A miss Barra Mansa 2012, Maíra Bullos, 22, resolveu dividir com os internautas um pouco de sua impressionante trajetória rumo aos concursos de beleza. Olha, dava para virar um filme bem emocionante, viu? Cata o lencinho aí antes de ler o post!
A jovem, que no ano passado disputou o Miss Rio de Janeiro 2012, vencido por Rayanne Morais, escreveu em seu blog sobre alguns dos obstáculos que teve que vencer para realizar seu sonho de ser uma rainha da beleza: obesidade, bullying, uma grave doença ocular e a oposição do namorado.
Os problemas de Maíra com a balança começaram, ironicamente, por ela ser muito magra quando criança. Aos 7 anos, era tão seca que a avó, desesperada, começou a entupir a menina de remédios para engordar, tudo às escondidas.
O resultado não demorou: aos 12 anos, Maíra já pesava bem mais do que 80 kg — nem sabe exatamente quanto, pois fugia da balança. Ela escreve a respeito:
— Passei a minha fase de pré-adolescência e parte dela assim, baranguinha, meio deslocada. No começo, tentava fingir que minha aparência não importava tanto, compensava na inteligência. Ganhei diversos prêmios na escola. Mas só isso não bastava. Via minhas amiguinhas com paquerinhas, e os meninos nem olhavam pra mim. Lembro que um menino quando descobriu que eu gostava dele me xingou na frente do prédio inteiro, porque pra ele era uma ofensa alguém como eu gostar dele.
Maíra era fã da atriz Sandra Bullock e queria ser igual à estrela no filme Miss Simpatia, em que ela passa de patinho feio a cisne:
— Me imaginava desfilando ao som de One in a Million, com um buquê na mão, dando tchauzinho pra todo mundo. (...) Foi meu filme preferido durante muitos anos.
Desde criança Maíra tinha vontade de participar do concurso de beleza da escola dela, o Garota Sabec. Aos 12 anos, mesmo gordinha, ela pediu que a família dela a deixasse participar.
— Eles foram sinceros, mas duros comigo. Onde já se viu uma gorda participar de um concurso de beleza? Eu ia virar motivo de riso para as outras pessoas, dar mais um motivo para caçoarem de mim. Eu lembro que chorei muito, tenho até hoje rabiscada nas páginas de um diário da época a tristeza que eu senti. Mas eles não entendiam que era meu sonho, não importava o resultado, não importavam as chacotas. E naquela época não tinha isso de que as plus-size também são mulheres tão dignas quanto qualquer magrela. Gorda era gorda e devia ficar na sua e pronto. Hoje, esse pensamento mudou bastante eu fico feliz que seja assim. Não acho que deva existir um padrão de beleza, acredito que ela venha em variadas formas, cores e tamanhos e que as mulheres são lindas, sem exceção, apenas por serem quem são.
A grande virada de Maíra aconteceu em 2004, aos 14 anos, depois que a situação chegou num ponto insuportável:
— Comprar roupas tornou-se algo impossível, era uma tortura, eu odiava, chorava para não ir. Calças jeans 48 não me serviam mais. Eu não saía mais de casa, só ficava no quarto, no escuro, sozinha, pensando coisas ruins e que eu não servia pra nada. Lembro-me até hoje da minha mãe entrando no quarto, acendendo a luz e dizendo que não conseguia mais me ver daquele jeito, que eu iria, nem que fosse obrigada, caminhar com ela. Ela não precisava, ela era magra, mas me acompanhou todos os dias, quilo por quilo, semana após semana e assim eu perdi quase 30 kg. No começo ela ia na frente e eu ia de braços cruzados atrás, emburrada. Eu jamais seria quem eu sou hoje sem o apoio da minha mãe.
Ela acrescenta:
— Comecei a trocar os alimentos gordurosos por sanduíches naturais, refrigerante por sucos e aos poucos fui mudando a minha alimentação. Posso dizer que não fiz uma dietarigorosa, apenas reeduquei minha alimentação.
Aos 15 anos, Maíra finalmente tentou ser a garota Sabec. Não venceu, mas valeu a pena:
— Me aplaudiram tanto, gritaram tanto! Pessoas que eu nem conhecia se viram indignadas porque eu perdi.
Natália Guimarães
Logo Maíra ia sentir também a mesma indignação ao assistir pela primeira vez a um concurso de miss, pela TV: o Miss Universo 2007, onde Natália Guimarães foi vice.
— Passei a admirá-la e tê-la como referencial de beleza. Não teria como escrever sobre meu sonho de miss sem citar a Natália, pois ela fez nascer esse sonho no coração de muitas jovens. Comigo não foi diferente, me deu vontade de estar ali também, de levar uma faixa junto ao peito. Se um dia eu vier a conhecê-la, gostaria muito de abraçá-la e dizer "Meu sonho começou com você, com o seu sonho, e você não sabe como isso transformou a minha vida em aspectos que nem eu mesma poderia imaginar, muito obrigada".
No ano seguinte, Maíra foi a uma agência de modelos em Niterói. Quando o dono da agência viu a morena, achou que ela tinha jeito para miss.
— Foi aí que passei a me interessar mais pelos concursos. Meu sonho passou a ser um dia estar no Miss Rio de Janeiro. Comecei querendo representar a minha cidade e achei que isso bastaria, hoje tenho vontade de chegar muito mais longe e sei que vou conseguir.
Novo drama: doença no olho
Um mês depois da visita à agência de modelos, Maíra se deparou com um novo desafio: uma doença grave a fez perder grande parte da visão do olho direito. Ela foi submetida às pressas a uma cirurgia delicada, para não perder o resto de visão que ainda tinha.
A cirurgia deu surpreendentemente certo, mas ainda havia a recuperação: a garota passou três meses deitada na cama, sem poder usar travesseiro ou mudar de posição, e sempre no escuro, 24 horas por dia. Ela conta que mal conseguia abrir o olho e, quando conseguia, via que a parte branca (esclerótica) estava escura devido ao sangue.
Nesta altura, ela já estava namorando (o relacionamento dura até hoje). A bela contou só para o Tudo Miss:
— Ele foi um anjo para mim. Quando não podia estar perto, ficava no telefone comigo o dia inteiro, para eu não me sentir tão sozinha, e ver o tempo passar mais rápido.
Maíra conta que chegou a perder 90% da visão do olho direito, mas a recuperação foi excelente e hoje ela consegue até ler letras pequenininhas.
Recuperada, em 2009 Maíra enfim procurou a organização do Miss Rio de Janeiro. Correu atrás de fazer os ajustes e tratamento de que precisaria para competir, e a dedicação foi tanta que a garota acabou virando uma missóloga (uma fã ou "estudiosa" do mundo miss):
— Assisti a todos os concursos que pude, decorei os nomes de todas as misses que gostava, participei de fóruns sobre o assunto.
Oposição do namorado
Três anos depois, ela estava pronta para disputar o Miss Rio de Janeiro. Preparou-se num curso de misses na capital fluminense. Em Barra Mansa, inscreveu-se para o concurso municipal. Mas o namorado de Maíra, com quem ela já estava havia sete anos, não gostou da ideia:
— Ele é uma pessoa maravilhosa, com um coração imenso e extremamente responsável e batalhador. Para ele, era para eu estar focada nos estudos, para arrumar um emprego bom e começarmos nossa vida. Não o culpo, ele está certo e é uma raridade, o típico bom moço.
Os dois brigaram e Maíra recebeu um ultimato: se participasse do concurso, eles terminariam. Ela ficou dividida entre o sonho e o relacionamento.
— No dia do concurso, fui para a casa do meu namorado. Cheguei lá, ele estava dormindo. (...) Foi então que o telefone tocou, era a coordenadora estadual e uma grande amiga minha do trabalho, que também ia competir, me ligando. Elas falaram que eu não podia desistir, que era meu sonho. Que se eu parasse ali, me culparia e o culparia pelo resto da vida. Minha sogra falou: vai, Maíra, vai atrás do seu sonho. Peguei um táxi e fui para o local dos ensaios.
Maíra deixou os problemas em casa, encarnou a miss e arrasou:
— Na hora do desfile, eu estava tão radiante, que meus amigos que estavam na plateia disseram que os parentes das outras meninas comentavam. Sim, eu estava iluminada. Era meu dia, meu momento, acredito muito nisso e eu venci. Venci as favoritas. Talvez eu não fosse a melhor, mas eu me fiz a melhor naquela noite. Na hora de responder a pergunta fui ovacionada pela plateia, foi a melhor resposta da noite, acho que venci ali. Venci porque tudo aquilo em que colocamos o nosso coração quando nos propomos a fazer, fazemos bem feito. E às vezes os outros percebem que há algo diferente em você mas não sabem o que é, o nome disso é paixão. (...) Vi minha avó e duas primas chorando e não pude me conter. Eu havia conseguido.
E o namorado não terminou com ela, não, tá?
Grana
Maíra agora ia disputar o concurso estadual Miss Rio de Janeiro. Mas se ser mulher já custa caro (a gente gasta tanto com salão de beleza e afins...), imagina então ser miss. Ela juntava dinheiro, mas não era o bastante. Para participar do concurso, até vendeu algumas coisas de valor, e recebia algumas doações, inclusive do pai, com quem ela não falava havia dois anos (os pais de Maíra se separaram quando ela era criança).
— Se eu fosse falar o que gastei para participar, daria para eu estar com um carro popular zero. Nunca imaginei na vida que seria capaz de conseguir esse dinheiro, sabe, as contas não batem. Mas as minhas economias e as doações que recebi renderam e se multiplicaram de tal forma que eu não entendo.
E ainda havia a rotina de preparação, nada glamourosa:
— Acordava às 5 da manhã pra dar conta de ir à academia, fazer tratamentos estéticos, depois ia trabalhar sem ter tempo pra almoçar e ainda ia para a faculdade à noite, que fica em outra cidade, chegando em casa tarde e indo dormir só depois da meia noite.
A miss colocou próteses de silicone nos seios, consertou o sorriso, deu um trato no cabelo.
— Mas querem saber qual mudança foi mais evidente? A minha. Eu não me sentia mais inferior a ninguém. Eu não via mais as candidatas do Rio como minhas competidoras, eu as via como minhas amigas.
Aliás, as novas amigas de Maíra, candidatas do Miss Rio de Janeiro 2012, eram figurinhas conhecidíssimas do mundo das misses, como Luiza Lorellay, Isabel Correa e Rayanne Morais, e a miss Barra Mansa adorava estar entre elas.
Priscila Machado
A maior emoção, no entanto, ainda estava por vir. Foi quando ela conheceu a miss Brasil 2011, Priscila Machado:
— Quando vi Priscila Machado no saguão do hotel, eu chorei, tomando cuidado pra ela não ver. É que eu me lembro de quando ela foi eleita no Rio Grande do Sul, me lembro de assistir ao Miss Brasil com meu namorado com cara de tédio do meu lado, meus olhos brilhando e ele falando que era pra deixar isso de lado, que eu nunca estaria ali. E lá estava eu, na mesma sala que a moça que foi coroada naquela noite. Aprendi a admirá-la e respeitá-la, porque eu sei o quanto ela tentou e como foi criticada. Ela se sentou no chão com todas nós e nos disse quantas vezes ela pensou em desistir e o quanto foi julgada. Ela falou para não darmos ouvidos às críticas, pois ninguém sabe pelo que nós passamos para estar ali. Ela apontou pra mim e disse "Eu não sei o que a Barra Mansa passou para estar aqui hoje". Eu precisava disso naquele momento, eu precisava ouvir que alguém, como eu, teve um sonho, fracassou várias e várias vezes, mas chegou lá e foi mais longe do que imaginava chegar.
E a miss Barra Mansa aproveita para refletir:
— Dizem que concurso é algo fútil, que não serve para nada, mas eu fico me perguntando, como então isso trouxe tanta coisa boa para minha vida? (...) O concurso também me reaproximou do meu pai. (...) Foi muita emoção saber que ele estava lá, torcendo por mim (...) O Miss RJ me trouxe um presente inestimável, a minha família. Não há prêmio melhor do que esse. Hoje falo com meu pai toda semana, me aproximei de meus irmãos, de parte da minha família que eu mal conhecia, e isso é incrível.
A miss não ganhou aquele concurso, e assume que chorou a noite toda. Mas ela já está pronta para a próxima: vai disputar o Miss Rio de Janeiro Latina. Se vencer e chegar ao concurso nacional, pode ser coroada a sucessora da gaúcha Júlia Guerra como miss Brasil Latina.
— Talvez eu nunca chegue ao Miss Brasil. Talvez eu faça 23, 24, 25 e não tenha essa oportunidade. Eu posso conviver com isso, a única coisa com a qual não posso conviver é com o fato de que não tentei, com o fato de saber que desisti sem dar o meu melhor.
Fonte: R7
Nenhum comentário:
Postar um comentário