Umuarama – O mês de abril foi palco de uma ampla discussão da situação psicológica das crianças, adolescentes e jovens. O jogo da Baleia Azul surgiu como um sinal para a sociedade abrir os olhos para essa parcela da comunidade que muitas vezes sofre calada. Para falar a respeito do desafio que leva ao suicídio e também do bullying, o jornal Umuarama Ilustrado conversou com o psiquiatra Maurício Bianco. Para o profissional, o alerta se volta para a relação entre pais e filhos.
Bianco ressaltou que toda a discussão envolvendo a situação psicológica da juventude abriu os olhos da sociedade para um problema que vem se tornando corriqueiro nos consultórios: a depressão juvenil. Para ele, o caso do jogo da Baleia Azul mostra que se os pais forem competentes eles vão entender o pedido de socorro do filho, se não for, o pior acontecerá. “Não é só o suicídio, existem várias formas de se matar. O jovem pode bater o carro, se isolar, começar a usar drogas, a overdose. A morte não é só física, mas psicológica”, alertou o profissional.
Desta forma, o psiquiatra fala que os pais precisam prestar atenção nos filhos, participar da sua vida, seus anseios e dificuldades, como também suas vitórias. “Os pais vivem em um momento que os afazeres consomem seu tempo, mas é preciso ter o tempo para seus filhos. Faça atividades com eles, verifique os gostos dos filhos e tente se aproximar, mas isso tem que começar desde cedo. Em alguns casos é preciso a ajuda de um profissional da área”, orientou Bianco.
Por ser uma fase de mudanças fisiológicas, psicológicas e sociais, os jovens acabam vivendo a onipotência juvenil, em que eles sabem de tudo e os pais não sabem nada. Nesta situação o entrevistado orienta a não enfrentar determinadas situações, mas entender o momento e buscar soluções, pois todos já fomos adolescentes. “Já fomos adolescente e temos que usar esse conhecimento para salvar nossos filhos”, acrescentou.
CONSTRUÇÃO DO PSICOLÓGICO – Outra situação de perigo para as crianças, adolescentes e jovens é o bullying. Maurício Bianco explica que a violência física ou psicológica (bullying), acontece em uma faixa etária em que o ser humano está na formação psicológica, então se torna muito receptiva e sofre mais, se comparado a uma pessoa com a formação completa. “Isso faz com as agressões na infância promovam repercussões no futuro”, ressaltou.
Conforme o psiquiatra, o bullying é uma luta de poder e nem sempre o mais forte fisicamente vai promover a violência, e sim, o mais agressivo. “Essa atitude agressiva e violenta consegue intimidar as outras pessoas, pois quem sofre é uma pessoa mais isolada, com poucos amigos. O grupo se junta e acabam atacando os mais fracos. Então essa criança sempre vai ter autoestima baixa, dificuldade de fazer amigos. Vai ser mais insegura e na vida adulta pode inverter esse papel de covarde para ser mais agressivo”, alertou.
DEPRESSÃO JUVENIL – O bullying sempre existiu, o que muda é que antigamente as pessoas tinham uma atitude menos hostil, não eram tão agressivos, além de se falar mais do assunto, ressaltou o médico. No Brasil, aproximadamente um em cada dez estudantes é vítima frequente de bullying nas escolas. São adolescentes que sofrem agressões físicas ou psicológicas, que são alvo de piadas e boatos maldosos, excluídos propositalmente pelos colegas, que não são chamados para festas ou reuniões. O dado faz parte do terceiro volume do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2015, dedicado ao bem-estar dos estudantes.
Tal situação é um alerta, pois vem acarretando com frequência jovens com depressão nos consultórios psiquiatras. “Na depressão juvenil o jovem fica mais triste e isolado e acaba partindo para as drogas, pois o bullying gera ansiedade e as drogas lícitas e ilícitas acabam diminuindo essa ansiedade”, esclareceu o médico.
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Escolas em alerta
As escolas também precisam ficar atentas as situações de agressões e saber trabalhar com isso, levantar e discutir o problema entre seus personagens, argumento Bianco. “É um momento complexo da nossa sociedade, mas não adianta se fechar. Talvez não estamos falando a língua dos jovens, pois a escola é engessada, o adolescente é livre e os pais atarefados”, finalizou.
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Baleia Azul
O jogo virtual Baleia Azul é praticado em comunidades fechadas de redes sociais como Facebook e Whatsapp e instiga os participantes, em maioria adolescentes, a cumprir 50 tarefas, sendo a última delas o suicídio.
Pelo menos três mortes suspeitas de estarem relacionadas ao suposto jogo são investigadas pelas autoridades locais de Belo Horizonte, Pará de Minas (MG), Arcoverde (PE).
No Rio de Janeiro, a Polícia Civil investiga, pelo menos, quatro casos suspeitos, todos envolvendo adolescentes a prática do jogo no estado. A Polícia Federal busca os envolvidos com o jogo.
Na tentativa de proteger crianças e adolescentes nas redes sociais, o Safernet, entidade que aborda a questão da privacidade e segurança na internet, abriu uma linha para falar com os usuários sobre o Baleia Azul.
Por meio de um post no Facebook, a instituição se põe à disposição para responder e-mail por 24h, para conversar em tempo real com os internautas e em oferecer atendimento psicológico a quem precisar.
Por meio de um post no Facebook, a instituição se põe à disposição para responder e-mail por 24h, para conversar em tempo real com os internautas e em oferecer atendimento psicológico a quem precisar.
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