“Coragem de dizer quem sou”
Por: Carla Carniel
“Durante a aula, um colega de classe veio me xingando e perguntando
se eu queria apanhar porque era ‘viado’. Respondi: ‘Não tenho medo de
você’. Na saída, ele disse: ‘Se você não tem medo de mim, vai levar
facada pra aprender’”. O relato, infelizmente, é verdadeiro. A história
aconteceu com um adolescente no Rio Grande do Sul, estudante do primeiro
ano do ensino médio, homossexual assumido. Sem medo de dizer quem era,
sofreu agressões psicológicas e físicas, e o caso ganhou proporções
nacionais.
Orientado pela diretora da escola, o adolescente buscou a polícia
para registrar a agressão, embora tenha omitido sua sexualidade por medo
de sofrer mais preconceito: “Cheguei lá chorando e humilhado, eu tenho
medo que aconteça alguma coisa comigo”. Além do bullying praticado por
colegas de sala, o jovem ainda foi vítima da conivência de alguns
professores, que ignoraram as agressões e os apelos por ajuda. Atitude
contrária ao que acredita a educadora Mariza Lima, professora no Estado
de São Paulo. “O professor deve reprimir, comunicar aos seus superiores e
aos responsáveis. Todos nós somos corresponsáveis pelo que acontece em
nossa volta”, declara.
Lidando diariamente com adolescentes, Mariza afirma que o bullying
sempre existiu, mas atualmente o assunto é mais discutido e as vítimas
das agressões expõem mais suas histórias. É mais um motivo para as
figuras de autoridade não ficarem caladas e tentarem, de alguma forma,
ajudar a quem sofre bullying. Segundo ela, essas pessoas demonstram
sinais da agressão, agindo com timidez, se isolando e até mesmo se
tornando violentos com outras pessoas. Ficar atento e tentar mudar esse
cenário é papel de todos.
Segundo a advogada Sylvia Stella, “a criança ou adolescente que sofre
qualquer espécie de bullying deve, em primeiro lugar, contar aos pais
ou responsáveis”. Os pais, por sua vez, devem procurar a direção da
escola e, se necessário, marcarem uma reunião com os responsáveis pelo
aluno que pratica o bullying, alertando-os para as possíveis implicações
legais da atitude agressora. Caso nenhuma atitude seja tomada, os pais
devem registrar um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima,
comunicando à polícia quem são os agressores e a omissão da escola.
Como no Brasil não existe o crime de bullying, deve-se verificar qual
o tipo de agressão sofrida, e então enquadrá-la no Código Penal.
“Civilmente, os pais da vítima podem pleitear do agressor ou mesmo da
escola uma indenização por danos morais”, explica a advogada.
O mais importante, de acordo com Mariza e Sylvia, é que a situação
não permaneça em silêncio. Assim como o jovem estudante do Rio Grande do
Sul expôs sua história para dar mais visibilidade ao caso e tentar
evitar que situações semelhantes continuem acontecendo em todo o País,
cada vítima de bullying deve se fortalecer frente aos agressores. Para a
professora Mariza, não há fórmula mágica que erradique essa prática das
escolas, mas é possível desenvolver discussões sobre respeito e
diversidade, além de ser fundamental coibir os casos que vêm a público.
“Quando se percebe que não há proteção para os sofredores e nem punição
aos agressores, há a tendência de crescimento desse comportamento”,
finaliza.
Fonte: Grupo Dignidade
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