domingo, 1 de abril de 2012

Bullying e violência escolar foi tema das I Jornadas de Psicologia da Escola Profissional

Tânia Figueiredo, psicóloga da ASSOL, João Redondo, psiquiatra do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Coimbra, Nazaré Barros, professora de Filosofia e autora do livro 'Violência nas Escolas', Melanie Tavares, coordenadora do Gabinete de Mediação Escolar do Instituto de Apoio à Criança, Nazaré Gouveia, Presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Tondela, Capitão Campos Marques, Comandante do Destacamento Territorial de Santa Comba Dão e Sandra Barroso, psicóloga técnica superior da equipa do Dão Lafões, foram os conferencistas convidados a escalpelizar o tema em volta do bullying e violência nas escolas. A acção, que decorreu no Auditório Municipal de Tondela, e que foi inciada ao princípio da manhã de sexta-feira, dia 23 de Março e culminou pelas 17 horas, foi organizada pelo Serviço de Psicologia e Orientação da Escola Profissional de Tondela(EPT).

Relativamente aos quatro painéis propostos, foram dirimidas questões que têm a ver com "Bullying e Cyberbullying: a prevenção começa pelo conhecimento", a "Violência, Família, Escola e Comunidade", "Bullying: o papel da Escola", "Mediação de conflitos em contexto escolar", "Importância do envolvimento parental: o papel da família" e, finalmente, a "Prevenção e Intervenção face ao Bullying".

Instado a pronunciar-se, para "O Beirão Online" e o "Diário de Viseu", sobre o que veio dizer aos alunos da EPT, João Redondo, disse que "a violência é uma problemática que ao longo do ciclo vital, tem repercuções sérias na saúde e na qualidade de vida das pessoas" e que, para ela ser combatida, "é fundamental preveni-la, foi esta a mensagem que trouxe, responsabilizando todos, desde a comunidade aos alunos, aos serviços de saúde, às forças de segurança, à Justiça, à Escola, às IPSS", sustentou.

A violência em si, como fenómeno, "é preocupante, faz parte dos direitos humanos das pessoas, terem liberdade", o que "é fundamental para as pessoas crescerem, se desenvolverem e terem uma vida saudável e com qualidade e a violência tira essa liberdade", enfatizou.

Para o psiquiatra, coordenador do Serviço de Violência Familiar do Hospital Sobral Cid e membro co-fundador do Grupo Violência, Informação, Investigação e Intervenção, "infelizmente, os números no mundo, a violência é um problema sério", já que "50 por cento das mortes violentas são por suicídio, 30 por cento por homicídio e 20 por cento são as das guerras", afinal números que davam que pensar nas acções para que eles não aconteçam, uma vez que, depois da violência acontecer, "o impacto que tem, provoca estragos que podem ser irreversíveis na vida das pessoas e a essas pessoas é como se lhe retirássemos o direito a viver uma vida a que tinham direito" e, desse modo, "é sobre isso que temos que investir e prevenir", enfatizou.

Para João Redondo, "o que está por detrás do suicídio numa pessoa de 60 anos, é uma multicausalidade... nós temos uma história de vida, temos uma continuidade no sentir e no viver no dia a dia, aquilo que pais e filhos transmitem uns aos outros, desde os valores às atitudes, isto é que cria climas que são fundamentais para que as pessoas tenham saúde nas relações", sublinhou.
Os laços que unem as pessoas, aquilo que se cria na infância, o ter espaço que há para criar relações, explicar o que é saudável para que uma relação possa ter uma continuidade, as pessoas apoiarem-se, suportarem-se e terem tempo umas para as outras, ao longo da vida é fundamental e nos dias de hoje, estamos num tempo onde facilmente quando as pessoas ficam mais fragilizadas, estes laços são quebrados e a solidão é uma coisa terrivel na vida das pessoas", sublinhou.

A solidão não era uma pessoa estar sozinha fisicamente, "é uma pessoa dentro da cabeça dela, estar no vazio, sentir-se só dentro da sua própria cabeça e quando se vai desta dimensão onde já se teve uma família, onde se teve todo um histórico, onde a pessoa tinha um papel até ao momento em que dentro da cabeça fica o vazio, isto de alguma forma poderá ajudar a perceber porque é que as pessoas numa certa altura perdem o sentido do viver".

Sobre a função das escolas, elas "têm um papel importante do ponto de vista do informar, do sensibilizar e do mobilizar", concluiu, deixando perceber que, só por si, as escolas não eram solução, já que elas, as famílias e a comunidade, em conjunto, é que poderão dar algumas respostas e ter algumas soluções para investir na prevenção e na intervenção, quebrando os ciclos da violência.

Miguel Rodrigues, Director da EPT, disse que a violência escolar "não é um fenómeno novo e a sociedade nem sempre se tem manifestado relativamente aos seres que são socialmente frágeis e que, muitas vezes, adoptam condutas violentas como forma de protecção e/ou limitação". Muitas crianças e adolescentes vítmas de bullying na escola e, dependendo das características da sua personalidade e das relações com o meio sócio-familiar, "podem não suportar os traumas psicológicos sofridos, resultando mesmo em casos de suicídio". Outros "desenvolvem sentimentos negativos, baixa auto-estima e dificuldade de relacionamento com o meio envolvente, correndo o risco de assumir um comportamento agressivo e, assim, passar de vítima a bullie (agressor)", enfatizou.

Apesar da maioria dos comportamentos do bullying ocorrerem na escola, "a sua prevenção deverá centrar-se em toda a comunidade, não esquecendo que todas as pessoas têm um papel fundamental importante a desempenhar no auxílio desta perturbação, nomeadamente, a família, a escola, os profisionais de saúde, a comunidade, as crianças e os adolescentes", concluiu.

A vereadora do Município, Cecília Fragoso, a propósito do evento que enalteceu, disse que "a agressividade escolar é hoje um dos problemas mais significativos nas escolas quer pelo tipo de consequências que gera, quer pelas sequelas que se projectam ao longo do tempo, destruindo silenciosamente a vida, os sonhos, os projectos e as expectativas de muitas crianças, jovens e adultos".

Para Cecília Fragoso, o bullying trata-se de um fenómeno "que não se circunscreve ao meio escolar, estendendo-se não raras vezes ao mundo do trabalho e à própria sociedade, ganhando cada vez mais visibilidade social, tornando-se hoje um dos tipos de comportamentos agressivos mais estudados e discutidos pelos especialistas devendo pois, merecer uma maior atenção também do Estado que paga já uma pesada factura social a este respeito".  
 
 
Fonte: www.obeirao.net

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