Em entrevista ao Administradores.com, ator ainda afirma que posição transmitida em manchete é ignorância, mas que não se sentiu ofendido
Como já comentamos aqui,
a capa da Veja desta semana causou (e ainda vem causando) grande
polêmica. A edição mais recente da revista estampa um homem alto,
sorridente e bonito ao lado de outro, bem mais gordo, baixinho e com uma
expressão zangada. Ao lado deles aparece a manchete "Do alto tudo é
melhor" com a seguinte explicação: "A 'evolução tecnofísica' explica
por que as pessoas mais altas são mais saudáveis e tendem a ser mais
bem-sucedidas". Mas, o que será que o próprio gordinho que aparece na
foto pensa sobre essa questão?
Em entrevista exclusiva ao Administradores.com, o ator e humorista
paulista David Castillo, de 34 anos, que interpretou o homem gordinho
com cara de zangado que estampa a capa da edição, diz que não se sentiu
ofendido. Mesmo assim, não concorda com a ideia de que os mais altos
tendem a ser mais bem-sucedidos que os baixinhos.
Para David, estar fora dos padrões estéticos contemporâneos não é um
determinante para se ter uma trajetória de fracasso. "É lógico que
existem desafios, é lógico que há um preconceito, mas isso é algo a ser
vencido", afirma.
O ator diz ainda que não tinha ideia de qual seria o conteúdo da
matéria. "O que eu sabia é que iria falar sobre oportunidades, que o
mais alto, o mais bonito, o mais aceito socialmente está sempre levando
vantagem", explica.
Com bom humor, David brinca com a situação. "Tenho 1,66m. Não sou tão
baixo como na revista, onde estou parecendo o Danny DeVito (ator
norte-americano que tem 1,52m de altura)", disse em e-mail que nos
enviou após a realização da entrevista, que você pode conferir abaixo na
íntegra:
O que você achou da capa da revista Veja desta semana?
Fui contratado para fazer uma capa com cunho humorístico. É lógico
que a capa parece ser preconceituosa, parece se tratar de bullying, mas
lendo a matéria não é bem assim como se foi pintado.
Vou falar um pouca da minha experiência: eu sempre fui gordo e sempre
fui vítima de bullying. O que a matéria diz, um pouco de ser preterido
pelo fato de ser gordo, é hipocrisia falar que não é verdade. Eu acho
que a matéria não está incentivando uma prática, ela está relatando uma
prática que geralmente acontece. Realmente, em entrevistas de emprego eu
já perdi oportunidades por ser um gordinho, baixinho, para pessoas mais
altas, mais apresentáveis, que cabiam mais na dita beleza ideal, isso
desde a infância. Mas eu nunca tive a minha vida pessoal prejudicada por
isso, tirando esses casos de ter sido preterido por esse motivo.
Ator David Castillo, o baixinho e gordinho da capa da Veja (Foto: arquivo pessoal) |
Você acredita que a capa ajuda a promover esse tipo de preconceito?
Eu acho que não ajuda a combater, mas deixa claro que esse tipo de preconceito existe sim.
Você acha que essa polêmica em torno da capa é legítima? Por quê?
Bom, tem muitas pessoas que se sentiram humilhadas, que se sentiram constrangidas, realmente eu lamento por essas pessoas.
Mas você não se sentiu nem um pouco atingido?
Quando eu fui contratado eu não tinha ideia de que essa seria a capa,
eu não tinha ideia do que seria a matéria. O que eu sabia é que iria
falar sobre oportunidades, que o mais alto, o mais bonito, o mais aceito
socialmente está sempre levando vantagem. Mas eu não imaginava que era
esse tipo de matéria.
Se você soubesse a finalidade dessa capa, você ainda tiraria a foto?
Eu sou ator. A expressão que eu estou fazendo é uma cara de
desagrado, uma cara de desaprovação, de indignação diante daquela pessoa
que está sendo favorecida. Eu faria a capa mesmo assim. Eu sou ator. Se
eu não fizesse essa capa seria um outro ator. Se eu não fizesse essa
capa outro estaria dando essa entrevista.
Capa da edição atual da Veja (Imagem: reprodução) |
Você acredita que, no final das contas, as pessoas mais altas tendem a ser mais bem-sucedidas?
Eu acho que isso é uma ignorância. Eu realmente não concordo com
isso. Tanto é que tem pessoas que são baixas e gordas que são
bem-sucedidas. Assis Chateaubriand era um cidadão baixo e gordinho, Jô
Soares é um cidadão baixo e gordinho. O ex-presidente Lula tem 1,60m.
Ele não é uma pessoa muita alta e nem está enquadrado na beleza ideal -
o alto, magro e bonito. Então eu acho que quem faz a oportunidade
realmente é a pessoa. É lógico que existem desafios, é lógico que há um
preconceito, mas isso é algo a ser vencido.
Você acha que a Veja foi infeliz, já que a capa não ilustra tão bem o que foi mostrado na matéria?
80% do pessoal que viu a capa não entendeu realmente o propósito da
matéria. Se a gente for pegar por esse ponto, que desagradou tanto as
pessoas, foi sim um tirada infeliz.
??????!!!!!!!???????
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