segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Bernard Miodownick: Bullying: Questão judicial ou psicóloga?

Rio - Como noticiou o O DIA na última semana, o bullying — termo que designa violência física ou psicológica contra estudantes na unidade de ensino — tornou-se tema tão recorrente de ações judiciais, que os colégios começam a investir na contratação de seguros só para pagar indenizações a vítimas deste tipo de violência. A notícia sinaliza uma mudança quanto à atenção a essa importante questão escolar. No entanto, ao se enfatizar a resolução financeira entre as partes, há o risco de se colocar em segundo plano a prevenção e a resolução dos aspectos emocionais envolvidos. E que aspectos são?

A agressividade é uma condição natural do ser humano, que se faz presente desde cedo na relação que se estabelece com o mundo, primeiro em casa e depois na escola. Ela se mostra no que cada criança tenta impor ou dominar no seu meio e nos limites que pais e educadores precisam colocar. O resultado dessa interação será essencial para o desempenho na vida adulta. Aí tem que se lidar com um ambiente competitivo sem deixar que a agressividade seja destruidora de laços amorosos, da mesma forma deve se evitar uma atitude passiva e conformada diante dos outros. Na primeira opção há crescimento emocional, na segunda paralisia e desesperança.


A escola é um grande palco de ensaio para o futuro adulto. Ali se aprende a estabelecer alianças, a escolher inimigos, a fazer guerras e a assinar tratados de paz levando o grupo a conviver com as diferenças. Os professores atuam como importantes mediadores nessa “escola da vida”. Nem sempre tudo corre bem, às vezes se perde o controle. De um lado algum aluno mais agressivo e intolerante exercendo uma liderança. Do outro, os que sofrem o bullying pela dificuldade que apresentam de lidar com a agressividade dos outros e com a própria, não conseguindo utilizá-la como uma defesa necessária.


Sim, a escola terá que estar mais preparada para essas situações, especialmente pela saúde emocional dos alunos. Reparações financeiras são importantes desde que não se tornem bons negócios para todos. Nesse caso quem perde são as vítimas e seus familiares. Que o dinheiro seja usado para terapia psicológica, ou melhor, que esta se dê de forma preventiva. Vale investir nisso para ajudá-las a manejar de forma mais realista a agressividade. Caso contrário, o problema tende a se perpetuar na vida adulta através de autodesvalorização que leva esses indivíduos se depararem com situações frustrantes e traumáticas. Como se fosse um bullying voltado para si próprio.


Bernard Miodownick é presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro

Fonte: O Dia Online

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