sábado, 6 de outubro de 2012

Exclusivo: dezenas de professores são suspeitos de pedofilia em escolas de SP

Crimes como estupros e assédio sexual seriam praticados no ambiente escolar

 
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Francis DEMANGE/Getty Images

Crimes como estupros, atentados violento ao pudor e assédio sexual são praticados contra crianças e adolescentes no ambiente escolar

Os pais sempre esperam que seus filhos estejam seguros na escola. Lá, crianças vão aprender a ler e escrever e a virar cidadãos. Mas o perigo ronda os estabelecimentos de ensino. Além dos problemas comuns de violência em portas de colégios, hoje outro problema aflige estudantes: são frequentes os casos de professores acusados de pedofilia. Crimes como estupros, atentados violentos ao pudor e assédio sexual são praticados contra crianças e adolescentes no ambiente escolar.

Mais de 80 casos de professores acusados de pedofilia foram acompanhados nos últimos cinco anos somente pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e pelo Apeoesp (Sindicato dos Professores no Ensino Oficial de São Paulo), segundo informações de educadores. O R7 verificou ao menos 14 desses casos envolvendo docentes, por meio de boletins de ocorrências e inquéritos em delegacias, além de processos criminais na Justiça ou administrativos na Secretaria de Educação. Os acusados, na maioria dos casos, foram afastados da sala de aula.

Há denúncias diversas: professores que tiveram relações sexuais com alunas de 14 e 15 anos, até em vestiário da escola; outro levou um menino de 11 anos à sua casa para praticar abusos, outro teria dado R$ 10 a um garoto em troca de sexo oral e outros tocaram em órgãos sexuais de alunos. Há também docente que teria tentado agarrar e beijar a aluna à força ou assediado menores de idade por meio do Facebook, Orkut ou MSN.

A Secretaria de Educação não confirma o número de 80 denúncias citadas por educadores e diz que só pode responder sobre casos e processos específicos. O órgão do governo garante que “age com rigor em relação a todas as denúncias recebidas e que não compactua com quaisquer formas de constrangimento e de violação de direitos”.

O Sindicato dos Professores do Estado não fala sobre o assunto. A entidade tem oferecido advogados de sua equipe para defender os acusados e alega não poder abandoná-los.

ABC paulista
Em Santo André, no ABC paulista, um professor de física e matemática da Escola Estadual Clotilde Peluso foi acusado, em junho, de manter relações sexuais com a aluna A., 14 anos. Segundo a mãe da menina, identificada apenas como L., o professor costumava levar várias outras alunas menores de idade à sua casa.

— Eu já havia alertado a direção da escola de que ele estava saindo com minha filha e com outras meninas. A escola não fez nada. Foi a primeira vez que minha filha teve relação sexual e eu fiquei possessa. Isso é abuso de poder. Fui à polícia denunciar para que isso não continue acontecendo. O pior é que a direção da escola, antes desse fato acontecer, disse que não tinha problema o que vinha ocorrendo porque o professor era bonito, esse tipo de coisa acontecia, era uma fantasia e coisa passageira.

O caso foi denunciado à Delegacia da Mulher de Santo André, ao Conselho Tutelar da cidade e à direção da escola. A diretora do colégio, que se identificou apenas como Sueli, informou que o professor está afastado. Ela disse que “não aconteceu nada dentro da escola” e lá, “não há nada que desabone o professor”. Questionada se consideraria normal o professor sair ou manter relações sexuais com aluna menor de idade, ela respondeu:

— Eu desconheço qualquer coisa que tenha acontecido fora da escola.

Histórias como a de A. repetem-se em outros colégios. Professores jovens, tidos como “boa-pinta” e metidos a galã, chamam a atenção de alunas e passariam a tirar proveito da situação. O docente da Escola Clotilde Peluso se enquadraria nesse perfil, conforme a denúncia. Por tê-lo acusado, A. chegou a ser hostilizada por outras colegas, que foram à sua casa protestar. Depois, teve que mudar de colégio.

Zona leste de SP
Na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, o professor de educação física A. C. J. foi acusado de manter relações sexuais com a menina P., 14 anos, em um vestiário. Ela e uma outra colega da oitava série, R., contaram que o professor costumava atrair meninas de 12 e 14 anos ao local. Lá, segundo afirmaram, A. as beijava e abraçava e pedia para que elas o masturbassem.

O professor foi afastado da escola, respondeu a um processo criminal por causa da denúncia e foi absolvido. O juiz da 4ª Vara Criminal do Fórum da Barra Funda, região central de São Paulo, entendeu que não havia comprovação da ocorrência de ato sexual nem que teria havido violência.

O professor afirmou que as acusações “eram descabidas” e, por isso, “nada foi provado”. A mãe da jovem, que se identificou apenas como D., discordou da decisão da Justiça.

— A gente fica revoltada. Mas já sofremos muito com o caso. Era muito doloroso quando tínhamos de depor. Deixamos pra lá, para não prejudicar mais minha filha.

São Caetano
Em São Caetano do Sul, também no ABC paulista, o professor C.S., da Escola Idalina Macedo Sodré, foi indiciado em inquérito policial pela acusação de tentar agarrar e beijar à força a aluna G., de 15 anos. Segundo a estudante, o professor teria pedido para ela ir ao laboratório de química depois do final da aula para “vistar um trabalho”. Em sua defesa, o professor disse que a porta do laboratório permaneceu aberta “e dois outros alunos permaneceram na entrada”. Procurado, ele disse que não falaria sobre o assunto.

Na escola, uma professora e uma funcionária, que não quiseram se identificar, defenderam C.S.

— As alunas adolescentes costumam assediar professor.

Procurados, os pais da menina também não quiseram dar declarações.

Até diretores de colégios são denunciados. Na Escola Estadual Professora Leila Sabino, na zona sul de São Paulo, no final do ano passado, o então diretor P.M.N. foi acusado de pedir a uma aluna de 12 anos para que se exibisse em um vídeo em poses sensuais, de calcinha e sutiã. Outras garotas menores de idade também teriam sido incentivadas a posar da mesma forma.

O diretor, de acordo com a acusação, teria feito ameaças às meninas, por meio do Facebook, usando o codinome Carol. Teria ameaçado o irmão de uma delas, caso as garotas não produzissem o vídeo.  A mãe de uma das alunas, de 13 anos, que não quis se identificar protestou.

— É um absurdo acontecer uma coisa dessas dentro da escola.
Após o caso, o diretor foi afastado. 

Interior
Em Campinas, um professor da Escola Estadual Newton Oppermann foi acusado de abusar sexualmente de crianças de dez e 12 anos. Um dos alunos filmou os atos praticados na sala de computação da escola e encaminhou o vídeo para a Delegacia da Mulher na cidade.

Em Jacareí, no Vale do Paraíba, dois professores foram processados na Justiça por abusos contra menores. R. L., 41 anos, professor de química e biologia, foi acusado de manter relações sexuais com o menino M., de 11 anos. O professor teria levado o garoto para passar a tarde em sua casa, com o consentimento da avó. Ele já havia respondido a um processo em 1992 por um crime semelhante. Procurado, o professor não quis falar sobre a denúncia.

C. P., professor de português e francês, foi preso em flagrante por policiais militares, dentro de um carro. Ele estava com o garoto R.P., de12 anos, e foi acusado de atentado violento ao pudor, ao praticar sexo oral no menor, em troca de R$ 10.

Na casa do professor, policiais apreenderam um computador e uma máquina fotográfica com fotografias e vídeos pornográficos de crianças e adolescentes. O professor foi afastado das salas de aula em junho de 2011. Ele passou sete meses na cadeia e agora pede na Justiça a sua reintegração à rede de ensino.

Já o professor de geografia G.C.S., de Franco da Rocha, foi preso pela operação Carrossel, da Polícia Federal, em 2007, por manter em seu computador fotos e vídeos pornográficos de crianças e adolescentes. G. alegou que pretendia usar o material em sala de aula para “conscientizar os alunos” sobre o que é pedofilia.

— Era um trabalho, eu tentava esclarecer. Muito do que estava lá é considerado criminoso, mas é normal em outros países.

Outro caso envolve uma escola municipal: em abril do ano passado, um professor de educação física foi acusado de tocar no órgão genital do menino P., de quatro anos, na Escola Francisco Mariano de Almeida, em Capela do Alto, a cerca de 130 km de São Paulo. O garoto contou para os pais, que registraram queixa na delegacia. Os pais do garoto afirmaram que querem “esquecer o caso”.

Sobre os casos na rede estadual, a Secretaria de Educação de São Paulo informou, em nota, que a Diretoria de Ensino de Santo André instaurou apuração preliminar para apurar a conduta do professor da Escola Clotilde Peluso a fim de que “sejam tomadas as medidas cabíveis”. Em relação ao professor da Escola Estadual Newton Oppermann, de Campinas, também há um processo administrativo em andamento. O professor está preso e foi afastado do cargo, sem direito a remuneração.

Os professores R. L (de Jacareí) e A.C.J. (da zona leste de São Paulo) também responderam a processos administrativos e foram dispensados do serviço público, conforme a secretaria. A.C.J., antes dessa medida, pediu exoneração do cargo. Sobre os professores C. P. (também de Jacareí) e G.C.S. (de Franco da Rocha) e o diretor de escola na zona sul da capital P.M.N ., a secretaria informou que os três respondem a processos administrativos e desempenham interinamente atividades administrativas “nas diretorias regionais de ensino em que atuam”. A secretaria diz aguardar a conclusão desses processos para “evitar prejulgamento e outras possibilidades de prejuízo ao procedimento”.

No caso de C.S., de São Caetano, a secretaria disse que o processo administrativo foi arquivado “por falta de recursos que comprovassem as acusações”. Na polícia, esse inquérito ainda não foi concluído e o Ministério Público pediu para ouvir novamente os alunos da escola.

Relembre o caso do diretor da zona sul:
ASSISTA AO VÍDEO

Fonte: R7

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