quinta-feira, 23 de junho de 2011

Bullying é frequente nas escolas do Ceará

A falta de diálogo com alunos e de investimentos pedagógicos são motivos para o aumento de casos

As agressões físicas e psicológicas, comumente chamadas de bullying, têm acontecido com frequência nas escolas do Ceará. Somente este ano, cinco casos de mortes já foram registrados no Estado, praticamente uma ocorrência por mês. A onda de agressões reacende o debate sobre o que fazer para prevenir tanta violência.

Para a coordenadora do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca), Margarida Marques, a falta de acompanhamento dos alunos e da intermediação de conflitos dentro das instituições contribuem para o problema.

Para ela, é preciso, em primeiro lugar, que os gestores em educação no Estado e no Municípios reconheçam que existe a questão e que ela é grave.

Para ela, este é um problema afeta toda a sociedade. Existe violência moral, intimidação ou bullying nas escolas de todos os países. "O certo é que este comportamento não está restrito a nenhum tipo de instituição. Além disso, a única forma de evitá-lo é uma ampla discussão e a orientação particular de casos observados.

Na avaliação da mestre em Educação e Ciências Sociais, Rosana Maria César Del Picchia, nossas crianças, ou a maioria delas, está em contato com atos violentos em todas as esferas de seu relacionamento. Comportamentos de pressão, opressão, intimidação, gozação, perseguição são comuns para elas.

Obviamente, nem todos estes acontecimentos podem ser caracterizados como bullying que é um comportamento recorrente e causa baixa autoestima e insegurança em seus atores. Normalmente existem três tipos de envolvidos em uma situação de violência moral: o espectador, a vítima e o agressor.

O espectador é aquele que vê diariamente as situações de bullying e torna-se inseguro e temeroso. A vítima é frágil, frequentemente ameaçada, intimidada, isolada, ofendida, discriminada, agredida, recebe apelidos e provocações, tem seus objetos pessoais furtados ou quebrados. Normalmente mostra-se arredia, demonstra medo ou receio de ir para escola e não procura ajuda.

A pessoa que comete a violência normalmente aprendeu a usar um comportamento agressivo com os adultos para resolver seus problemas. Apresenta um comportamento de intimidação e provocador permanente. Acha que todos devem atender seus desejos de imediato e demonstra dificuldade de colocar-se no lugar do outro.

Violência

O primeiro caso de violência no Ceará aconteceu em 28 de março de 2011, no colégio Polivalente, quando um jovem foi morto. No mês seguinte, no dia 26, um assaltante invadiu uma escola e acabou sendo morto por um segurança, em Sobral. No dia 4 de maio, o aluno Alessandro Rosa da Silva, de 23 anos, morreu dentro da escola Joaquim Alves, no Pan Americano.

Em junho deste ano, Ivambergue Araújo da Silva, 16 anos, foi morto na escola Santo Amaro, no Bom Jardim. Na última terça-feira, a menina de 17 anos, Itamara Monteiro, foi morta com um golpe de faca por uma colega, no Centro Integrado de Educação e Saúde (Cies), na Lagoa Redonda.

A Secretaria Municipal de Educação (SME) informa que o fato ocorrido na escola Terezinha Parente é considerado isolado já que o bairro e a escola são considerados calmos e que a escola possui seguranças, além de reforço das rondas preventivas da Guarda Municipal.

Em nota, a SME ressalta que a Prefeitura desenvolve várias ações para minimizar a violência, como o programa Território da Paz. Os profissionais de educação também são orientados, dentro do projeto de capacitação Escola que Protege.

Já a Secretaria de Educação do Estado (Seduc), a fim de evitar que novos casos tem investido em ações de incentivo à cultura de paz. Uma delas é a implantação das Comissões de Atendimento, Notificação e Prevenção à Violência Domésticas à Crianças e Adolescentes nas Escolas Públicas.

Além disso, em setembro do ano passado, a Seduc assinou acordo de cooperação técnica com a Unesco e a Universidade Estadual do Ceará (Uece) para viabilizar o Programa Geração da Paz.

Fique por dentro
O que é bullying

É um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo, sem motivação evidente. As ações são realizadas com o intuito de causar dor e angústia a pessoas sem capacidade de se defender, sendo realizadas dentro de uma relação desigual de forças. As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima. Devido ao fato de ser um fenômeno que só recentemente ganhou mais atenção, o assédio escolar ainda não possui um termo específico consensual, sendo o termo em inglês bullying constantemente utilizado pela língua portuguesa. As alternativas são acossamento, ameaça, assédio, intimidação.

VÍTIMAS
Tristeza e revolta de parentes e amigos

Na manhã de ontem, a mãe das vítimas, Mauriza Maria Monteiro, nem conseguia falar de tanta dor, só murmurava que quer justiça, enquanto aguardava o corpo da filha para o velório que ocorreu na capelinha da Igreja Santa Edwiges. A filha ferida estava no quarto, em estado de choque. Familiares e amigos entravam e saiam num clima de comoção e revolta.

O filho mais velho, Joel Monteiro, é quem procurava controlar a situação. Segundo ele, o sepultamento da irmã será hoje, em Quixeré, a 160 quilômetros de Fortaleza "A gente está sem saber o que fazer com relação à escola e se ainda vai continua aqui na Capital".

Sem reação

Uma amiga das garotas conta que tudo aconteceu muito rápido. "Elas estavam conversando na sala de aula, por volta das 19h10, aguardando a professora, quando a agressora entrou com a tia, atacou verbalmente as irmãs e quando Itamara respondeu, ela sacou a faca de cozinha e a apunhalou no coração. Não deu tempo de reagir. Itamara caiu em cima de mim e eu gritei pedindo socorro, enquanto via Itanara se atracar com a outra ser ferida no rosto".

O namorado de Itanara, Victor, afirma que tanto a namorada quanto a garota assassinada eram alvos constantes da agressora. "Ela vivia chamando a Itamara de baleia e outros insultos", salienta. Ele aponta um rapaz como autor intelectual do ato infracional. "Ele entregou uma coisa para a agressora tomar no banheiro e depois disso, ela saiu de lá direto para a sala de aula onde estavam as irmãs".

A versão é confirmada pela irmã ferida. Segundo ela, a morte de Itamara foi "encomendada". Diz que a namorada do rapaz, autor intelectual do crime, brigou com ela e com a irmã. Por conta disso, ele fez ameaças de morte. O rapaz teria dito às vítimas que ele ou outra pessoa iria se vingar.

LÊDA GONÇALVES
REPÓRTER

Fonte: Diário do Nordeste

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