Aprenda de onde surgiu o desafio da Baleia Azul, que assusta pais, mães e educadores e teria causado suicídios no Brasil
Por Paulo Alves
Pais têm um novo motivo de preocupação com seus filhos e filhas no Brasil. O desafio da Baleia Azul, uma espécie de jogo que ganha popularidade entre jovens com idade escolar, vem sendo apontado como causa de mutilações e suicídios no país. Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, estado que registrou uma morte supostamente ligada ao jogo, o grupo envolvido no caso inclui participantes com idades entre 10 e 20 anos. Mas, afinal, de onde surgiu tudo isso e como se proteger?
Tudo indica que o Baleia Azul tenha sido originado do Blue Whale, jogo com tendências suicidas que se espalhou pela Europa nos últimos dois anos. Ele teria sido visto pela primeira vez em redes sociais na Rússia e repercutido principalmente entre adolescentes. O curioso é que há chances de que o problema tenha surgido de uma notícia falsa circulada por um veículo de comunicação estatal russo. Mas, como toda fake news, ela acabou tendo reflexo real.
Segundo evidências colhidas pela polícia brasileira, o Baleia Azul é um jogo macabro de 50 etapas espalhado em conversas do WhatsApp e outros apps de mensagens. Os itens incluem uma série de ordens a serem cumpridas pelo jovem, que começam em desafios simples, como assistir a um filme de terror. Ao avançar, cada “missão” se torna mais perigosa, como ficar no alto de um prédio por um determinado tempo ou mutilar o próprio corpo.
O suicídio é o desafio número 50 do Baleia Azul. Há cerca de uma semana, uma menina de 16 anos tirou a própria vida em Vila Rica (MT) e deixou bilhetes com instruções do desafio. Nos escritos da última “missão”, havia trechos como “abrace os seus pais e diga a eles que os ama”, “peça desculpas”, “tire a sua vida”.
Casos similares se espalham pelo país e já surgem em Bauru (SP) e na capital paulista. A polícia investiga casos de mutilação entre estudantes de medicina da USP. Eles supostamente fariam parte de um grupo de pessoas participantes do desafio.
Série 13 Reasons Why e o desafio da Baleia Azul
A série da Netflix 13 Reasons Why ganhou popularidade entre jovens nas últimas semanas. Ela conta a história de Hannah, uma jovem de 17 anos que se suicida e conta os 13 motivos (ou 13 pessoas) que a levaram a cometer o ato. Apesar da campanha de marketing vender o programa como maneira de conscientizar jovens sobre bullying na escola, há quem discorde do seu caráter educativo.
Para o psiquiatra Luis Fernando Tofoli, a dramatização do suicídio é perigosa e pode gerar efeito em cadeia. Ao Nexo, ele afirmou que:
“A série comete vários erros, não recomendados por estudos que demonstram elementos que causam o contágio. O efeito de imitação, chamado em inglês de “copycat effect”, é usado para [designar] todo fenômeno que copia a mídia. Só mostrar o suicídio já é ruim. Mostrá-lo com uma alta carga emocional, plasticidade e impacto visual, como é feito na série, é pior ainda. Ainda que a personagem mostre que está doendo, que ela está sofrendo, fazer uma representação cinematográfica de uma cena de suicídio não é recomendável. Tem um risco associado a isso.”
O especialista também levanta a questão da culpabilização do suicídio. A série mostra como colegas de Hannah teriam sido responsáveis por sua morte de uma maneira ou de outra. Segundo Tofoli, é uma prática que pode piorar o problema. “Essa ideia de encontrar culpados é ruim para cuidar de quem está vivo, de quem sobreviveu, e pode levantar fantasias de vingança nas pessoas e as empurrar na direção do suicídio.”
Para a psicóloga, psicoterapeuta e suicidologista Karen Scavacini, que conversou com o Showmetech, a série tem muitos pontos positivos, mas peca no final.
“Pela minha experiência, todos [quem comete e quem sofre bullying] estão assistindo à série. Onde ela erra é no final. [A dramatização do suicídio] vai contra todos os manuais da Organização Mundial da Saúde”.
6 maneiras de proteger seus filhos
O problema é real e preocupante, então é importante tomar medidas para proteger os filhos e filhas e evitar o pior. Veja seis maneiras de mantê-los seguros:
1) Procure por mudanças no comportamento
Para a especialista em suicídio Karen Scavacini, é essencial notar mudanças bruscas de comportamento do jovem, como:
- Apetite
- Isolamento
- Agressividade
- Queda no rendimento escolar
- Mudanças de hábitos de sono
- Usar manga comprida sem motivo aparente
- Privacidade excessiva no celular ou computador
2) Procure por lesões suspeitas no corpo
Várias fases do Baleia Azul envolvem ferimentos ao próprio corpo com objetos cortantes. Relatos de pais e fotos vazadas mostram que essas lesões podem ter o formato de uma baleia ou de letras, geralmente feitas nos braços. Há também relatos de queimaduras intencionais e cortes nas coxas.
De maneira geral, porém, vale buscar por qualquer indício de automutilação escondida por roupas compridas demais.
3) Converse com seu filho ou filha
O consenso entre profissionais da psicologia e psiquiatria é que pais mantenham contato estreito com os filhos para evitar isolamento. É importante conhecer as atividades que eles se envolvem e seus amigos. Mas, é essencial que essa aproximação não seja artificial, sob perigo do jovem notar o comportamento diferente e se isolar ainda mais.
Uma maneira de mostrar o valor da vida é traçar metas e projetos em conjunto, como viagens em família e atividades divertidas para o fim de semana.
Para Scavacini, a conversa deve ser direta ao ponto. “Todos sabem do que se trata e assistiram à série da Netflix. Eles conversam sobre isso na escola”.
4) Monitore smartphone e computador
A tecnologia vem sendo usada para disseminar o perigo do Baleia Azul, mas também pode ajudar a freá-lo. Já existem ferramentas que permitem monitorar o celular e o computador de alguém. Confira apps para proteger seus filhos e saber sua localização.
As melhores opções são pagas, mas permitem até visualizar as conversas de WhatsApp. O desafio do suicídio é espalhado em grupos no aplicativo, então vale monitorar conversas como último recurso caso haja uma conversa franca não dê certo.
5) Cobre atitudes da escola
Em algumas escolas pelo país, projetos de enfrentamento ao suicídio envolvem criar grupos de jovens em torno de projetos interessantes para a faixa de idade. Em um deles adolescentes se reúnem para criar um jogo eletrônico desde a concepção dos personagens até o desenvolvimento do game.
Segundo especialistas, essa é uma maneira efetiva de engajar adolescentes em algo que dê sentido à vida. Outra maneira é cobrar canais dentro da instituição para jovens se sentirem acolhidos em busca de apoio sentimental.
6) Busque por ajuda
O CVV (Centro de Valorização da Vida) presta há anos ajuda a quem precisa de apoio emocional. A instituição pode ser contatada pelo telefone 141 e via internet 24 horas por dia por Skype (@posto_virtual_1)
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