Por Luciana Vicária
O mundo em que vivemos já traz uma série de angústias às crianças. Na
intenção de protegê-las, pais, mães e avós falam sobre sequestro e
explicam o que é violência já nos primeiros anos de vida. Não bastasse
terem de conviver em uma realidade suficientemente complexa, nós
(adultos) sabemos como piorar suas vidas.
Heidi Hankins, de apenas 4 anos, lê livros e desenha como uma criança
de 7 anos. Seu Q.I (quociente de inteligência) é de 159, apenas um
ponto a menos que Albert Einstein. Seus pais, orgulhosos, a incluíram no
Mensa, uma organização internacional que integra os 2% mais
inteligentes da população e exigiram da escola infantil que adiante a
menina em dois ou três anos.
Heidi quer mais livros para ler, desafios de matemática para
resolver, mas deseja ser tratada como uma criança normal,
imagino. Destacá-la do grupo, ao meu ver, é um constrangimento
desnecessário, uma violência ao seu direito de ser diferente. Não é
difícil imaginar que, ao lado de colegas mais velhos, será o foco das
atenções – e isso não costuma ser saudável. Até que me provem o
contrário, uma criança de quatro anos superdotada deve conviver com
crianças da mesma idade. Por mais que ela seja desenvolvida
intelectualmente, experimente colocá-la diante de uma criança de sete
anos. Há diferença no tamanho, no diálogo, nos desejos, nas
brincadeiras.
O que dizer de uma criança de quatro anos vestida de periguete em uma
passarela, com a mãe histérica gritando ao fundo? Na Inglaterra, a
moda são os concursos de beleza baby. Mães orgulhosas vestem suas
meninas com vestidos bufantes, contornam aquelas boquinhas minúsculas
com batom vermelho e ainda investem em calçados de salto para pés
tamanho 23. Se alguém acredita que isso pode fazer bem a uma criança, me
explique como.
A gente planta agora para colher lá na frente, dizia a minha avó. E
poupar a criança das nossas neuroses, daquilo que não fomos e
gostaríamos que elas fossem, é o melhor que podemos fazer.
Fonte: Revista Época
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