O fenómeno de maltratos entre crianças e jovens no meio escolar tem vindo a ganhar visibilidade na opinião pública e a subdirectora da Escola Superior de Educação de Santarém, Sónia Seixas, decidiu dar o seu contributo para uma melhor compreensão dessa problemática com a publicação de um livro de que é co-autora. Porque o assunto é sério e pode ter consequências irreparáveis. |
O bullying (termo anglófono que pode ser traduzido como maltrato entre iguais) no meio escolar pode levar as vítimas a soluções radicais como o suicídio. Pelo que a escola deve apostar no diagnóstico e prevenção desse tipo de comportamentos violentos entre crianças e jovens, que podem ir da marginalização ou segregação à violência física e verbal. Sónia Seixas, subdirectora da Escola Superior de Educação de Santarém (ESES) e co-autora de um livro sobre a problemática recentemente editado, quer deixar o seu contributo para a causa. “Alguns miúdos não conseguem encontrar mecanismos protectores e utilizam o suicídio como forma de escape. São situações de bullying muito graves, não obrigatoriamente de violência física, mas de segregação, de marginalização. Um adolescente não conseguir integrar-se num grupo de pares é avassalador para a sua vida. E os jovens vivem o presente, não estão a imaginar que daí a 5 ou 10 anos estão noutro sítio”, opina. Sónia Seixas diz ser difícil afirmar que as crianças de hoje são mais propensas a este tipo de comportamentos do que há algumas décadas. Entre as várias manifestações de bullying as mais comuns são as verbais, como a troça, a provocação. “São vivências de humilhação, de isolamento, de vergonha que se podem transformar em fobia. As crianças podem ser particularmente cruéis, sobretudo quando não conhecem limites ou quando não lhes foi explicado o que é certo ou o que é errado”. A professora residente em Santarém e o seu colega Luís Fernandes, docente em Beja, acham que os professores sentem falta de instrumentos com que trabalhar e decidiram criar este manual destinado à classe docente. “Plano Bullying - Como apagar o bullying da escola” não é um livro de receitas mas tem lá os ingredientes todos, diz Sónia Seixas reconhecendo que algumas escolas ainda preferem viver em negação, até para evitarem a má publicidade, em vez de enfrentarem o problema de frente. “As crianças hoje quase não sabem brincar” Sónia Seixas, 42 anos, considera que o acesso a conteúdos violentos na Internet e na televisão pode ter influência nesse fenómeno, embora não seja determinante. “Se a violência e a agressividade entram pela vida das crianças e dos jovens através da Internet, da TV ou dos jogos, muitas vezes sem supervisão, isso faz com que o fenómeno da violência se torne mais banal. E a escola é onde eles estão a maior parte do dia, pelo que é natural que se manifestarem comportamentos violentos eles tenham um nível de incidência superior na escola”. E acrescenta: “As crianças hoje quase não sabem brincar se não tiverem uma maquineta. Não sabem o que hão-de fazer. E alguns miúdos que não têm o que fazer por vezes distraem-se implicando com os outros”. O bullying pode nascer de uma série de variáveis como a banalização da violência na sociedade, e de factores sociais e familiares como a ausência de “dois grandes adubos no crescimento da criança”: o afecto e a disciplina. “Têm que andar os dois a par. E muitas vezes há pouco tempo para a demonstração dos afectos e para a implementação de disciplina”. A investigadora reconhece que este é um problema que sempre existiu mas há novas configurações, como o ciberbullying. “Hoje, os meios tecnológicos ao dispor podem ser usados para agredir os outros. O que entra na Internet fica lá, não há forma de apagar”. O que mudou, diz, foi a atitude perante o fenómeno, que começou a ser estudado do ponto de vista científico. “Há também uma maior sensibilização para os direitos das crianças”, complementa. Professora, investigadora e subdirectora Sónia Raquel Seixas nasceu em Lisboa em 1970. É licenciada em Antropologia Social e em Psicologia Educacional e doutorada em Psicologia Pedagógica com uma tese sobre comportamentos de bullying e saúde. É professora adjunta da Escola Superior de Educação de Santarém desde 2000 e subdirectora da mesma escola desde Fevereiro de 2010. Casada e mãe de uma filha, tem-se dedicado na última década à investigação e divulgação científica sobre o bullying, através de publicações, comunicações e acções de formação. O livro “Plano Bullying - Como apagar o bullying da escola” foi apresentado pela primeira vez no dia 20 de Outubro na FNAC do Centro Comercial Vasco da Gama em Lisboa. Na sexta-feira, 9 de Novembro, houve nova apresentação na Escola Superior de Educação de Santarém, inserida nas comemorações do Dia da Escola. Fonte: O Mirante |
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