Por: » PEDRO MONTENEGRO - advogado associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
A crise na educação em Alagoas espelhada na desesperada e inútil “medida de segurança” da revista em alunos dentro da escola, adotada em conjunto pela direção, pais, professores e, pasmem, pelo conselho tutelar, é um problema político de primeira grandeza.
A crise expressa a contemporaneidade do pensamento arendtiano acerca da crise do mundo moderno refletida na educação. Hannah Arendt, em 1958, no seu magnífico e original ensaio A Crise na Educação, aponta com sua argúcia usual a essencialidade dessa crise. A imagem dos adolescentes sendo revistados dentro da escola é a emblemática presentificação da crise na educação que já alertava Arendt no citado ensaio.
A imagem simboliza, insofismavelmente, a essência da crise da educação: a incapacidade da escola de acolher, de iniciar os jovens no mundo, de interpor-se entre o mundo privado familiar e o mundo comum público.
A educação nos termos propostos por Arendt tem como função primordial a natalidade, ou seja, o acolhimento, a proteção e a iniciação dos seres novos no mundo, tornando-os competentes para examinar e transformar as tradições políticas, que formam uma complexa herança simbólica comum do mundo.
As manifestações de violência intramuros das escolas são correlatas às violências extramuros, expressam a crise mais geral da sociedade, portanto não podem ser abordadas como fenômeno pontual, isolado, a ser enfrentado na lógica fascinante do “concerto rápido” das medidas punitivas e repressivas.
Assim como é inconteste que a violência espraiada na sociedade impacta negativamente a vida das escolas, criando um ambiente de estresse permanente, gerando desconfiança e tensões na comunidade escolar, bloqueando a aprendizagem. Também é verdadeiro que escolas aprendizes cidadãs podem influenciar decisivamente na construção de uma cultura de paz na comunidade.
Insistir em seguir em frente ignorando a crise cujas cenas de violência nas escolas são apenas a manifestação mais latente e perversa ou voltar-se para trás em busca de soluções obsoletas é renunciar à essência da função da educação e do papel dos educadores nesta quadra dramática do mundo em que vivemos.
Cabe à educação, sobretudo aos educadores, ultrapassar aquilo que Arendt magistralmente definiu como uma das principais características do nosso tempo: “A irreflexão – a imprudência temerária ou a irremediável confusão ou a repetição complacente de ‘verdades’ que se tornaram triviais e vazias”.
Fonte: Gazeta de Alagoas
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