Em clima de forte emoção, familiares participam de missa em homenagem a vítimas de atirador em Realengo
Carla Falcão, iG Rio de Janeiro
Foto: Fabrizia Granatieri
Familiares soltam balões com fotos das vítimas de Realengo
Familiares e amigos das vítimas do maior massacre em uma
instituição de ensino brasileira participam neste domingo (8) de uma
missa na igreja Nossa Senhora de Fátima e São João de Deus, em Realengo,
zona oeste do Rio, em memória de um ano da tragédia que terminou com a morte de 12 crianças.
Os pais levaram objetos das crianças, como brinquedos e sapatos, e se
lembraram de seus filhos, mortos em 7 de abril do ano passado quando o
ex-aluno Wellington Menezes entrou na Escola Municipal Tasso da Silveira e abriu fogo contra os estudantes.
O clima foi de muita emoção. Os nomes das vítimas foram citados
diversas vezes e também foram mostradas fotos das crianças ao longo da
missa. As centenas de pessoas presentes choraram diversas vezes.
O momento de maior emoção foi durante a oferta dos objetos das
crianças, quando familiares chegaram a desmaiar com a emoção e também o
calor que fazia dentro da igreja. Josiane, mãe de Milena dos Santos
Nascimento, e Vera Lúcia Pires, mãe de Samira Pires Ribeiro, chegaram a
ser socorridas por uma ambulância.
Ao final da missa, que durou cerca de duas horas, os parentes
distribuíram rosas brancas e soltaram balões de ar com fotos das vítimas
na saída da igreja.
Adriana Silveira, mãe de Luiza Paula da Silveira, chegou à celebração
visivelmente emocionada. Ela descreveu a filha como uma criança dócil, a
alegria da família. “Tive uma gravidez muito complicada e lutei muito
para que ela viesse ao mundo. Depois de lutar tanto, foi muito triste
perdê-la”, afirmou. “Eu não imaginava ficar nem um dia longe da minha
filha e já estou há um ano sem ela”.
Adriana lidera o movimento Anjos de Realengo. “A nossa luta começou
para que as crianças que sobreviveram sejam bem assistidas. Agora a
grande campanha é contra o bullying. A minha filha foi vítima de uma
pessoa que sofreu bullying e que cometeu um ato sem nem mesmo
conhecê-la”, acrescentou.
Isabelli Bispo de Freitas, 13 anos, foi à missa para lembrar das
amigas Ana Carolina Pacheco da Silva e Samira Pires Ribeiro. Muito
emocionada, ela se esforçava para não chorar quando contou que sempre
brincava com as duas. “O ano passou rápido, mas a tristeza ficou marcada
em nossos corações”, disse.
Vera Lúcia Pires, mãe de Samira, levou a boneca preferida da filha
para a missa. “Trouxe essa boneca, que ela adorava e batizou de Mariana.
Está sendo muito difícil. As mães dão força uma para as outras, esse é o
meu maior consolo”, afirma. Vera Lúcia lembra que no ano passado errou o
dia da Páscoa e entregou um chocolate para a filha três dias antes do
que deveria. “Ontem, assim que eu acordei, a primeira coisa que eu
pensei foi: tem um ano que estou sem a minha filha”.
Presente à celebração, Nilza da Cruz, avó de Karine Lorraine
Chagas de Oliveira, diz que parece que foi ontem que enterrou a neta.
“Quando vejo os jovens voltando da escola, ainda procuro por Karine,
como se ela fosse voltar para casa”, conta.
Policial diz que ainda vê flashes do atirador
O sargento Márcio Alves, que atirou em Wellington e o impediu de
seguir atirando nas crianças, também compareceu à celebração. “Como eu
participei diretamente desse caso, não havia nada mais justo do que vir
homenagear essas vítimas que eu não pude salvar”, disse ele, que estava
acompanhado da mãe. Apesar de todo o reconhecimento, ele diz que
continua fazendo seu trabalho normalmente. O policial, que é considerado
um herói em meio à tragédia da escola, afirma que quando fecha os olhos
ainda vê flashes daquele dia e que se lembra de quando Wellington
correu na direção dele.
O policial contou, ainda, que pelo menos uma vez por mês vai à escola
Tasso da Silveira para visitar os alunos, e vê tristeza nas crianças
que sobreviveram à tragédia, mas diz que tem certeza de que elas vão se
recuperar. “Não tem um dia que eu não pense no que aconteceu”, diz o
policial, que completa 40 anos no próximo dia 15.
Um pouco abatida, a menina Thayane Tavares
foi uma das ultimas a chegar para a missa e não quis dar entrevistas.
Durante a celebração, ela chorou muito. Sua mãe, Andreia Tavares, disse
que a lembrança de um ano da tragédia é um momento único. "É muito
triste saber que se foram 12 anjos. Por outro lado, é também um momento
de felicidade, porque a Thayane está viva", afirmou.
Para Carlos Maurício, 40 anos, pai de Rafael Pereira da Silva, a dor
da saudade do filho é muito pior que a dor do sofrimento pela perda.
“Essa dor não diminui com o tempo. Em datas marcantes como a Páscoa para
uma família unida, como é a nossa, é ainda mais complicado. No dia dos
pais, por exemplo, o Rafael costumava fazer o café da manhã para a
gente”, diz. “Ele era um menino quieto, que ia de casa para a escola, da
escola para casa, saía muito pouco.”
Foto: Fabrizia Granatieri
Familiares distribuem rosas brancas ao fim da missa
Maurício tem ainda um casal de filhos. O caçula, João Vitor, não
chegou a conhecer Rafael. Quando o irmão morreu, a mãe estava grávida de
apenas dois meses. Questionado sobre o que ele vai contar para o caçula
sobre Rafael, disse: “Vamos dizer a ele que ele tinha um irmão
maravilhoso e que está fazendo muita falta para a gente.”
O fundador do movimento Gabriela Sou da Paz, Carlos Santiago, também
esteve presente à celebração para prestar solidariedade aos familiares
das vítimas da tragédia de Realengo. Ele é pai de Gabriela Prado Maia
Ribeiro, morta em 2003 quando foi atingida por uma bala perdida em uma
estação de metrô do Rio. “Viemos aqui dar uma força aos pais dessas
crianças. Sempre estivemos muito próximos deles”, disse. “Uma coisa que
esses pais ouvem muito na rua é que o tempo vai ajudar. Isso é uma
inverdade. A dor não acaba. Semana passada fez nove anos que perdi minha
filha e é como se fosse ontem. Mas Deus é grande e sabe o que faz”,
concluiu.
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