quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Agressões entre pais estimulam mais a violência infantil do que os maus-tratos

por
Simone Franco/Agência Senado
Foto: José Cruz/Agência Senado
O psiquiatra francês Maurice Berger
O psiquiatra francês Maurice Berger
 
Agressões físicas ou verbais entre os pais impactam mais no equilíbrio psíquico da criança - empurrando-a para o mundo da violência - do que sua submissão a maus tratos.

Essa constatação foi apresentada pelo psiquiatra francês Maurice Berger em audiência pública da Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), nesta quinta-feira (8/11), evento que integra a 5ª Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz do Senado.

- A primeira causa de violência é o distúrbio da parentalidade: pais que não conseguem entender as necessidades de suas crianças pequenas. Não entendem o que a criança precisa quando grita, chora ou estende os braços, porque também tiveram uma infância desastrosa - afirmou Berger, que dirige o serviço de psiquiatria infantil e do adolescente do Centro Hospitalar Universitário Saint Etienne, em Paris.

Pais imprevisíveis, centrados em si próprios, usuários de drogas e que manifestam distúrbios psiquiátricos ou produzem violência verbal desestabilizariam o emocional da criança e insuflariam nela um comportamento violento no futuro. De acordo com Berger, bebês submetidos a uma rotina de negligência e estresse já podem demonstrar impulsos violentos com apenas 16 meses.

Fracasso escolar

O psiquiatra francês também chamou atenção para a situação de fracasso escolar que acompanha essas crianças.

- Uma criança pequena angustiada coloca toda sua energia em não pensar, daí a deficiência intelectual.

Ela também pode ter atraso no desenvolvimento da linguagem se não houver estímulo à fala, que começa a se manifestar entre dez meses e dois anos e meio - comentou Berger.

Acompanhamento domiciliar

Ações assistenciais para famílias em vulnerabilidade sócioeconômica foram a saída encontrada pela França para tentar minar comportamentos violentos futuros. De acordo com a psicóloga portuguesa Susana Tereno, professora da Universidade Paris Descartes, essa intervenção se baseia em visitas domiciliares semanais, quinzenais ou mensais, que se iniciam aos sete meses de gravidez e se estendem até os dois anos da criança.

A construção de uma relação de apego entre mãe e filho foi apontada como fundamental para a estruturação da saúde mental da criança nos primeiros cinco anos de vida.

- É a relação de apego que permite que a criança tenha estabilidade psíquica e emocional e consiga resistir às situações de estresse da vida - comentou Tereno.

Algumas mães submetidas a essa intervenção não conseguiram superar seus traumas, mas obtiveram uma melhora na relação com o filho. Isso fez com que o nível de organização emocional e psíquica da criança pudesse se equiparar ao de grupos que mantém uma relação de apego equilibrada.

- As mães continuaram a ter comportamento desorganizante, mas aprenderam a lidar com isso e a não repassar para a criança, desorganizado-a também - comentou a psicóloga.

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