Monica Weinberg (Veja)
O
Brasil é um país onde os pais participam pouco da vida escolar dos
filhos. Segundo pesquisa da OCDE (organização que reúne as
nações mais industrializadas), esse é um dos fatores que
explicam o baixo desempenho acadêmico dos estudantes brasileiros. De acordo
com o trabalho, existe uma relação direta entre o engajamento das
famílias no processo de aprendizado e os bons resultados escolares. Os
melhores exemplos nesse campo vêm de países asiáticos, como
Japão e Coréia do Sul, onde as mães chegam ao extremo de
fazer cursos para aprender a lição dos filhos. A experiência
oriental, que tem contribuído para colocar tais estudantes entre os melhores
do mundo, serve de alerta para os pais dos 30 milhões de brasileiros que
voltam às aulas em fevereiro.
Com o objetivo de reunir sugestões sobre como a família pode ajudar,
VEJA entrevistou o professor Harris Cooper, diretor de um instituto voltado para
pesquisas sobre educação na Duke University, nos Estados Unidos.
Há duas décadas, Cooper se dedica a estudar os efeitos positivos
da participação dos pais na vida escolar. Nesta reportagem, ele
dá idéias práticas com base em seus últimos trabalhos
sobre o tema. Também foram convidadas a opinar cinco das melhores escolas
de ensino fundamental do Brasil, segundo ranking publicado por VEJA. Elas estão
de acordo em relação à dose adequada de ajuda familiar nos
estudos. Eis o resultado:
O QUE O
PROFESSOR HARRIS COOPER SUGERE PARA QUE OS PAIS PARTICIPEM DAS TAREFAS ESCOLARES
• Garantir que não faltem em casa
livros, um bom dicionário e espaço tranqüilo para realizar
o dever •
Mostrar-se entusiasmados em relação às tarefas dos filhos.
Segundo pesquisas, isso ajuda a fazê-los encarar o dever como uma atividade
prazerosa •
Fazer a criança perceber que suas tarefas têm aplicação
na vida prática. Por exemplo: ao consultar seu saldo bancário, mostrar
como se usa a matemática para conferir a conta •
Ao ter a ajuda requisitada, apenas dar sugestões de como resolver a questão.
Está provado que essa é uma estratégia mais eficiente do
que revelar a resposta •
Se a criança demonstrar sinais de exaustão, sugerir um intervalo
para o descanso antes da conclusão da tarefa
O
QUE AS ESCOLAS OUVIDAS POR VEJA FALAM SOBRE DEVER DE CASA
Como elas acham que os pais podem auxiliar nas tarefas escolares
Primeiro,
os pais devem estimular os filhos a ter uma rotina de estudos em casa. Outra medida
de efeito positivo é que demonstrem interesse pelas tarefas. Em relação
à ajuda na realização dos deveres, o consenso é que
os pais desempenhem o papel de orientadores. Ao serem solicitados, eles devem
indicar livros e sites para pesquisa. Também podem fornecer pistas sobre
a resolução de um problema. "Dar a resposta certa, jamais", dizem
os educadores ouvidos por VEJA.
Quanto
tempo os estudantes devem dedicar aos deveres, segundo as escolas entrevistadas
Da 1ª à 4ª série, no máximo
duas horas. Da 5ª à 8ª série, o limite é de três
horas.
Brincadeira
sem graça
Digital Vision/Getty Images |
Apelidos e implicâncias entre
colegas fazem parte da vida escolar. O que preocupa os especialistas é
quando esse tipo de atitude descamba para a agressão física e moral,
com um bode expiatório definido e por longo período. A essa prática
dá-se o nome de bullying, palavra importada do inglês que
designa um fenômeno bastante presente em escolas dos Estados Unidos. No
Brasil, a pesquisa mais recente sobre o assunto foi feita pela Abrapia –
associação voltada para estudos sobre a infância e a adolescência
– em escolas do Rio de Janeiro. O trabalho concluiu que 40% dos entrevistados
praticam ou sofrem bullying no ambiente escolar. Entre os colégios
ouvidos por VEJA, alguns já têm programas para enfrentar o problema.
No Neo Planos, do Recife, os professores recebem treinamento para lidar com casos
de bullying. No Colégio Porto Seguro, em São Paulo, pais
e alunos participam de palestras informativas sobre o tema.
A especialista Cleo Fante, autora do livro Fenômeno Bullying, formulou
um manual que reúne os sinais observados com maior freqüência
nas vítimas desse tipo de prática. Eis alguns:
•
O estudante prefere ficar trancado no quarto a sair com os amigos •
Ele raramente é convidado para uma festa da escola •
Seu desempenho escolar apresenta piora •
Pede ao pais que o troquem de escola sem uma razão convincente •
Antes de ir ao colégio, sua muito e tem dores de barriga ou de cabeça
• Ele
manifesta o desejo de mudar algo em sua aparência
O cyberbullying
Marcelo Kura |
Esse é o nome dado ao tipo de agressão
praticado por meio de artefatos tecnológicos, como blogs na internet e
mensagens no celular. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos chegou a um número
impressionante sobre o assunto: 20% dos estudantes americanos de ensino fundamental
são vítimas do cyberbullying. Outra pesquisa, essa realizada
na Inglaterra, quantificou o número de meninas que são alvo de agressões
via celular. Isso ocorre com 25% das inglesas.
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Eles eram alvo de implicância
MAÍLSON
DA NÓBREGA, economista Apelido na escola:
Mané Perua (pela atribuída semelhança com um senhor,
notório pela feiúra, que residia em sua cidade natal) Como reagia
ao ser importunado: ficava calado. "A brincadeira deixava de ter graça"
FERNANDO
MELIGENI, tenista Apelido na escola: Móbile
(por sua magreza) Como reagia ao ser importunado: discutia com os colegas,
embora não surtisse nenhum efeito. "Isso me fez desenvolver um espírito
de autodefesa"
EDUARDO
PAES, deputado federal Apelido na escola: Cabeça
de Ovo Como reagia ao ser importunado: ouvia em silêncio. "Aprendi
a desprezar as críticas desimportantes"
ANA
HICKMANN, modelo Apelido na escola: Ana Banana
Como reagia ao ser importunada: ficava triste e permanecia calada. "Entendi
com o tempo que a chacota não tinha o menor valor"
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