segunda-feira, 9 de março de 2015

Adolescentes japoneses se inspiram em execuções do 'EI' e geram debate sobre censura nas redes

Jovem de 13 anos que sofria bullying foi morto por colegas com método semelhante ao usado pelo grupo jihadista contra reféns japoneses.


Da BBC
Fonte G1

Morte de Ryota Uemura gerou grande repercussão no Japão (Foto: Reprodução)Morte de Ryota Uemura gerou grande repercussão no Japão (Foto: Reprodução)
O assassinato de um adolescente, possivelmente inspirado nos vídeos de execução de reféns do grupo autodenominado "Estado Islâmico" (EI), chocou o Japão e gerou um debate sobre o conteúdo que deve estar acessível à crianças nas redes sociais.
Ryota Uemura, de 13 anos, foi encontrado nu e sem vida no dia 20 de fevereiro, perto de um rio na cidade de Kawasaki, na grande Tóquio. Três jovens, com idades entre 17 e 18 anos, foram detidos na semana passada.
Os adolescentes foram registrados por uma câmera de segurança. Nas imagens, eles aparecem levando Ryota para o local do crime e voltando sem ele.
Vários cortes no pescoço provocados por uma navalha evidenciaram que o assassino confesso, um jovem de 18 anos, líder de uma gangue local, tentou decapitar o garoto, ao estilo dos jihadistas.
"Os investigadores suspeitam que (os criminosos) assistiram aos vídeos que mostram a execução de reféns do grupo Estado Islâmico e tentaram imitar", escreveu a revista popular Shukan Shincho.
Repercussão
O caso ganhou repercussão no Japão por causa das recentes mortes de dois japoneses que eram reféns do "EI" na Síria.
Haruna Yukawa e Kenji Goto foram decapitados no começo deste ano, e as cenas se espalharam rapidamente pelas redes sociais no Japão.
Desde a semana passada, programas de tevê e revistas vêm dedicando um grande espaço para falar de bullying e de censura nas redes sociais.
No site 2channel, um debate acalorado mostrou a revolta dos internautas. "A mídia deveria ser culpada por deixá-los (os jovens) serem influenciados pelo 'EI'", escreveu um leitor.
O primeiro-ministro Shinzo Abe chegou a mencionar o caso durante uma seção no Parlamento, uma atitude muito rara.
Abe disse que não consegue entender como este tipo de coisa pode acontecer e lembrou que é responsabilidade dos adultos protegerem as crianças.
O primeiro-ministro prometeu que o governo estudará a adoção de medidas para melhorar a cooperação entre as escolas, a assistência social às famílias e a polícia.
Bullying recorrente
Decapitação de reféns japoneses pelo 'Estado Islâmico' repercutiu nas redes sociais no país
Ryota vinha sofrendo bullying desde novembro do ano passado, quando passou a andar com um grupo de estudantes.
Pessoas próximas disseram que o garoto apanhava dos colegas caso não cumprisse ordens, como praticar pequenos furtos.
Ele chegou a aparecer na escola com hematomas pelo corpo e não assistia às aulas desde janeiro.
No dia do crime, Ryota foi levado para perto do rio para ser punido por ter falado sobre o bullying que vinha sofrendo para outras pessoas.
Dois dos menores que estavam no local contaram que o líder da gangue disse que queria ficar sozinho com a vítima e os mandou se afastarem.
Quando voltaram, viram que Ryota estava nu – ele foi obrigado a nadar no rio de águas geladas – e ferido. Tentaram ajudar, mas foram ameaçados pelo líder.
Tiveram de queimar as roupas do garoto e o largaram sangrando sozinho.
Arrependimento
Um dia após o crime, um dos garotos de 17 anos mostrou arrependimento numa rede social. "Por que isto teve que acontecer? Sinto muito. Parece que a culpa é minha", escreveu.
A escola disse que chegou a enviar um professor até a casa do aluno por cinco vezes, mas ele não teria conseguido falar com o menino ou com os pais em nenhuma das tentativas.
Ryota morava com a mãe em um apartamento em Kawasaki, para onde se mudaram em julho do ano passado. Antes disso, ele vivia em uma ilha no sul do Japão, onde o pai trabalha como pescador.
"Educadores, funcionários do governo local e policiais precisam refletir profundamente sobre o que poderia ter sido feito para evitar a morte de (Ryota) Uemura, e o que deve ser feito para evitar crimes semelhantes no futuro", escreveu o editorial do jornal "The Japan Times".

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