Rio -  Algumas expressões ou palavras caem no gosto popular e passam a ser usadas por todo mundo sem critério. Bipolar é uma delas. Outro dia, ouvi num salão de beleza uma cliente estressada dizer à cabeleireira, perplexa: “Você está atrasada para me atender, cuidado que sou bipolar”. A outra palavra que vem sendo mal usada é bullying. Uma palavra de origem inglesa. De uns tempos pra cá, tudo é bullying. Na escola, no trabalho, na vida. Conversei esta semana com a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa sobre isto, e ela deu uma definição de bullying que achei bacana compartilhar para esclarecer e evitar a banalização de coisa tão séria. Segundo Ana, o bullying é caracterizado pela repetição de atitudes violentas e agressivas, sejam físicas, verbais ou psicológicas. Não é uma única atitude.

E tem que ser intencional, ou seja, tem que ter a intenção de magoar, de ferir, e tem que ser feita por um grupo ou uma pessoa, contra outra, que não tenha capacidade ou condição de se defender porque é minoria ou porque tem uma característica de personalidade que não consegue fazer frente a esta agressão. Resumo da ópera: o bullying ridiculariza, humilha e intimida as vítimas e pode levar a consequências desastrosas. No colégio, entre crianças e adolescentes, essas atitudes acontecem com mais frequência e nem sempre são identificadas com facilidade. Quem não viu ou não viveu uma situação destas nos tempos de colégio? O povo que usava óculos era chamado de “quatro olho”, o gordinho de “rolha de poço” ou de “baleia”, as muito magras de “Olivia Palito” e por aí se ia, ou ainda se vai.

Uns não ligam, outros partem para os palavrões, e quase todo mundo sobrevive. Evitar que este problema entre alunos seja o estopim para prejuízos emocionais é desafio para todos, já que vítimas sofrem caladas diante do comportamento dos agressores. Cada um de nós tem um jeito de ser e de reagir, e por isto mesmo é preciso ficar atento aos jovens, ao comportamento e, principalmente, à personalidade deles para evitar as consequências.

Mas é fundamental não usar esta palavra em vão, para não misturar ou camuflar as coisas. Ana tem um livro sobre este assunto: chama-se “Bullying - Mentes Perigosas nas Escolas”, que pode ajudar pais e professores a lidar com esta questão. Quanto aos adultos, suas desavenças, agressões e humilhações são chamadas de assédio moral, que também tem consequências tristes ou desagradáveis, mas os mais velhos possuem mais instrumentos para se defender. E tomara que se defendam. Do racismo, da homofobia e de todos os preconceitos.
 
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Fonte: O Dia Net