quarta-feira, 19 de abril de 2017

A caminho do Brasil, vocalista do Korn comenta novo disco, Trump e polêmica com Sepultura


Em entrevista ao G1, Jonathan Davis critica novo presidente americano e diz que declaração sobre brasileiros foi tirada de contexto. Banda faz três shows no país.


Por Cesar Soto, G1


Jonathan Davis, conhecido como JD, engana. Quem o vê à frente do Korn, seja nos 12 discos da banda, nos clipes estilosos ou nas apresentações barulhentas imagina um cara um tanto agressivo e voz gutural. Esta é a versão que os fãs brasileiros poderão conferir de perto pela quinta vez a partir desta quarta-feira (19), quando o Korn realiza no Espaço das Américas, em São Paulo, a primeira de três apresentações no país.

A ilusão dura até a primeira troca de palavras com sua versão civil. Quem falava pelo telefone ao G1 era um JD de fala tranquila e baixa, mais preocupada com questões como bullying e o combate à diabetes tipo 1, da qual seu filho é vítima — mesmo que o vocalista não esconda seu gosto pelo peso do som da banda e por palavrões para pontuar cada ideia.

Esse outro JD é uma versão que pensa bem para falar sobre o atual presidente do Estados Unidos, Donald Trump, se recusa a princípio, mas que se entrega depois de um tempo. "Está dividindo nosso país. É uma época assustadora. Eu tenho medo pelos meus filhos", afirma.

E é uma versão que não tem problemas para explicar a polêmica em que foi envolvido após declarar em uma entrevista que "Roots", disco clássico dos brasileiros do Sepultura — e que até ri de ter sido tirado de contexto.

Depois de São Paulo, o Korn parte para apresentações em Curitiba, no Live Curitiba, nesta sexta-feira (21), e Porto Alegre, no Pepsi on Stage, no domingo (23). No palco, Davis terá a seu lado James "Munky" Shaffer (guitarra), Brian "Head" Welch (guitarra) e Ray Luzier (bateria) e uma novidade. Como o baixista Reginald "Fieldy" Arvizu não poderá participar da turnê pela América Latina, a banda recrutou um integrante de apenas 12 anos para suas funções: Tye Trujillo, filho de Robert Trujillo, do Metallica.


G1- Você acha que "The serenity of suffering" é seu álbum mais pesado até agora?

Jonathan Davis - É bem pesado pra caralho [risos]. Eu acho que Nick [Raskulinecz, produtor do disco], Munky e Head realmente queriam fazer um disco pesado. Nick sentia falta dessa coisa mais pesada de uma banda maior e queria fazer isso. E Munky e Head também queriam, então foram atrás disso.

Sabe, eu não me envolvi até que a maior parte das coisas estavam feitas, então tive de me acostumar. Eu não fazia um álbum pesado como esse há muito tempo. Eu só queria fazer alguma merda nova. Demorei um tempo para aceitar e entender. Mas eu fico feliz que me forcei a fazer isso. Porque eu adorei o álbum.

G1 - E como esse peso se traduz para vocês no palco? É diferente na hora de se apresentar?

Jonathan Davis - Não, é muito bom ao vivo. É pesado. As pessoas gostam. Há coisas que você nunca sabe. Quando está escrevendo um disco, nunca sabe como as pessoas vão reagir a como ele se ficará durante um show. Sabe, algumas músicas do álbum, quando você vai tocá-las ao vivo, elas não se encaixam exatamente. E está tudo bem. A gente tem um zilhão de músicas para escolher. Mas esse disco tem faixas extremamente boas. Eu adoro elas.

G1 - Você acabou de lançar a campanha contra o bullying Be Different. Quão importante é esse assunto para você e como está a campanha atualmente?

Jonathan Davis - Eu cresci sofrendo bullying. Eu era pequeno e estava sempre doente quando era criança — eu tinha uma asma muito forte até os 11 anos. Muita gente enchia meu saco por estar sempre doente. E então eu era perseguido no colegial, como todos sabem, porque eu curtia sons new wave e usava lápis de olho e essas coisas. Me chamavam de "bicha" e essas merdas. Eu sei como é sofrer de bullying.

Fiz muito trabalho de caridade no passado. Tentei aumentar a consciência a respeito. Levantei dinheiro para meu filho, que tem diabetes tipo 1. Fiz muita coisa com a JDRF [ONG de pesquisas para diabetes tipo 1], mas eu queria fazer mais alguma coisa para ajudar pessoas que sofrem com o bullying, porque não é uma piada. É uma merda. Queria fazer algo com essas organizações que ajudam essa molecada que passa por essa merda. Não é legal. O bullying ferra com a cabeça das pessoas e coisas estúpidas acontecem. Precisamos lidar com isso.

G1 - Você acha que a reação ao bullying hoje em dia é diferente do que quando era criança?

Jonathan Davis - Com certeza. Cara, esse é um assunto muito difícil. Porque o abuso é um negócio sério. Ele ferra com a cabeça das pessoas. E às vezes elas reagem de formas extremas, após apanharem todos os dias, seja nelas mesmas ou nos outros. E hoje em dia ainda há toda a merda que as pessoas fazem online. Mandam mensagens, perseguem, atacam. E essas instituições ajudam as pessoas a lidar com isso.

Mas estou feliz que as leis estão mudando e que as pessoas estão acordando para este problema. Mas na época em que eu estava crescendo já era horrível — apanhar todo dia é uma merda — e agora há um monte de merda nova acontecendo.

G1 - E o que acha da presidência de Donald Trump até agora?

Jonathan Davis - Merda... Isso é tudo que eu posso dizer [risos]. Eu não quero entrar nesse assunto... Eu não sei. É horrível. Eu estou assustado. Espero honestamente que alguém consiga entender tudo e fazer as coisas voltarem ao normal. Porque essa merda tá louca. Está dividindo nosso país. É uma época assustadora. Eu tenho medo pelos meus filhos. Sinceramente. Eu não falarei mal dele, ou qualquer coisa assim, mas eu acho que ele não é qualificado para ser presidente.

O cantor Jonathan Davis, vocalista do Korn, durante o show da banda no Rock in Rio Lisboa (Foto: Divulgação)

G1 - Bom, e aquela polêmica com o Sepultura? Você falou mesmo que eles plagiaram vocês? Eu sei que você já disse que foram muito influenciados por eles.

Jonathan Davis - Não é isso... Sabe, aquela foi uma merda de uma entrevista [risos]. Eu amo o Max [Cavalera]. Eu amo os cara do Sepultura. E eles me influenciaram pra cacete. Aquela não foi uma cutucada na banda, foi uma cutucada no Ross [Robinson, que produziu "Roots" após cuidar dos dois primeiros discos do Korn]. Ok? Não tinha nada a ver com Sepultura.

Eu amo eles e eles realmente me influenciaram. Quando ouvi o "Chaos A. D." eu fiquei: "Eita, porra. Que que é isso?". E "Roots" é um disco maravilhoso. Toda aquela merda acabou saindo de controle. Ela é citada totalmente fora de contexto. E eu peço desculpas.

Eu conheço os filhos do Max. E até quando estávamos em São Paulo o Andreas [Kisser] apareceu e tocou "Roots" conosco. E foi legal pra cacete! Eles são ótimos. Claro que eles nos influenciaram.

G1 - Vocês estão na estrada há tanto tempo. Quando estão compondo e tocando, se preocupam em ganhar novos fãs ou estão mais preocupados em manter os que já têm?

Jonathan Davis - Não, cara. Esse álbum foi um retorno à coisa mais pesada e coisas assim. Mas o fã nunca foi parte das preocupações. Se você se coloca em uma caixa, vai ficar em uma caixa. Nós sempre queremos nos desafiar criativamente em fazer coisas novas. É por isso que fizemos coisas com estilos tão diferentes e álbuns tão diferentes. E eu gosto muito disso.

Por que você ficaria fazendo o mesmo disco diversas vezes? Tem algumas bandas que conseguem fazer isso. Como AC/DC. Eles têm uma coisa que fazem e é perfeito e todo disco é maravilhoso pra cacete. Mas com a gente é diferente.

Tudo começou no nosso primeiro disco. Vimos outras bandas aparecendo que se pareciam com aquilo e pensamos que precisávamos começar a fazer outras coisas, porque senão todos iriam soar como a gente. Então virou um hábito. E era divertido fazer um álbum novo. "Como vamos fazer dessa vez?" E 12 álbuns depois ainda estamos fazendo coisas e tentando deixá-las divertidas.

G1 - Vocês já estiveram no Brasil. Há alguma coisa que vocês estão ansiosos por fazer ou ver novamente?

Jonathan Davis - Todas as vezes que tocamos em São Paulo o público canta mais alto que eu. Eu amo como todo mundo se diverte. Eu sei que o preço dos ingressos pode ficar muito caro por aí, e reconheço muito o esforço que os fãs fazem para economizar e ir.

KORN

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