segunda-feira, 4 de abril de 2016

Os miúdos lá da escola que não dão a bola a ninguém

Bayern Munique, adversário do Benfica, lidera rankings de posse de bola, passes completos, eficácia de passe, remates e golos, na Liga dos Campeões

Por Nuno Travassos 

Os miúdos lá da escola que não dão a bola a ninguém
PONTO FORTE: a intimidação não está no nome, está no estilo
O Bayern é como aquele grupo de amigos da preparatória que leva a bola para a escola e não deixa mais ninguém jogar. É a uma espécie de «bullying» a que o Benfica dificilmente escapará, até porque no panorama atual só o Barcelona parece ter condições para discutir a posse de bola com os alemães. E mesmo assim os dados da presente edição da Liga dos Campeões até indicam que o Bayern tem encostado mais os rivais à parede do que a antiga equipa de Pep Guardiola.
PONTO FRACO: riscos assumidos à retaguarda
Para Guardiola nunca faz sentido prescindir da bola, e por isso é mais importante tirar proveito dela do que pensar no que fazer sem ela. Daí que seja mais frequente ver o Bayern prescindir de um central de raíz do que renunciar à intenção de dominar o jogo. Kimmich e Alaba são frequentemente adaptados ao eixo defensivo. Uma decisão consciente, mas que tem, obviamente, alguns riscos, nomeadamente ao nível da organização defensiva e em lances de bola parada, dada a estatura .
A FIGURA: Roberto Lewandowski
O avançado polaco é responsável por mais de um terço dos golos apontados esta época pelo Bayern (102). Tem 36 tentos, em 40 jogos disputados, e está também na luta pela Bota de Ouro (como o benfiquista Jonas). Tecnicamente evoluído, móvel e inteligente, nunca se «esconde» nas habituais teias defensivas que o Bayern encontra. E na área, apesar da elevada densidade populacional, mostra-se tremendamente eficaz, inclusive no jogo aéreo. Não é difícil perceber o motivo pelo qual é o jogador mais utilizado por Pep Guardiola.
ONZE BASE
Feito com o
SABER MAIS

ANÁLISE DETALHADA:
QUE DOMÍNIO! O Bayern é a equipa com maior percentagem de posse de bola na Liga dos Campeões (67 por cento), a equipa com mais passes completos (5603), com melhor eficácia de passe (92 por cento), a mais rematadora (74) e também a mais concretizadora (25).
60 METROS DE RELVA PARA ALUGAR. A capacidade dominadora do Bayern faz com que a maioria dos jogos fique limitada a 30 ou 40 metros de terreno. A equipa de Pep Guardiola instala-se facilmente no meio-campo contrário, com todos os jogadores de campo neste curto espaço. Os centrais e o médio defensivo procuram forma de «furar», com um jogador em cada ala a dar largura, e os restantes (sempre quatro ou cinco) a tentar criar linhas de passe dentro do bloco defensivo contrário.
1ª mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões. Joga-se apenas o oitavo minuto de jogo, mas o Bayern já arrisca meter todos os jogadores de campos nos últimos 30/40 metros do campo. Isto com a Juventus, e em Turim.
VARIAÇÕES RÁPIDAS PARA PROMOVER O 1X1. Habituado a lidar com defesas muito compactas, o Bayern nunca desiste de furar pelo meio, mas tem também de procurar desequilíbrios pelas alas, e para isso conta com elementos como Robben, Ribéry, Douglas Costa ou Coman. Quando é confrontada com zonas de pressão limitativas, a equipa de Pep Guardiola aposta em variações rápidas de jogo para o flanco aberto, com o ala a avançar para o duelo individual.
LATERAIS E INTERIORES. Guardiola reforça muitas vezes o corredor central com os dois laterais. Lahm e Alaba (ou Bernat) partem da posição «natural», mas depois aparecem como médios interiores, com a largura assegurada pelos extremos, mais vocacionados para desequilíbrios individuais. Os laterais/interiores oferecem mais duas soluções de passe dentro do bloco defensivo adversário, e muitas vezes até procuram movimentos de rutura.
Lahm «abandona» a posição de lateral direito e aparece em zonas interiores
Lahm e Bernat, os dois laterais, em simultâneo no corredor central; Vidal recua para o meio dos centrais na construção dos ataques
Aqui Lahm não se limita a aparecer como médio interior, e procura até um movimento de rutura entre o lateral esquerdo e o central adversários.
TRÊS EM LINHA. O aparecimento dos laterais em zonas interiores do terreno é promovida pelo recuo do médio defensivo para junto dos centrais (principalmente Xabi). Isto reforça a qualidade da primeira fase de construção de jogo, mas aplica-se também à organização defensiva da equipa, com o «pivot» de meio-campo a aparecer muitas vezes como terceiro central. E por vezes Guardiola recorre mesmo a um esquema de três defesas apenas.
Xabi recua para terceiro central mesmo num contexto de organização defensiva do Bayern
O PAPEL ATIVO DE NEUER. É uma imagem já bem conhecida deste Bayern: o guarda-redes não está lá apenas para sujar as luvas (até porque isso é o que menos faz, na maioria dos jogos). Funciona como líbero em transição defensiva, a controlar a profundidade e a sair frequentemente da área para intercetar passes de rutura, e é também muito requisitado no início da construção de jogo, como apoio constante para contornar a pressão alta da equipa adversária.
PROFUNDIDADE PROBLEMÁTICA. Os principais problemas defensivos do Bayern estão associados sobretudo a dificuldades da linha mais defensiva em controlar a profundidade. A equipa procura reagir rapidamente à perda de bola, recuperá-la de imediato, mas quando falha essa resposta o quarteto recuado tende a perder as referências posicionais com alguma facilidade, o que abre espaço para os passes de rutura.

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