Baseada no livro "Os 13 Porquês", lançado em 2007 por Jay Asher, a produção remonta aos poucos a bola de neve que levou Hannah a tirar a própria vida.
Alvo de bullying e abusos no colégio, Hannah tira a própria vida na série "13 Reasons Why" Imagem: Divulgação/Netflix
Atores canastrões e histórias bobas com reviravoltas mirabolantes são o que geralmente vêm à mente quando se fala de séries voltadas ao público adolescente. Mas "13 Reasons Why", que estreou sexta-feira (31) na Netflix, é uma bem-sucedida exceção à regra: com um elenco afinado, a série dá um mergulho profundo para tentar explicar o suicídio de Hannah Baker (a novata Katherine Langford), uma garota de 17 anos.
Baseada no livro "Os 13 Porquês", lançado em 2007 por Jay Asher, a produção remonta aos poucos a bola de neve que levou Hannah a tirar a própria vida. Ela deixou 13 fitas-cassete direcionadas àqueles que contribuíram para sua decisão, e, como um quebra-cabeças, cada uma delas vai revelando uma nova resposta para o mistério, enquanto permite aos espectadores que conheçam mais de Hannah e dos demais personagens --em especial, de Clay Jensen (Dylan Jensen), que era apaixonado pela colega de escola.
É de Clay o ponto de vista que norteia a maior parte da série. Sua jornada enquanto escuta as fitas, ao longo de duas semanas, torna-se tão importante quanto a história de Hannah. Perturbado pelo que escuta, o jovem tem que lidar com o luto e seu próprio sentimento de culpa enquanto os outros colegas citados na fita tentam manter em segredo os acontecimentos para preservar suas próprias reputações.
Com fortes pararelos com casos da vida real, as ações relatadas nas fitas variam de maldades típicas do ambiente escolar, como listas de "mais e menos e gostosas", a crimes graves, como invasão de privacidade e estupro- tudo permeado com fortes doses de machismo. E a série, para seu mérito, não se furta a dsicutir nenhum desses assuntos, analisando-os de uma forma madura que poucas arriscam, sem subestimar o seu público-alvo.
Já presentes no livro de Jay Asher, esses temas espinhosos ganharam mais cores na versão televisiva, roteirizada pelo vencedor do Tony e do Pulitzer Bryan Yorkey e produzida por uma equipe eclética que inclui a cantora Selena Gomez e Tom McCarthy, vencedor do Oscar por "Spotlight". Em uma decisão acertada, a história que originalmente não dava espaço para outros personagens além de Clay e Hannah foi expandida, figuras estereotipadas ganharam tridimensionalidade, e os algozes de Hannah se tornaram muito mais capazes de provocar reflexões (e identificação) em quem os assiste.
O elenco também ganha espaço para brilhar, e se mostra à altura do desafio. Liderado por Katherine Langford e Dylan Minette, que entregam excelentes atuações para os dramas de Hannah e Clay, um time diverso de coadjuvantes traz performances sólidas, com destaque para Alisha Boe como Jessica, ex-melhor amiga da protagonista, e Kate Walsh (a Addison de "Grey’s Anatomy"), que comove com o seu retrato de uma mãe em luto.
Alguns momentos repetitivos e o uso de clichês já vistos em outras produções adolescentes, como "Pretty Little Liars" e "Gossip Girl", às vezes cansam o espectador, principalmente aquele que é adepto das maratonas. Mas "13 Reasons Why" é, no geral, muito sedutora com sua subversão do "quem matou?". Com seu bom retrato dos adolescentes do século 21, esse grupo ainda pouco compreendido, a série é forte candidata ao posto de "nova obsessão da Netflix", que no ano passado foi de "Stranger Things", e prova que é possível tornar assuntos profundamente incômodos em produções que você não consegue parar de ver.
Fonte: UOL
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