sexta-feira, 21 de abril de 2017

No desporto, há 10% de vítimas de bullying

VISÃO

Gonçalo Rosa da Silva / Arquivo VISÃO

Estudo nacional diz que no desporto praticado pelos jovens, existem 10% de vítimas de bullying, 11, 2% de agressores e ainda 35% que assiste ao que se passa, sem nada fazer

Luísa Oliveira
Jornalista
Depois de cinco anos no terreno, o psicólogo clínico Miguel Nery, cuja tese de doutoramento dá pelo título de Bullying no contexto da formação desportiva em Portugal, vai finalmente pôr a mão na massa. Ele e a sua equipa de técnicos da Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, com o professor Carlos Neto à cabeça. "A coisa está feia e atinge desde claques a treinadores", adiantou este coordenador.
Depois de todo o trabalho que fez junto de quase 1500 atletas de modalidades coletivas, individuais e de combate, Miguel Nery chegou à conclusão de que, transversalmente, 10% dos desportistas em formação são vítimas de bullying, 11,2% são agressores e quase 35% assiste, impávido e sereno a essas agressões. Os ataques dão-se, sobretudo, nos balneários ou em zonas menos vigiados e muitas vezes escapam aos treinadores e pais. Noutros casos, são aceites como "normais".
O desporto, já se sabe, deveria ser uma atividade formativa e ética, mas acaba por se transformar no palco perfeito para este tipo de intimidação, que normalmente está relacionada com o corpo - ou se ataca o mais pesado, ou o lingrinhas ou o desajeitado ou o deficiente. E isso pode ser feito através de palavras, agressões ou exclusão (não passar a bola, é o exemplo mais clássico).
"Uma das principais consequências do bullying nas modalidades desportivas é o abandono da prática, sem se assumir qual a causa", expõe Carlos Neto.
Agora que já se traçou o quadro nacional, nada animador, há que agir para que as coisas mudem. Daí que este grupo de cientistas tenha lançado esta quarta-feira este site interativo, onde se encontram vários conselhos práticos e materiais de apoio, para os diferentes atores desta triste história.
Daqui a pouco tempo, estará também em funcionamento uma linha de apoio à vítima de bullying no desporto (os técnicos estão em formação), com o apoio da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). A próxima leva de formação de treinadores já terá a intervenção deste grupo de especialistas, para que não mais se permita que haja condescendência com essas práticas. E assim que a época recomeçar, o grupo estará presente, em intervenção direta, em alguns clubes, numa situação em que toda a gente será envolvida, desde atletas, a pais, a dirigentes desportivos e treinadores. "É o princípio da investigação/ação. Ao mesmo tempo que agimos, vamos recolhendo mais dados e reformulando resultados", explica Miguel Nery.
Há ainda uma série de parceiros institucionais e de embaixadores civis, desde Nuno Delgado a Carlos Lopes ou Luís Represas, que dão visibilidade ao projeto e apoiam a causa. Ambas as listas estão em aberto e desejosas de crescer.

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