Em todo o Brasil casos de violências nas escolas vêm se tornando mais comuns a cada ano. Segundo dados da Secretaria de Educação de Mato Grosso (Seduc), em 2012 foram confirmados mais de 50 casos de violência escolar somente na Grande Cuiabá.
Segundo estudos da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), esse tipo de violência é um fenômeno social que se expressa dentro e no entorno do espaço escolar, produzindo-se e reproduzindo-se nas relações interpessoais e contribuindo para que a escola seja um lugar de fracasso. Sua complexidade é tamanha que envolve fatores sociais, econômicos e políticos.
O tema da violência escolar é uma questão constantemente presente no discurso da mídia, dos pais e dos professores. E em altos índices, como vem acontecendo, também se torna um fato que assusta toda a sociedade.
O crescimento do acesso à internet vem sendo um fator que ajudou muito nos últimos tempos a aumentar o número de denuncias e relatos de violência escolar. Hoje em dia é comum vermos vídeos feitos por celulares de brigas entre alunos e envolvendo professores e alunos, e até entre pais e alunos, como o caso recente que aconteceu em Cuiabá, em que uma mãe interferiu na briga da filha com uma colega e espancou a garota nas proximidades da escola.
Brigas nas escolas: saiba como proteger seu filho
O vídeo gravado por alunos da Escola Rodolfo Augusto Trechaud Curvo, localizada no bairro Três Poderes, em Cuiabá, mostra uma adolescente de 14 anos sendo espancada pela mãe de outra aluna que também estudava na mesma escola. A agressora continuou a dar socos e chutes na menina mesmo após ela já estar desmaiada no chão. O caso ocorreu no dia 26 de novembro do ano passado.
Segundo a psicóloga Lívia Silva, que trabalha com terapia familiar junto a adolescentes, a escola precisa criar estratégias para evitar esses conflitos. "Virou um campo de batalha porque não estamos tendo estratégias adequadas para poder canalizar tudo isso e usar como referência para desenvolvimento de projetos que alterem essa realidade”.
Violência nas escolas cresce no em Mato Grosso
Para o gerente de projetos educacionais da Seduc, Allan Benitiz, a violência nas escolas tem sido crescente no Estado. Em Cuiabá a escola com os maiores índices de violência é a Cesário Neto, localizada no centro da Capital, e em Várzea Grande é a Jayme Veríssimo de Campos Junior. Benitiz apontou alguns motivos que levam estas escolas a serem as mais violentas. “A maioria dos casos acontece nas proximidades, como brigas de gangues, assédio do tráfico, invasão e roubo. São diversos casos, cada escola tem uma particularidade. Precisamos tratar cada caso individualmente”, explicou.
Esse aumento no número de casos de violência escolar levou estudiosos de várias áreas a pesquisarem e analisarem suas causas e consequências nas unidades de ensino do Brasil. O maior e mais completo estudo já feito sobre este assunto na América Latina se encontra no livro “Violências nas escolas”, resultante de pesquisas realizadas pela UNESCO em escolas públicas e privadas de 14 capitais brasileiras.
Marlova Noleto - Coordenadora de Ciências Humanas e Sociais da Unesco no Brasil.http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2012/11/violencia-nas-escolas-reproduz-violencia-na-sociedade-diz-educadora.html
As causas do problema
Segundo o sociólogo Francisco Xavier Freire, também pesquisador na área, este tipo de pesquisa tem por base percepções e proposições dos diversos atores da comunidade escolar e tem por objetivo contribuir para a construção de uma cultura de paz nas escolas, além de reestabelecer a ideia de que se trata de um lugar destinado à reflexão e ao debate. Xavier ainda acrescenta a importância desses estudos como algo “capaz de uma atuação mais direta e decisiva em benefício da sua comunidade imediata e da sociedade brasileira como um todo”.
O pesquisador destaca que a violência em geral é consequência de um conjunto de falhas, que envolvem questões socioculturais, sejam elas saúde, educação, emprego, moradia, e questões do próprio símbolo que este fenômeno representa. O mesmo é válido para os problemas da violência nas escolas brasileiras. “Todo o contexto em que alunos, pais e professores estão inseridos além dos portões das escolas, é fundamental para a constituição da identidade e do entendimento que cada indivíduo tem sobre as questões sociais, como no caso da violência.”
Escola do século XIX
Para a psicóloga Lívia Silva Penha, a violência fez com que as instituições de ensino deixassem de ser um espaço apenas para aprendizagem e construção de identidades e tonar-se um local onde identidades influenciadas pela cotidiana violência, seja de lares ou das ruas, possa se expressar por meio de diversas formas de agressões.
O que antigamente eram apenas brincadeiras e desentendimentos nas escolas, hoje chega a ser crime e um desvio no papel que a instituição escolar deveria ter na vida dos jovens. Demorou-se para observar isso, e se deixou chegar a este ponto. Porém, propostas de combate e prevenção nunca são tardias e podem trazer bons resultados quando colocadas em prática pelos responsáveis pela reestruturação do ambiente escolar e principalmente pelo lado de fora.
Saiba mais sobre o livro da UNESCO "Violências nas escolas"
Quando o assunto é violência Mato Grosso de destaca
Em 2012, o ano em que muitos casos de violência escolar no Estado de Mato Grosso chegaram à mídia nacional, foram apresentadas algumas propostas a fim de controlar o problema. Foram criados Fóruns Municipais Permanentes, palestras constantes nas escolas para toda a comunidade, além de investimentos do Estado em melhorias de segurança nas escolas. O Governo do Estado repassou à Seduc mais de R$ 500 mil para serem aplicados em 40 unidades que registraram problemas de violência interna e no entorno das escolas de Mato Grosso.
Os recursos aplicados nas escolas para reduzir o número de casos de violência seriam destinados à colocação de câmeras de monitoramente na área interna das unidades, ampliação e reforço de muros e demais ações voltadas para a segurança no ambiente escolar.
A UNESCO chama a atenção para que deixe de existir essa tendência à naturalização dessa percepção de violências nas escolas como acontecimentos corriqueiros. E que sejam sugeridos a não banalização da mesma seja legitimada como mecanismo de solução de problemas.
Da redação/ Franceline Russo; Juliana Zefiro
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