domingo, 15 de março de 2015

Projeto orienta sobre diversidade de gênero para evitar bullying nas escolas

Na rede municipal de ensino, uma cartilha está sendo confeccionada para professores e alunos

Nathane Dovale / nathanedovale@gmail.com D24AM

Evitar discriminação e até violência contra a diversidade de gênero faz escolas investirem em projetos contra o preconceito.Foto: AFP
A escola e os pais estão, cada vez mais, obrigados a abordar assuntos delicados na educação das crianças. Temas como homossexualidade e racismo são, praticamente, inevitáveis. As escolas públicas estão se antecipando e promovem ações para evitar que o ambiente escolar não se torne hostil.
Na rede municipal de ensino, desde 2010 uma coordenação de diversidade trabalha orientando os professores e alunos do Ensino Fundamental sobre assuntos de educação sexual. O trabalho teve início  com a historiadora Lídia Helena e a bióloga Angélica Cordeiro, que criaram um centro de formação dos educadores dentro da Secretaria Municipal de Educação (Semed). 
“Tínhamos um projeto que trabalhava a orientação sexual, no qual se buscou primeiro sensibilizar os professores sobre a questão da sexualidade, que é séria. Séria porque a construção dessa sexualidade é diferente desde que o homem é homem, então orientamos para as diferenças culturais entendendo que o respeito deve existir independente de qualquer coisa”, explicou Lídia, que, atualmente, coordena o setor de diversidade da Semed. 
Os resultados do projeto, que tratava sobre o corpo, doenças sexualmente transmissíveis e diferenças de gêneros, entre outros, foram transformados em um guia para os professores lidarem com o ambiente de formação escolar e orientar os alunos. 
Além das formações específicas, os professores utilizam filmes e vídeos como subsídio para o professor lidar com situações que possam ocorrer dentro da sala de aula, como a homofobia. “Um exemplo é se um colega ofende outro, chamando-o de ‘gay’. O professor é preparado para lidar com essa situação de forma pedagógica para não ofender nenhum dos dois alunos e para que isso não traga danos psicológico a nenhum deles”, disse Lídia. 
Segundo a coordenadora, o projeto nas escolas  trabalha em parceria com o Comitê de Enfrentamento da Homofobia (Ceham) e do Fórum Amazonense de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBT), para se orientar e desenvolver as ações da escola. 
“Não adianta fazer formação se o professor não estiver por dentro das conquistas e mudanças das associações. É importante essa discussão dentro da sala de aula porque, de uma certa forma, o aluno também pode desenvolver o pensamento de respeito a todos dentro de casa. O professor trabalha para que o aluno trabalhe isso por onde ele transitar”, afirma ela.

Uma cartilha está sendo confeccionada pela Coordenação de Diversidade para facilitar, cada vez mais, o trabalho do professor dentro de sala de aula nas escolas da rede pública no Estado. 

Caes

Na Rede Estadual de Educação, o Centro de Atendimento ao Escolar (Caes) é responsável pelas orientações aos alunos. Segundo Adriana Boh, psicológa e coordenadora do Caes, o centro é responsável pelas questões psicossociais dos alunos, tratando também questões como homofobia. 

“Trabalhamos questões voltadas para a educação sexual, sob o aspecto de saúde, prevenção de doenças, entre outros, como a questão do preconceito, orientando sempre aos alunos que existem orientações sexuais diferenciadas e de como é necessário o respeito às diferenças”, contou. 

O Caes atua em todas as escolas. Conforme Adriana, anualmente um plano é criado para ser desenvolvido dentro das instituições, com os alunos, professores e também os pais. As atividades são realizadas com palestras, oficinas, apresentação de vídeos na sala de aula e reuniões com os pais.
Segundo Adriana, cerca de 60% dos pais participam das reuniões de orientações, que geralmente ocorrem no fim do bimestre. “Geralmente os pais que não frequentam a escola são dos alunos que tendem a ter algum problema na escola. Nossa orientação para as escolas é que esses encontros sejam frequentes para que a família tenha conhecimento, interesse de acompanhar seus filhos. Até porque a educação não é só da escola, ela começa em casa e se complementa na escola”, disse.

A diretora do Núcleo de Psicologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), que trabalha com a relação igualitária de gênero, Iolete Ribeiro, afirma que tanto a família quanto a escola têm a responsabilidade no processo de formação e na construção de uma sociedade “na qual as pessoas convivam em paz”.

“A família é responsável em educar a atitude e comportamento das crianças e adolescentes. A escola vai dar fundamento e conhecimento. São conhecimentos diferentes, mas educam e contribuem na tolerância de aceitar as diferenças dos outros”, disse.
Sobre os casos de homofobia nas escolas, Iolete diz que o ambiente escolar tem uma fase importante de formação e orientação. “É necessário esse cuidado para que os que não se identificam com seu gênero, não sofram violência e queiram sair da escola, ou até pensar em suicídio por não se sentirem aceitos no ambiente escolar”, afirmou.
Lei 
Na última quinta-feira (13), foram publicadas no Diário Oficial da União duas resoluções que garantem direitos para a comunidade LGBT. Uma delas estabelece parâmetro para garantir condições de acesso e permanência de pessoas travestis e transexuais - “e todas aquelas que tenham sua identidade de gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais” - nas instituições de ensino.

Caso haja distinção quanto ao uso de uniformes, por exemplo, também deve ser facultada a escolha de vestimentas conforme a opção de cada pessoa. Em outro trecho do documento, o texto diz que o reconhecimento da identidade de gênero deve ser estendido a estudantes adolescentes sem que seja obrigatória a autorização do responsável. O estudante também passa a ter direito de ser chamado quando solicitar pelo nome social quando a identificação civil não corresponder a sua orientação - não cabendo qualquer tipo de objeção.

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