Victor Miranda
“Entro na escola pensando na hora de ir embora. Os poucos metros que preciso caminhar do ponto de ônibus até a entrada parecem intermináveis. Somos vítimas da nossa própria sociedade.” Uma declaração deste porte jamais poderia ser descartada. Ainda mais quando vem de uma professora que, por motivos óbvios, só aceita falar sem dar o seu nome.
O pedido de sigilo, aliás, não é exclusividade da educadora. Outras cinco pessoas – sendo três professores e dois pais de alunos – foram ouvidas por A Tribuna. Invariavelmente, o pedido era o mesmo: “pelo amor de Deus, não publiquem meu nome. Tenho medo de ser perseguido.”
No entanto, a situação está insustentável e essas pessoas resolveram falar. Elas esperam mostrar às autoridades que a rotina está insustentável. O problema se refere à Escola Municipal de Ensino Fundamental Prefeito Luiz Beneditino Ferreira, na Vila Margarida, que atende crianças do 1º ao 5º ano.
A Escola Municipal Prefeito Luiz Beneditino Ferreira convive com a insegurança em suas imediações e no interior
A gota d’água se deu na última segunda-feira, quando funcionários do
colégio e os alunos foram surpreendidos com a falta de luz pela manhã.
Não se tratava de um problema no abastecimento de energia elétrica. Mas
sim, do quarto furto da fiação externa da unidade de ensino em dois
meses.Enquanto a direção se empenhava para resolver o problema o mais rápido possível, junto à Prefeitura, alguns professores chegaram à conclusão de que era preciso dar um passo além. “Chega no domingo à noite, eu já fico imaginando se no dia seguinte teremos aula normal. Cada final de semana os criminosos aprontam uma”, justifica uma das educadoras.
Tal qual um novelo de lã que vai se desenrolando, o vandalismo contra a unidade remeteu a outra situação. Como a maioria dos funcionários não reside no próprio bairro e chega para trabalhar muito cedo – as aulas têm início às 7 horas – são alvo fácil de bandidos.
“Há mais de ano que não venho trabalhar com aliança. Nem mesmo bijuteria eu tenho coragem de colocar”, denuncia uma professora, citando que vários profissionais já foram assaltados enquanto iam ou voltavam da unidade escolar da Vila Margarida.
A revolta de outro funcionário é ainda maior. Segundo ele, enquanto não houver uma ação preventiva marcante, o problema vai persistir. Ou, quem sabe, até piorar.
“Cabe aí uma discussão sociológica. Houve um tempo em que as escolas eram respeitadas. Por mais que houvesse criminalidade, elas passavam ilesas, pois representavam um espaço pertencente à própria comunidade”, comenta ele.
A maior revolta dos profissionais é que, conforme eles, é mais fácil fingir que o problema não existe. “Estão roubando? Mandam andarmos sem coisa de valor. Invadem e furtam a fiação? É só mandar arrumar. Mas, até quando?”, finaliza a primeira professora citada nessa reportagem. Uma pergunta que continua ecoando.
Resposta
A Secretaria de Educação diz que vai construir uma estrutura resistente para proteger a entrada de energia (que fica no muro) da ação dos vândalos. Uma grade com esta finalidade já foi feita, mas acabou destruída. O órgão pediu ainda à PM e à Guarda Municipal que intensifiquem as rondas, especialmente nos finais de semana. Informa, ainda, que a Codesavi em todas as vezes promoveu os reparos. Quanto ao aluno que estaria portando munição, a direção buscou esclarecimento junto aos pais. A Polícia Militar também foi procurada por A Tribuna para comentar os problemas, mas não retornou até o começo da noite.
Colégio sofre com a indisciplina
Apesar do problema nos arredores, os professores dizem que a violência não é sentida da porta para dentro da unidade. “Só temos alguns problemas com indisciplina, mas isso é relativamente normal nos dias de hoje.”
No entanto, o pai de um aluno do 5º ano vespertino se surpreendeu quando o filho, uma criança de apenas 10 anos, recusou-se a ir para a escola há alguns dias. “Não era um comportamento comum dele. Ele sempre gostou de estudar”, diz.
Ao sentar para conversar com o menino, a justificativa veio de uma forma que o pai jamais imaginaria ouvir. “Ele chorou e disse que um amigo da classe tinha levado balas de revólver para o colégio. Nem sei como meu filho reconheceu aquilo, mas estava chocado.”
Histórico
No dia seguinte, o pai fez questão de procurar a direção da EMEF Prefeito Luiz Beneditino Ferreira. Ao explicar o ocorrido, teve como resposta que aquela criança tinha um histórico familiar complicado, mas era um bom garoto.
“Disseram que tinham ficado sabendo da história e que iriam pedir para conversar com a família. Mas e se algum dia uma criança aparecer armada? Pode estar surgindo uma tragédia anunciada.”
Fonte: A Tribuna
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