Diretora estadual da Apeoesp (Sindicato
dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), Suzi da
Silva recebe toda semana reclamações de professores sobre casos de
violência dentro das escolas.
“A preocupação
existe e não é de hoje”, afirma Suzi. “A escola deixou de ser um local
em que alunos e professores iam e achavam que estavam seguros”,
completa.
Não é blá, blá, blá. A própria
sindicalista, que dá aulas nas redes estadual e municipal, já passou
por situações absurdas na relação com alunos. Foi beliscada por um
menino de apenas sete anos. Conta que chegou a ficar com marcas.
A
criança é agitada, costuma bater nos colegas de classe e, segundo Suzi,
literalmente sobe pelas paredes ao escalar corrimões e se pendurar no
telhado da escola. O temor, ela reforça, é que o garoto sofra ferimentos
por não obedecer diretores e professores.
Quem frequentou as escolas públicas de outros tempos tem dificuldade para entender uma situação como essa.
O cenário descrito por Suzi significa que não existem mais diretores rigorosos, capazes de garantir a disciplina dos estudantes?
“Estamos de mãos atadas dentro das escolas”, diz.
Segundo
a sindicalista, os diretores mais rigorosos vivem sob o risco de
processos baseados no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Afirma ainda que muitos professores evitam chamar a atenção de alguns alunos por medo de sofrer agressões.
Suzi
critica o que chama de falta de diálogo entre o governo estadual e os
professores. Afirma que os projetos são implantados sem discussão e que
há uma determinação para que eles não concedam entrevistas.
Na
avaliação dela, o programa Bolsa-Família, do governo federal, também
falha ao cobrar apenas frequência escolas das crianças e não o
rendimento em sala de aula.
A sindicalista está preocupada atualmente com os casos de invasão de escolas para acertos de contas envolvendo alunos.
A
psicóloga Marina Delazari, 25 anos, afirma que não há uma única causa
para o problema e que diversos aspectos precisam ser considerados.
“A
escola é um espaço propício para a reprodução das relações sociais, de
valores e de comportamentos”, diz. “A violência envolve uma série de
fatores externos, como organizações sócio-familiares desestruturadas e
conflituosas”.
Marina acredita que o aluno agressivo muitas vezes sofre ou presencia atos de violência em casa ou na comunidade.
Outro fator é o desinteresse dos pais pelas atividades escolares dos filhos.
“A
atitude desmotiva o aluno, contribuindo para que este desvalorize a
escola, passando a ter condutas negativas em relação à mesma”, analisa.
A
psicóloga aponta ainda o comportamento agressivo da própria escola,
muitas vezes repressiva em relação a ideias e comportamento dos alunos,
que podem se sentir desvalorizados e não compreendidos.
Prevenção
/A situação preocupa o poder público. Prova disso é que a Secretaria
Estadual da Educação e o Ministério Público firmaram um termo de
cooperação para disseminar práticas preventivas. O objetivo é melhorar a
proteção à comunidade escolar.
A parceria
prevê capacitações e distribuição de um guia sobre temas relacionados ao
problema, como o ECA, direitos humanos e justiça restaurativa.
O Sistema de Proteção Escolar foi criado em 2009 para prevenir conflitos e prevê o trabalho de professores mediadores.
Visitas e encontros para diminuir número de casos
Quinze
encontros regionais entre promotores de Justiça e educadores das
diretorias de ensino serão realizados para fortalecimento institucional
e parcerias locais entre as entidades. Também ocorrerão visitas a até
200 escolas estaduais.
1.000
É
o número de professores-mediadores e gestores do Sistema de Proteção
Escolar que passarão por uma capacitação em conceitos introdutórios de
Justiça Restaurativa, modelo resolução pacífica de conflitos
Conheça alguns casos recentes
Junho de 2011
Estudante
de 14 anos é agredida a tesouradas por outras garotas na frente da
escola estadual Stela Machado, na Vila Pacífico, em Bauru. É levada ao
Pronto-Socorro com ferimentos, medicada e liberada. No dia seguinte,
alunos e familiares vivem momentos de pânico por causa do boatos de
vingança, o que é negado pela família da vítima. Segundo a Secretaria
de Estado da Educação, na ocasião a equipe gestora socorreu a aluna e
comunicou a família imediatamente.
Agosto de 2011
Um
aluno joga um copo de água no outro na escola estadual Francisco Alves
Brizola, no Núcleo Geisel. Por causa disso, agride outro adolescente,
que acreditava ter sido o autor da “brincadeira”, com socos e chutes. O
caso vai parar na polícia. Neste caso, segundo a secretaria, o aluno foi
advertido de acordo com o regimento escolar e os responsáveis foram
acionados para comparecerem à escola para uma reunião. A unidade
intensificou o trabalho de combate à violência nos encontros do programa
Escola da Família.
24 de março de 2012
Um
garoto de 11 anos vai jogar bola na escola Joaquim Madureira, no Parque
Vista Alegre, e deixa a bicicleta perto da casa do caseiro. Ao voltar,
não encontra mais a Caloi azul, com seis marchas. De acordo com a
secretaria, na época a família do aluno foi comunicada sobre o ocorrido e
a direção da escola reforçou a orientação de que os estudantes devem se
responsabilizar por seus objetivos pessoais e que as bicicletas devem
ser estacionadas em local específico, destinado pela própria escola.
26 de março de 2012
Duas
professoras de uma escola localizada no bairro Nova Bauru registram
boletim de ocorrência após encontrarem os carros riscados no
estacionamento de escola. Dois adolescentes são vistos perto dos
carros, mas negam ter estragado as pinturas. A secretaria informa
que, depois do ocorrido, a unidade tentou, sem sucesso, contato com os
pais dos estudantes identificados como autores dos riscos. Como os
responsáveis não foram encontrados, a unidade advertiu os alunos. O
caso também será comunicado ao Conselho Tutelar.
26 de março de 2012
A
polícia é informada sobre a presença de um adolescente armado nos
arredores da escola estadual Carlos Chagas. No local, o garoto de 15
anos é abordado e admite carregar um simulacro de arma de fogo na
mochila. A arma de brinquedo é parecida com uma pistola .45. O
adolescente afirma que queria apenas mostrá-la aos amigos. Segundo a
secretaria, apesar de o caso ter acontecido fora da unidade, a escola
vai intensificar o trabalho de conscientização dos alunos nos projetos
desenvolvidos pelo professor-mediador e no programa Escola da Família.
Fonte: Diário de São Paulo
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