Em Rio Preto e cidades vizinhas, 161 profissionais estão afastados ou em outras funções para ‘fugir’ da indisciplina de alunos dentro das salas de aulas
Ademir Terradas
Agência BOM DIA
Não são só os alunos que sofrem com o bullying nas escolas. A indisciplina de estudantes e o desrespeito ao professor são os fatores responsáveis pela “fuga” de 161 deles das salas de aula da rede estadual na região de Rio Preto.
São profissionais que pediram licença médica, afastamento temporário ou transferência para funções administrativas nas escolas.
“Muitos não aguentam o estresse e pedem readaptação, ou seja, para trabalhar na biblioteca ou na secretaria de cada unidade de ensino. Em Rio Preto, temos pelo menos um professor readaptado em cada escola estadual”, afirma Reynaldo Gonçales Fernandes, diretor regional do CPP (Centro do Professorado Paulista).
Para o diretor do CPP, os principais causadores do que ele chama de “desmoralização da figura do professor” são o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e o sistema de progressão continuada.
“O estatuto só dá direitos ao aluno e nenhuma proteção ao professor. No caso da progressão, sabendo que não vai ser reprovado, o aluno simplesmente deixa de se preocupar com a aula e o conteúdo.”
Um levantamento de 2006 da Apeoesp – o sindicato dos professores no estado de São Paulo – indica que depressão, transtorno obsessivo compulsivo e síndrome do pânico são os distúrbios mais comuns provocados pelo estresse em sala de aula. A pesquisa mostra ainda que 92% dos 30 mil professores consultados sentem-se desrespeitados pelos alunos.
Uma professora de 45 anos, que pediu para não ser identificada, falou ao BOM DIA sobre a dificuldade de manter a ordem dentro da sala de aula.
“É um aluno que grita, o outro que enfrenta o professor, enquanto os demais brigam entre si”, conta ela, que depois de 15 anos lecionando matemática para o ensino fundamental, pediu para dar aulas apenas para salas do ensino médio.
“Normalmente são alunos mais maduros e calmos.”
A sensação de incapacidade diante do comportamento dos alunos fez uma professora de português, que também prefere manter o anonimato, pedir afastamento por 30 dias.
“Estou tomando tranquilizantes e fazendo tratamento psicológico”, afirma.
Ela dá aulas a alunos do 5º, 6º e 7º ano de uma escola da zona norte de Rio Preto.
“Praticamente todos os professores que conheço fazem uso de algum tipo de medicamento tranquilizante ou anti-depressivo”, ressalta.
A precariedade da profissão está afastando os jovens do magistério e da rede pública.
É o caso da professora de português e espanhol Aline Vieira de Freitas, 25, que, depois de dois anos de formada, abandonou a rede estadual para dar aula apenas em escolas particulares.
“Não é um mar de rosas, mas nas escolas particulares, os alunos têm uma noção melhor dos seus direitos e deveres. O respeito pelo professor também é maior”, afirma.
Casos de agressão também estão se tornando comuns. Na semana passada, um aluno do 5º ano deu um soco no braço em uma professora na escola estadual Pio 10, em Rio Preto
Estado / Procurada pelo BOM DIA, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo não soube informar se existem programas públicos de assistência a professores com distúrbios psicológicos.
Abaixo-assinado apoia inclusão de ‘respeito ao docente’ no Eca
Um abaixo-assinado virtual está sendo organizado por associações de alunos e professores pedindo a aprovação do projeto de lei da deputada federal Cida Borghetti (PP-PR), que prevê a inclusão do artigo 53 no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
O artigo prevê que “Na condição de estudante, é dever da criança e do adolescente observar os códigos de ética e de conduta da instituição de ensino a que estiver vinculado, assim como respeitar a autoridade intelectual e moral de seus docentes”.
O projeto prevê ainda que, no caso de descumprimento da lei, a criança ou adolescente se sujeita a suspensão por prazo determinado pela instituição de ensino e, em hipótese de reincidência grave, ao encaminhamento a autoridade judiciária competente.
O movimento já conta com entusiastas em Rio Preto, como o professor universitário Hunfrey Borges, que dá aula no curso de comunicação da Unilago (União das Faculdades dos Grandes Lagos). “Raramente tenho de me preocupar com indisciplina porque meus alunos são adultos, mas, como professor, me sinto no dever de lutar pela aprovação do projeto”, diz.
O professor recebeu na sexta-feira uma mensagem com o link do abaixo-assinado e, imediatamente, repassou a todos endereços da lista de e-mail e aos contatos dele nas mídias sociais.
Para participar do abaixo-assinado, basta acessar o site www.peticaopublica.com.br e clicar no link “Abaixo-assinado Projeto de Lei contra Desacato a Docentes”. Até a noite de ontem 2.932 internautas já haviam de declarado a favor da aprovação do projeto.
De acordo com a Apeoesp, o maior entrave para ações a favor dos professores é o medo e a vergonha que a maioria tem de falar sobre o tema.
Um espaço criado no site da entidade no ano passado para que professores relatem casos de abuso por parte dos alunos estava sem nenhum post até a noite deste sábado.
Fonte: redebomdia.com.br
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