O Conselho Estadual de Educação - CEE - deu mais um passo, na tarde de hoje, na proposta de elaboração de um documento que vai auxiliar e orientar as escolas públicas do Estado a lidar com questões relacionadas ao bullying e à violência nas instituições de ensino.
Dando continuidade a um ciclo de audiências públicas sobre o assunto, que tem envolvido trabalhadores, especialistas e pesquisadores de diversas instituições e ramos do saber, o Conselho realizou no auditório Jaime Câmara, do Palácio Pedro Ludovico, audiência pública, que contou com a presença dos palestrantes Sérgia Rosana Jacob Gomes (fonoaudióloga e psicopedagoga), Sebastião Donizetti de Carvalho (professor da rede Estadual, integrante do CEE e doutorando da PUC-Goiás em Educação) e do coronel Wesley Siqueira Borges (comandante do Batalhão Escolar da PM-GO).
De acordo com a professora e coordenadora da Comissão instituída no CEE para elaborar o documento relacionado ao enfrentamento do bullying, Maria do Rosário Cassimiro, a instituição não possui uma data específica para a elaboração do documento, tendo em vista que a complexidade e amplitude do assunto exige que o CEE escute uma ampla gama de setores da sociedade.
Após o recesso da instituição, em julho, os trabalhos vão continuar no mês de agosto e, provavelmente, novas audiências públicas serão realizadas para discutir o tema, conforme explicou o secretário-executivo do CEE, Marcos Elias Moreira.
Não se educa sem criar vínculos
De acordo com a fonoaudióloga Sérgia Rosana Gomes, pesquisas demonstram que traumas vivenciados pelas crianças – além de provocar alterações em sua subjetividade e em suas emoções – alteram também aspectos neurológicos e cerebrais. O que não impede, segundo ela, que pessoas que vivenciaram este tipo de situação possam retornar a uma condição “biológica” de normalidade, devido à plasticidade do sistema neurológico.
Ela chama a atenção para o fato de que o tratamento mais eficaz ao bullying e à violência consiste na prevenção, por meio de um processo de socialização que garanta à criança pleno desenvolvimento de aspectos como: apego (confiança no mundo); autocontrole; afiliação (se sentir parte de algo); ser responsivo; tolerância (que implica em reconhecer, entender e aceitar as diferenças) e respeito.
De forma determinante, Sérgia afirma que “não existe processo educacional sem a criação de vínculos entre a criança e o adulto”, sejam pais, sejam professores. “A criança só aprende algo de alguém que ela ‘autoriza’ que ensine, ou seja, tem que haver uma ligação afetiva, de empatia e de confiança”, explica.
Ela destaca que crianças estudadas nos Estados Unidos, que apresentaram distúrbios de violência e bullying – algumas já inseridas no sistema criminal – não constituíram vínculos, nem se sentem ‘parte’ de algo – seja da família, da escola ou mesmo da sociedade.
Ela conclui afirmando que a escola deve, cada vez mais, valorizar a Educação Infantil, que – segundo ela – não se constitui apenas em ‘fase de socialização’. “Muitas vezes aquela criança que não possui em casa os referenciais para a constituição de vínculos emocionais sadios com o mundo – por vir de um lar desestruturado ou por não ter um lar – tem no professor que a acolhe sua última oportunidade”, disse, o que reforça, segundo ela, a importância do professor no processo da educação e, por conseguinte, deve refletir também em sua valorização por parte da sociedade.
Qual escola queremos?
Para o professor Sebastião Donizetti, é importante ter em vista que o processo da Educação – bem como o contexto no qual a escola está inserida – segue os ditames de uma sociedade cada vez menos coletiva em suas aspirações e mais focada no individualismo e na competição exacerbada entre os indivíduos. “Na sociedade de hoje, a gente despreza o que é público, parecendo que somente o indivíduo é a solução”, disse.
De acordo com ele, o processo do consumismo e do individualismo tem gerado uma sociedade de pessoas “psicóticas, desenraizadas de uma cultura, de uma referência”, explica. Ao analisar que a Educação está a serviço do mercado – e em função deste – não é interesse aprofundar no processo de resgate do humano, mas apenas treiná-lo, em seus aspectos técnicos, para bem desempenhar determinadas funções na sociedade. “O que não significa que não exista profissionais buscando essa dimensão mais profunda da Educação”, ressalta.
Ele relembra que, no decorrer da evolução humana, a violência sempre existiu na sociedade. “O que nunca existiu foi esse nível de individualismo e competitividade. A humanidade não nasceu competitiva. Muito pelo contrário, foi graças a um espírito de cooperação que sobrevivemos até hoje. Já esse nível de individualismo, ao contrário, pode ser o que vai por fim à humanidade”, considera.
Para Donizetti, a solução para os problemas de violência e bullying vai muito além da Escola. Passa, obrigatoriamente, por mudanças sociais e comportamentais profundas. Ele citou, inclusive, experiências em uma escola portuguesa, na qual alunos e professores têm vivenciado uma nova cultura de ação frente a questões que envolvem a comunidade escolar. “Nesta perspectiva, cada um assume seu papel frente ao conflito – alunos falam por alunos, professores falam por professores e gestores falam por gestores – e se colocam a discuti-los e resolvê-los, de forma solidária e coletiva, estimulando a reflexão nos sujeitos de cada ação”, explicou.
Por fim, o tenente-coronel Wesley Siqueira Borges expôs o programa da Polícia Militar que trabalha em parceria com as escolas, por meio do Batalhão de Polícia Militar Escolar, além de distribuir aos participantes exemplares da 8ª edição da Cartilha do Batalhão Escolar – “Segurança com Cidadania nas Escolas”.
Fonte: Goiás Agora
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