Não faz muito tempo ouvi de uma professora da rede estadual uma frase preocupante. "A escola, às vezes, é bem assustadora", disse ela, com a experiência de quem leciona há 20 anos. Seu desabafo reverbera sensação comum a outros profissionais que diariamente enfrentam o desafio de ensinar a um público que leva para a sala de aula problemas que gravitam o entorno das escolas, como violência e drogas. Resultado: indisciplina, resistência à autoridade, descaso com aprendizado e, nos casos mais extremos, agressões a colegas e professores.
Imagino que indisciplina e rebeldia não resultam de algum distúrbio genético – e muito menos se herda. Estão mais para o resultado do meio em que se vive. Surgem da convivência diária, muitas vezes associados à falta de perspectiva.
Creio que o diagnóstico do problema seja ainda mais amplo e alcance outras causas, mas concluí em conversas com professores e pedagogos que é preciso resgatar a importância da escola pública a partir de intervenções que humanizem a convivência entre docentes e estudantes – e esses com seus colegas.
Trata-se, bem sei, de tema complexo, cujo enfrentamento ainda esbarra em ‘achismos’, em tentativas de se definir uma estratégia para prevenir e combater o problema. Mas o bullying ou a violência efetivamente reconhecida como tal deixou o campo das especulações sobre suas causas e consequências para assumir sua forma mais perigosa e trágica.
Os assassinatos numa escola carioca, cujo autor admitiu ter sido vítima de bullying, colocaram o tema numa perspectiva preocupante: a urgência em minimizar os riscos de ver se repetir tamanha tragédia. A busca de solução para o problema ocupa não apenas especialistas, mas toda a sociedade.
Não é difícil perder o rumo enquanto não se discutem ações eficientes contra o bullying. Portanto, o desafio está em encontrar uma fórmula de prevenir o problema e, diante dele, enfrentá-lo de forma adequada, com uma política definida, inspirada em modelos já adotados com sucesso em outros países, que se baseiam no diálogo e não na adoção de um estado policialesco, que criminaliza o infrator. Esse caminho tem se mostrado o menos eficiente.
O problema nos parece comum aos estabelecimentos de ensino e não faz distinção entre público e privado: ocorre com a mesma frequência tanto em um quanto noutro, fazendo vítimas e expondo infratores com histórias semelhantes – e numa escala cumulativa, um evento aparentemente inofensivo pode evoluir para situações desafiadoras se não for identificado, prevenido e enfrentado.
Mas como desenhar uma política educacional eficiente, de fato amparada na expectativa de pais, professores e alunos? Esse foi o objetivo da audiência pública que realizamos na Assembleia Legislativa na última quarta-feira.
Especialistas em áreas distintas da educação nos ofereceram perspectivas diferentes sobre o problema de forma a proporcionar elementos de análise para que seja formatada uma política de alcance estadual, capaz de instrumentalizar educadores e prepará-los para enfrentar o bullying e outras questões mais tangíveis, como a violência escolar.
Essa foi a primeira de diversas discussões para aprimorar projeto cuja minuta já está pronta, elaborada por mim e o deputado Professor Lemos. O projeto trata exatamente da política estadual antibullying. A próxima audiência para debater a questão será dia 17, em Maringá.
Também defendo a criação da Frente Parlamentar de Incentivo à Humanização das Escolas do Paraná, com a implantação de mecanismos de mapeamento, avaliação, prevenção e combate à violência nas escolas – dentro do próprio estabelecimento e em seu entorno.
Tão importante quanto criar um ambiente interno pacífico é o desenvolvimento de ações extramuros, que alcancem as comunidades do entorno da escola. Não se trata de criminalizar as ocorrências, mas definir uma estratégia de enfrentamento do problema de forma pactuada, resguardando interesses e promovendo a cidadania num contexto de ações que envolvem toda a sociedade.
Evandro Junior
Deputado estadual e presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa
Fonte: O Diário
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