Por Gabriela Quadros de Lima
Vivemos em uma época em que a violência se torna presente nos mais diversos segmentos sociais, e, às vezes, chega a ser banalizada. Quando pensamos a violência contra os jovens e os locais em que ela acontece, a escola surge como um importante espaço a ser considerado. Porém, muitas vezes a violência na escola é percebida como “brincadeira de criança”. O fenômeno chamado bullying compreende todas as atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudante contra outro(s), causando sofrimento, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder. Este fenômeno tem consequências negativas imediatas e tardias sobre todos os envolvidos: agressores, vítimas e testemunhas. Bullying, então, é o termo utilizado para definir uma prática de humilhações e agressões sistemáticas de crianças e adolescentes no contexto escolar. Este tipo de violência acarreta enorme prejuízo à formação psicológica, emocional e social do indivíduo que é vitimizado, pois sua ação traumatiza o psiquismo das vítimas.
O autor de bullying é tipicamente popular, pode mostrar-se agressivo inclusive com os adultos, é impulsivo, vê sua agressividade como qualidade, tem opiniões positivas sobre si mesmo, é geralmente mais forte que seu alvo e sente prazer em dominar, controlar e causar danos e sofrimento a outros. O alvo de bullying geralmente é pouco sociável e inseguro, tem poucos amigos, é passivo, retraído e sofre com a vergonha, medo, depressão e ansiedade. Pode evitar a escola e o convívio social prevenindo-se contra novas agressões. Mais raramente, pode apresentar intenções suicidas ou se sentir compelido a adotar medidas drásticas, como atos de vingança, reações violentas e até portar armas. As vítimas, dentro das escolas, sentem-se, por um longo período de tempo, solitárias, isoladas e incompreendidas.
A maioria dos alunos não se envolve diretamente com os atos de bullying e geralmente se cala por medo de ser a próxima vítima, por não saberem como agir e por descrerem nas atitudes de proteção da escola. Grande parte das testemunhas sente simpatia pelos alvos, condena o comportamento dos autores e deseja que os professores intervenham mais efetivamente. O simples testemunho dos atos agressivos pode causar descontentamento com a escola e comprometimento do desenvolvimento acadêmico e social. As crianças e adolescentes que sofrem e/ou praticam bullying podem vir a necessitar de múltiplos serviços, como saúde mental, justiça da infância e adolescência, educação especial e programas sociais.
Os profissionais da educação e da saúde podem identificar os fatores de risco, aconselhar as famílias, rastrear possíveis alterações psiquiátricas e incentivar a criação de programas de prevenção nas escolas. A intervenção precoce, tanto com relação aos alvos quanto aos autores, pode reduzir os riscos de danos emocionais tardios. As seguintes medidas de proteção podem ser adotadas pelas crianças e adolescentes: ignorar os apelidos, fazer amizade com colegas não agressivos, evitar locais de maior risco e informar ao professor ou funcionário sobre a violência sofrida.
O bullying pode ser entendido como um medidor para o nível de tolerância da sociedade com relação à violência. Portanto, enquanto a sociedade não estiver preparada para lidar com o bullying, serão mínimas as chances de reduzir as outras formas de comportamento violento. Devemos assinalar que este não é, com certeza, um problema apenas dos alunos e nem o resultado natural da competição na escola. É preciso que a formação moral seja de fato uma preocupação e que seja implementada uma política de tolerância zero a qualquer tipo de violência na escola.
Gabriela Quadros de Lima é mestre em Psicologia Clínica (PUCRS), doutoranda em Psicologia (PUCRS), professora adjunta da Escola de Psicologia da Imed e estudiosa dos comportamentos violentos
Fonte: O Nacional
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