sexta-feira, 21 de abril de 2017

Peça teatral aborda bullying no trabalho e a busca por ascensão social

João Caldas/DivulgaçãoRodolfo Vaz - 21042017
Ator Rodolfo Vaz vive Akaki Akakievitch no espetáculo O Capote, que será encenado no teatro do Sesi Rio Preto neste fim de semana
Francine Moreno
Akaki Akakievitch, um escrevente de uma repartição pública de São Petersburgo, vive uma vida medíocre sem amigos. Para se proteger na gelada cidade da Rússia e tentar se enquadrar em algum grupo, ele precisa comprar um casaco novo, pois o seu já está todo remendado. Para adquirir a peça, ele economiza todo o seu dinheiro e se submete a severas restrições. Assim podemos definir o personagem central de O Capote, espetáculo inspirado na clássica obra de Nikolai Gogol, que teve papel de destaque no desenvolvimento da literatura russa a partir do século 19. O conto ganhou adaptação do médico Drauzio Varella.
Inicialmente escrito como monólogo, a produção ganhou contribuição do dramaturgo Cássio Pires, que acrescentou dois atores em cena. Yara de Novaes ficou responsável pela direção. O Capote é a segunda montagem da Oitis Produções Culturais, liderada pelo casal Fernanda Vianna e Rodolfo Vaz. O ator, que deixou o grupo mineiro Galpão após cerca de 25 anos, interpreta Akaki Akakievitch. Segundo ele, quem for ao teatro vai se identificar com o personagem, que transita entre o cômico e o trágico.
Rio-pretenses terão essa oportunidade nesta sexta e sábado, 21 e 22, quando O Capote será encenado no teatro do Sesi. No palco, o público acompanha a história do funcionário público que só trabalha, é solitário e desajustado. “Ele nunca teve voz e só conseguiu se firmar depois de morto”, conta Vaz. Segundo ele, Akaki Akakievitch tem um capote que está muito velho. Ele tenta levar no alfaiate, mas não tem conserto. Ele trabalha muito e faz economias diárias, como o corte da energia de sua casa, para comprar um novo casaco.
Depois da aquisição, ele começa a ser notado pela repartição e até é chamado para ir a uma festa Após a sua ascensão social, ele volta para a sua casa na periferia, é assaltado e seu casado levado. Sem o capote, ele fica depressivo, doente e morre. Morto, ele retorna ao mundo como um fantasma e começa a roubar capotes. Rodolfo Vaz explica que, para dar mais dramaticidade ao espetáculo, dois narradores entram em cena, vão contando a história e não deixam Akaki Akakievitch dar a versão dele. Eles são interpretados pelos atores Rodrigo Fregnan e Marcelo Villas Boas.
O ator conta que o espetáculo se torna muito atual ao falar sobre submissão e poder, com um tom extremamente irônico. “Ele acaba representando um grupo de pessoas que hoje não têm voz. Desta forma, a peça se torna uma comédia social”, diz o ator. A produção também abusa da tecnologia. No palco, os atores são acompanhados por projeções de vídeos assinadas por Rogério Velloso. E contam também com a participação da musicista Sarah Assis, que toca piano ao vivo.
O espetáculo estreou em 2015 e percorreu várias cidades. “O retorno do público é intenso. As pessoas contam que sentem um pouco de desconforto, medo. Além disso, homens e mulheres se identificam com o personagem, que sofre bullying dentro das repartições. Alguns se reconhecem como aqueles que fazem os ataques e no dia a dia não percebem”, explica.
Rodolfo Vaz afirma que no final o espetáculo tem uma pureza e é engraçado. “Ele também é patético, num estilo da comédia do Charles Chaplin. As pessoas se envolvem e saem do teatro com pena e sentido culpa pela vida de Akaki. A história é uma espécie de lente de aumento sobre a miséria humana. Muitas vezes não olhamos para o outro com a atenção que merece e deixamos de lado. Pode ser o porteiro do prédio que você passa e nem dá bom dia”, exemplifica ele.
Em Rio Preto
Essa não é a primeira vez que Rodolfo Vaz desembarca na cidade. O ator esteve com o grupo Galpão, que é considerado um dos principais do teatro contemporâneo do Brasil e que fazem parte da história do Festival Internacional de Teatro (FIT), de Rio Preto. Em 2006, por exemplo, o ator integrou o elenco de Um Molière Imaginário e Um Homem é um Homem. Em 2012, Vaz apresentou o espetáculo Romeu e Julieta.
Na peça, ele interpretou Mercuccio e Fernanda Vianna, sua esposa, viveu Julieta. Em 2013, o ator esteve em Rio Preto ao lado de Fernanda Vianna, para realizar curso Antes da Cena: Teatro de Rua no Sesc. No curso do Sesc, os atores abordaram temas como a importância da escuta do ator, a disponibilidade para o improviso e técnicas de atuação.
“Fiz muitos amigos em Rio Preto e espero encontrá-los”, afirma o ator, que tem 36 anos de carreira. Vaz explica que deixou o Grupo Galpão, radicado em Belo Horizonte, após 25 anos, para embarcar em projetos pessoais. “Me desliguei do grupo por uma necessidade artística. Não houve um rompimento ou uma separação com traumas”, afirma.
Serviço
  • Espetáculo O Capote. Hoje e amanhã, às 20h, no teatro do Sesi. Gratuito. (17) 3224-6611.

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