nenhum filme nacional que trate especificamente deste assunto, apenas curtas. Fui fazendo anotações em sala de aula e quando percebi tinha muita coisa e, transformei em um longa”, conta o jovem que desistiu da escola para se aplicar ao projeto, embora admita que isto não seria necessário.
Murilo trabalha na produção de “Muro que divide mundos” há um ano e meio. Ele já fazia contatos com os atores Edwin Luisi e José Trassi através das redes sociais. Trocavam informações e enviou o roteiro para Luisi que apoiou o projeto que o diretor considera pioneiro em se tratando de longa-metragem.
O jovem cineasta que também dirige um programa no Canal 9, com ação social que envolve ONGs e a Polícia Militar, virou madrugadas pesquisando o tema, assistindo documentários, lendo artigos e livros - ampliou o projeto que já surtiu interesse de grandes diretores e uma produtora nacional.
O filme foi gravado de novembro de 2012 a janeiro de 2013, mais nos finais de semana. Edwin Luisi e José Trassi gravaram nos dias 23, 24 e 25 de novembro em locações em cenário escolar, lojas e em um posto de combustível da cidade.
A distribuição, segundo Murilo Guimarães terá apoio de amigos no Rio de Janeiro e Florianópolis. Uma produção independente da Vocação Filmes está em fase de registro junto à Ancine (Agência Nacional do Cinema) e o cineasta já fala em alcançar a América Latina. (V.R)
VERA ROS
História se passa em Marília
A trama de “Muro que divide mundos” traz a história de Paulo (César Panuto), estudante do IEM (Instituto de Ensino Mariliense) que pratica bullying. É filho do mecânico Fábio (José Trassi) que não mede esforços para dar o melhor ao jovem.
Augusto (Edwin Luisi) é o diretor do colégio onde também estuda sua filha Lilian (Dalila Valente). Tem ainda os personagens Matheus (Matheus Sparapane), Pri (Leciane Pilla), amiga de Lilian e Fê (Felipe Gonçalves), amigo do Paulo. No total são 70 pessoas incluindo figurantes.
Paulo que sempre estudou no IEM, apesar das dificuldades do pai, não revela sua identidade pois se sente envergonhado com a situação da família. O que ganha trabalhando num posto de combustível, usa para manter as aparências e o mesmo nível social que os outros alunos. Por outro lado, Lilian também não revela que é filha do diretor do IEM.
“O Paulo e sua turma praticam o bullying e os pais não percebem. No filme tratamos da questão e também das diferenças sociais“, frisou Murilo Guimarães.
José Trassi destaca importância do projeto
Diário - Como tomou conhecimento do projeto “Muro que divide mundos”?
José Trassi - Fui contatado pela equipe de produção da Vocação Filmes, pela rede social, eles já conheciam meu trabalho e fizeram o convite. Me contaram um pouco do tema do filme, o que me interessou. Assim, aceitei.
Diário - Por que apostar no projeto? Qual o foco?
J. T. - O foco é levar a reflexão sobre a questão do ambiente escolar que os jovens vivem hoje em dia. Abordar a consciência, ou a falta dela, sobre o tema do bullying é necessário. Lembrando que o Bullying em si é apenas o efeito, a ponta do iceberg. A causa é bem anterior, relaciono ela à uma sociedade competitiva e violenta, que propaga a intolerância e a discriminação, que é feita apenas para gerar lucro as custas da criatividade e energia do homem. Isto desde sua raiz, infelizmente. Este é meu ponto de vista. Por isso apostar no projeto. Por que através da Arte é possível mudar a crença, expandir a consciência acerca do assunto. É mais eficaz do que criar leis, que só existem como admissão da impotência em resolver a questão.
Diário - Você diz que é um tema bem atual. Já enfrentou/vivenciou algum problema com o bullying? Como vê este problema?
J. T, - É atual por que o respeito, decorrente do medo da autoridade, que vivi nos meus tempos de escola, presente na figura do professor, por exemplo, não existe mais. O status do aluno rico ou o status pelo grau de periculosidade do aluno, hoje, o faz esquecer que está ali para aprender. É o famoso “eu pago seu salário!” ou “te pego lá fora”. Entre os alunos, pelo menos no meu tempo, a descriminação por tipo: gordo, magro, feio, negro, não era tão séria, ou acabava em morte. Até considero que era saudável para ajudar o jovem a criar alguma resistência, noção de defesa, uma vez que a escola é o ambiente que simula a sociedade. Eu sofri na 2ª série do ensino fundamental, quando uma freira do colégio que eu estudava por ser moreno, me descriminou. Nunca fui negro, quem me dera, mas já sofri preconceito racial. Saí do colégio e entendi ali, na marra, o que era a violência emocional. Hoje temos mais cuidado com esse tipo de violência, por isso até que cada vez mais coisas estão sendo entendidas como violência. É cultural... O que antes era normal, por estarmos evoluindo no entendimento dos direitos e no ambiente saudável para o homem viver, hoje é visto com outros olhos. O maior problema hoje é a banalização da violência, e os jovens são reflexos de seus pais, então se descriminam em sala de aula, aprenderam em casa, por que os pais provavelmente foram descriminados também e a corrente se estende até o início da história que nos foi contada.
Diário - O Fábio (personagem) parece ser um pai, como a maioria, que quer o melhor para o filho. Como ele é realmente?
J. T. - Fábio foi pai muito cedo, está aprendendo junto com o filho, de alguma forma. Quer o melhor por que sabe o que não quer, já cometeu os erros que não quer que o filho repita. E a forma de se comunicar muitas vezes é falha, e nisso ele reflete um dos maiores problemas que enfrentamos hoje em dia. Na era da comunicação, não sabemos nos comunicar. Temos tudo para disseminar a informação, mas a informação em si é comunicada de forma confusa, torta, desviada por crenças, medos e achismos...
Diário - O Fábio chega a perceber os problemas enfrentados pelo Paulo, ou está “cego” à esta realidade?
J. T. - No filme ele ainda está influenciado pela crença do jovem comum, que se forma parte em sala de aula, parte pelo processo de deixar de ser criança e ainda não ser adulto, de viver a fase da negação total para descobrir a própria individualidade... e isso é demonstrado pelas atitudes que já vivemos e vemos...de que os pais não entendem nada, de que está tudo errado mas não sabemos onde nem como melhorar...etc...
Diário - Que “lições” tirou desta experiência, com um diretor/roteirista adolescente (Murilo)?
J. T. - De que se você acredita, você realiza. E a realização é maior do que qualquer julgamento intelectual que não se realiza. O famoso, “não gostou? Então faça melhor...”
Admiro muito a iniciativa do Murilo, agradeço por fazer parte do sonho dele, que virou o sonho da família dele inteira. Exemplo de união. (V.R)
Edwin Luisi está em “Sangue Bom”
Depois de interpretar, nas duas temporadas de “Rebelde”, na Record, o divertido e generoso dono de bar, Genaro, Edwin Luisi está de volta à TV Globo e mostra que aquela história de que ‘quem saiu não volta’ é coisa do passado.
Se na novela da Record ele era um italiano gente boa, amigo de todo mundo – um personagem criado para ele pela autora Margareth Boury – na nova novela “Sangue Bom”, ele tem um perfil parecido. Tio Lili é um personagem “adorado e respeitado pela vizinhança, do tipo que toma partido dos amigos”. Em “Rebelde”, ele era descrito como “divertido, generoso, amigo de todo mundo”. Além disso, Edwin também circular por mais de um núcleo da novela. Ele contracena com Joaquim Lopes, o Lucindo e também com Renata (Regiane Alves) e Verônica (Letícia Sabatela), que tem ligação com o núcleo de protagonistas da trama de Maria Adelaide Amaral e Vincent Vilari.
Trassi começou na TV
José Trassi começou no programa “Sandy& Júnior” da Rede Globo. Fez alguns longas metragens, como “Os Inquilinos” de Sérgio Bianchi, “Boleiros 2”, de Ugo Giorgette , entre outros, e muito teatro em São Paulo. Recentemente se apresentou no Festival Internacional de Artes de Harare, no Zimbabwe, com a peça “The Box Woman’, o que considerou “uma experiência incrível”. Atualmente está escrevendo uma peça de teatro, finalizou como diretor e produtor o curta metragem “Conexão – Rio”, falado em francês e com uma atriz francesa no papel principal. Fez participações em séries, como a “Pedro & Bianca” da TV Cultura, e “3 Teresas”da GNT, entre outros projetos. Para o Diário ele falou sobre “Muro que divide mundos”.

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