quarta-feira, 4 de abril de 2012

Como o bullying deve ser enfrentado por vítimas e instituições escolares.

“Coragem de dizer quem sou”

Por: Carla Carniel

“Durante a aula, um colega de classe veio me xingando e perguntando se eu queria apanhar porque era ‘viado’. Respondi: ‘Não tenho medo de você’. Na saída, ele disse: ‘Se você não tem medo de mim, vai levar facada pra aprender’”. O relato, infelizmente, é verdadeiro. A história aconteceu com um adolescente no Rio Grande do Sul, estudante do primeiro ano do ensino médio, homossexual assumido. Sem medo de dizer quem era, sofreu agressões psicológicas e físicas, e o caso ganhou proporções nacionais.

A escola, representada por seu corpo docente, não pode ser conivente com - ou fechar os olhos para não ver - práticas de bulimento ocorrido entre seus muros.
A escola, representada por seu corpo docente, não pode ser conivente com - ou fechar os olhos para não ver - práticas de bulimento ocorrido entre seus muros.

Orientado pela diretora da escola, o adolescente buscou a polícia para registrar a agressão, embora tenha omitido sua sexualidade por medo de sofrer mais preconceito: “Cheguei lá chorando e humilhado, eu tenho medo que aconteça alguma coisa comigo”. Além do bullying praticado por colegas de sala, o jovem ainda foi vítima da conivência de alguns professores, que ignoraram as agressões e os apelos por ajuda. Atitude contrária ao que acredita a educadora Mariza Lima, professora no Estado de São Paulo. “O professor deve reprimir, comunicar aos seus superiores e aos responsáveis. Todos nós somos corresponsáveis pelo que acontece em nossa volta”, declara.

Lidando diariamente com adolescentes, Mariza afirma que o bullying sempre existiu, mas atualmente o assunto é mais discutido e as vítimas das agressões expõem mais suas histórias. É mais um motivo para as figuras de autoridade não ficarem caladas e tentarem, de alguma forma, ajudar a quem sofre bullying. Segundo ela, essas pessoas demonstram sinais da agressão, agindo com timidez, se isolando e até mesmo se tornando violentos com outras pessoas. Ficar atento e tentar mudar esse cenário é papel de todos.

Segundo a advogada Sylvia Stella, “a criança ou adolescente que sofre qualquer espécie de bullying deve, em primeiro lugar, contar aos pais ou responsáveis”. Os pais, por sua vez, devem procurar a direção da escola e, se necessário, marcarem uma reunião com os responsáveis pelo aluno que pratica o bullying, alertando-os para as possíveis implicações legais da atitude agressora. Caso nenhuma atitude seja tomada, os pais devem registrar um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima, comunicando à polícia quem são os agressores e a omissão da escola.

Como no Brasil não existe o crime de bullying, deve-se verificar qual o tipo de agressão sofrida, e então enquadrá-la no Código Penal. “Civilmente, os pais da vítima podem pleitear do agressor ou mesmo da escola uma indenização por danos morais”, explica a advogada.

O mais importante, de acordo com Mariza e Sylvia, é que a situação não permaneça em silêncio. Assim como o jovem estudante do Rio Grande do Sul expôs sua história para dar mais visibilidade ao caso e tentar evitar que situações semelhantes continuem acontecendo em todo o País, cada vítima de bullying deve se fortalecer frente aos agressores. Para a professora Mariza, não há fórmula mágica que erradique essa prática das escolas, mas é possível desenvolver discussões sobre respeito e diversidade, além de ser fundamental coibir os casos que vêm a público. 

“Quando se percebe que não há proteção para os sofredores e nem punição aos agressores, há a tendência de crescimento desse comportamento”, finaliza.

Fonte: Grupo Dignidade

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