A Máquina de Goldberg tem uma narrativa que vai ganhando força a cada
página. Começa mais convencional e evolui para algo delirante. É daí
que tira seus méritos. Vanessa Barbara, colunista da Ilustrada, da Folha
de S. Paulo, escreve o texto. O desenho é de Fido Nesti, há uma década
colaborador de jornais e revistas do Brasil e do exterior.
A
combinação dos dois artistas é fluente. A novela, recém-lançada, pode
ser lida rapidamente, com ritmo de quadrinhos comerciais. Uma leitura
mais atenta revela como os enquadramentos de Fido, que domina os
close-ups em sequências de tensão, ditam esse ritmo de quase desenho
animado.
A primeira parte do álbum “engana”. Parece que o
leitor tem nas mãos mais uma história pegando carona no bullying. O
protagonista é Getúlio, um garoto punk gordinho alvo fácil dos colegas.
O
enredo começa com ele viajando para um acampamento de verão,
materialização suprema do pesadelo para meninos com dificuldades de
adaptação à turma.
Lá, o bullying deixa de ser assunto de
criança. O comandante do local, Rufus, impõe rotina militar aos garotos.
Não demora para Getúlio se sentir no inferno.
Numa segunda
parte, a história enlouquece. Getúlio conhece o zelador do acampamento,
um cara nada social que se dedica a construir “máquinas de Goldberg”.
São
invenções dedicadas a complicar as tarefas mais simples. O criador pode
usar fios, roldanas, polias e animais silvestres para movimentar
engenhocas que demandam a simultaneidade de uma dezena de coisas para
abrir e fechar uma porta ou ligar o fogão.
Getúlio, o zelador
e outros oprimidos no acampamento vão orquestrar uma vingança contra os
malvados, utilizando as máquinas estapafúrdias. Tudo contado pelo
espírito ainda inocente do garoto e suas “filosofices”.
Fido
Nesti tem um traço que oscila entre o “fofinho” e o “nervoso”. Um
desenho pessoal, de estilo marcante. Quem acompanha seus trabalhos pode
conhecer HQs mais refinadas com sua assinatura, mas aqui prevalece a
urgência na ação.
Essa vibração dos traços combina com a
parte final da história, quando Vanessa parece pisar no acelerador e
bolar situações enlouquecidas, quase lisérgicas. (Thales de Menezes, da Folhapress)
SERVIÇO
A Máquina de Goldberg
Autores: Vanessa Barbara (texto) e Fido Nesti (desenhos) Editora: Quadrinhos na Cia.
Quanto: R$ 34,50 (112 págs.)
Fonte: Jornal de Hoje
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