quinta-feira, 26 de abril de 2012

Gordinho que aparece em capa polêmica da Veja diz que "não tinha ideia do que seria a matéria"

Em entrevista ao Administradores.com, ator ainda afirma que posição transmitida em manchete é ignorância, mas que não se sentiu ofendido

Por Mayara Emmily, www.administradores.com.br
Como já comentamos aqui, a capa da Veja desta semana causou (e ainda vem causando) grande polêmica. A edição mais recente da revista estampa um homem alto, sorridente e bonito ao lado de outro, bem mais gordo, baixinho e com uma expressão zangada. Ao lado deles aparece a manchete "Do alto tudo é melhor" com a seguinte explicação: "A 'evolução tecnofísica' explica por que as pessoas mais altas são mais saudáveis e tendem a ser mais bem-sucedidas". Mas, o que será que o próprio gordinho que aparece na foto pensa sobre essa questão?

Em entrevista exclusiva ao Administradores.com, o ator e humorista paulista David Castillo, de 34 anos, que interpretou o homem gordinho com cara de zangado que estampa a capa da edição, diz que não se sentiu ofendido. Mesmo assim, não concorda com a ideia de que os mais altos tendem a ser mais bem-sucedidos que os baixinhos.

Para David, estar fora dos padrões estéticos contemporâneos não é um determinante para se ter uma trajetória de fracasso. "É lógico que existem desafios, é lógico que há um preconceito, mas isso é algo a ser vencido", afirma.

O ator diz ainda que não tinha ideia de qual seria o conteúdo da matéria. "O que eu sabia é que iria falar sobre oportunidades, que o mais alto, o mais bonito, o mais aceito socialmente está sempre levando vantagem", explica.

Com bom humor, David brinca com a situação. "Tenho 1,66m. Não sou tão baixo como na revista, onde estou parecendo o Danny DeVito (ator norte-americano que tem 1,52m de altura)", disse em e-mail que nos enviou após a realização da entrevista, que você pode conferir abaixo na íntegra:

O que você achou da capa da revista Veja desta semana?
Fui contratado para fazer uma capa com cunho humorístico. É lógico que a capa parece ser preconceituosa, parece se tratar de bullying, mas lendo a matéria não é bem assim como se foi pintado.

Vou falar um pouca da minha experiência: eu sempre fui gordo e sempre fui vítima de bullying. O que a matéria diz, um pouco de ser preterido pelo fato de ser gordo, é hipocrisia falar que não é verdade. Eu acho que a matéria não está incentivando uma prática, ela está relatando uma prática que geralmente acontece. Realmente, em entrevistas de emprego eu já perdi oportunidades por ser um gordinho, baixinho, para pessoas mais altas, mais apresentáveis, que cabiam mais na dita beleza ideal, isso desde a infância. Mas eu nunca tive a minha vida pessoal prejudicada por isso, tirando esses casos de ter sido preterido por esse motivo.

Ator David Castillo, o baixinho e gordinho da capa da Veja (Foto: arquivo pessoal)

Você acredita que a capa ajuda a promover esse tipo de preconceito?
Eu acho que não ajuda a combater, mas deixa claro que esse tipo de preconceito existe sim.

Você acha que essa polêmica em torno da capa é legítima? Por quê?
Bom, tem muitas pessoas que se sentiram humilhadas, que se sentiram constrangidas, realmente eu lamento por essas pessoas.

Mas você não se sentiu nem um pouco atingido?
Quando eu fui contratado eu não tinha ideia de que essa seria a capa, eu não tinha ideia do que seria a matéria. O que eu sabia é que iria falar sobre oportunidades, que o mais alto, o mais bonito, o mais aceito socialmente está sempre levando vantagem. Mas eu não imaginava que era esse tipo de matéria.

Se você soubesse a finalidade dessa capa, você ainda tiraria a foto?
Eu sou ator. A expressão que eu estou fazendo é uma cara de desagrado, uma cara de desaprovação, de indignação diante daquela pessoa que está sendo favorecida. Eu faria a capa mesmo assim. Eu sou ator. Se eu não fizesse essa capa seria um outro ator. Se eu não fizesse essa capa outro estaria dando essa entrevista.

  
Capa da edição atual da Veja (Imagem: reprodução)

Você acredita que, no final das contas, as pessoas mais altas tendem a ser mais bem-sucedidas?
Eu acho que isso é uma ignorância. Eu realmente não concordo com isso. Tanto é que tem pessoas que são baixas e gordas que são bem-sucedidas. Assis Chateaubriand era um cidadão baixo e gordinho, Jô Soares é um cidadão baixo e gordinho. O ex-presidente Lula tem 1,60m. Ele não é uma pessoa muita alta e nem está enquadrado na beleza ideal - o alto, magro e bonito. Então eu acho que quem faz a oportunidade realmente é a pessoa. É lógico que existem desafios, é lógico que há um preconceito, mas isso é algo a ser vencido.

Você acha que a Veja foi infeliz, já que a capa não ilustra tão bem o que foi mostrado na matéria?
80% do pessoal que viu a capa não entendeu realmente o propósito da matéria. Se a gente for pegar por esse ponto, que desagradou tanto as pessoas, foi sim um tirada infeliz. 

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