quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Carolina Munhóz começou escrevendo fanfictions sobre Harry Potter - hoje, já tem dois livros publicados

por Redação Galileu

Editora Globo
Carolina Munhóz // Crédito: Leandro Bergamo

Quando Carolina Munhóz tinha 11 anos, sofria bullying na escola. Sua saída era se esconder na biblioteca e mergulhar no mundo da literatura. Hoje, com 23 anos, ela já tem dois livros publicados ( A Fada e O inverno das Fadas) e é considerada uma das grandes promessas da literatura juvenil brasileira, trazendo na bagagem o Prêmio Jovem Brasileiro de 2011. Mas há uma ponte entre a adolescente da bibiloteca e a escritora de hoje: as fanfictions, histórias baseadas em livros, filmes, séries ou games criadas por fãs - usando dados da narrativa original. 

Em entrevista à GALILEU, Carolina conta como as fanfictions foram importantes em sua formação como escritora:

GALILEU: Como você teve contato com o Universo das Fanfictions?


Eu comecei no universo de fanfics ao mesmo tempo em que comecei a gostar de ler. Tinha 11 anos e era muito depressiva. Sofria bullying na escola e gostava de me esconder na biblioteca nos intervalos, mas ainda não amava ler necessariamente. Um dia uma amiga apostou que eu não conseguia ler Harry Potter e a Pedra Filosofal em uma semana. No final dela, já tinha lido os quatro primeiros livros da série.


GALILEU: Então tudo começou com Harry Potter?


Foi J.K. Rowling que me conquistou e consequentemente me levou para o mundo das fanfics. Necessitada de novas aventuras sobre os personagens que eu tanto amava, descobri um universo recheado de histórias e logo não parava mais de ler o que outros fãs escreviam sobre Harry Potter. Pouco tempo depois, arrisquei escrever uma songfic – fanfic inspirada em uma música – e logo já estava escrevendo histórias mais longas.


GALILEU: Mas qual era o apelo que as fanfics tinham para você, além de serem essa válvula de escape?


Gostava de criar situações que a J. K. Rowling nunca teria coragem. Adorava ler fics de casais absurdos ou acontecimentos fora do cenário dos livros. Quando tive minha oportunidade de escrever aproveitei todos os casais que gostava, como Harry Potter e Luna Lovegood, mas não existiam .


GALILEU: E você recebeu retorno ao publicar essas histórias na internet?


O retorno foi ótimo. Como publicava um capítulo por semana, podia acompanhar os comentários e me inspirar na empolgação dos leitores. Também aproveitei o feedback para melhorar minha escrita, aperfeiçoar os diálogos e também as cenas.  Notei que fiquei mais conhecida no meio potteriano, pois em alguns fóruns e sites as pessoas já conheciam a Krollefay -meu antigo 'nickname', que assinava as fanfics.


GALILEU: E ainda há leitores que acompanham sua carreira por causa das fanfics?


Tenho muitos leitores que me acompanham por conta de Harry Potter. As fanfics acabaram dando uma ajuda nisso. Faço parte do Potterish.com, maior site de Harry Potter Brasileiro escolhido pela J. K. Rowling e nele faço vídeos, posts e coberturas. Falei com os atores do filme, entrevistei membros famosos de sites e ganhei um selinho do ator Rupert Grint (!!!). Então essa minha aventura no mundo de Harry Potter ajudou muito minha carreira literária.


GALILEU: Isso tudo influenciou sua entrada no mercado editorial e seu estilo de escrita?


As fanfics me deram a base de escrita e de feedback. Aprendi a moldar meu estilo literário e a ver o que poderia dar certo com o público. Com o hábito de ler os comentários, aprendi a lidar com a crítica e distinguir o que é construtivo. Sou grata por ter começado nas fanfics, pois os leitores são muito apaixonados e você consegue aprender demais no processo. Esse convívio com os leitores de Harry Potter também me ajudou na hora de mostrar um diferencial no meu trabalho. Hoje muitos me conhecem como a escritora do Potterish ou a que veio do mundo de Harry Potter.


GALILEU: E como surgiu a ideia para o seu primeiro livro, 'A Fada'?

Aos 16 anos estava passando por uma crise forte de depressão e até os livros e personagens que me faziam companhia não me encantavam mais. Nesse momento, em uma das noites pedi para que uma luz entrasse na minha vida e tive um sonho com uma fada muito linda e toda uma história de amor. No dia seguinte, não escrevi mais uma fanfic que estava fazendo e comecei a descrever aquele sonho. No terceiro capítulo, percebi que estava criando um livro e no final após nove meses soube que aquela seria minha carreira.


GALILEU: Conseguir a publicação do livro foi fácil?

Demorei quatro anos para conseguir uma editora pequena, depois durante dois anos fiz minha própria assessoria de imprensa para tentar me destacar. Juntei uma boa clipagem com matérias na Folha de São Paulo, Estadão, Disney Channel e outros. A consagração veio em 2010 em uma matéria para Época junto com Cassandra Clare e Alexandra Adornetto. Nela eles destacaram escritoras jovens que vieram de fanfics e atingiram as listas, me colocando como uma futura candidata brasileira a conseguir o mesmo. 


GALILEU: Hoje sabemos que as editoras olham para escritores de fanfics em busca de novos talentos literários. Que conselhos você daria para os autores de fics que querem seguir o mesmo caminho?

Nas fanfics você possui muitas vezes os personagens e os cenários. Aproveite isso como um bônus e desenvolva sua narrativa, aperfeiçoando sempre os diálogos. É um excelente exercício de escrita, pois permite que você desenvolva sua criatividade sem precisar se preocupar com a base da história. Também aprenda a entender seu público e a respeitar as opiniões. Com isso comece a criar seus próprios personagens e tramas, logo terá um livro independente.


GALILEU: E para quem quer começar no universo das fanfics?

Extrapole e divirta-se. No mundo das fanfics você não precisa fazer sentido. Você pode criar o que quiser, sem se preocupar com mercados e públicos. Aproveite essa liberdade para desenvolver suas habilidades e ganhar confiança. Crie tudo que você sonhou após terminar aquele livro que tanto te encantou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário