quinta-feira, 7 de abril de 2016

Após bullying e injúrias em grupo de WhatsApp, blogueira aciona a justiça

Blogueira e aluna de jornalismo diz ter sido difamada no grupo do colégio.
Calincka disse que sofreu bullying durante todo ensino médio em Petrolina.


Juliane PeixinhoDo G1 Petrolina
Calincka Cratéus acionou a justiça por injúrias em grupo do WhatsApp (Foto: Juliane Peixinho / G1)Calincka Cratéus acionou a justiça por injúrias em grupo do WhatsApp (Foto: Juliane Peixinho / G1)
Após o término do período escolar é comum a realização dos reencontros, momentos que ex-colegas se reagrupam para lembrar histórias e se atualizarem uns da vida dos outros. Com os aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp, essas reuniões passaram a ser feitas em grupos online. Em Petrolina, no Sertão de Pernambuco, um deles trouxe à tona o bullying do colegial, adormecido ao longo de dez anos, contra Calincka Crateús, de 25 anos. A blogueira e estudante de jornalismo agora recorre à justiça com objetivo de punir os autores de injúrias e difamações no grupo do antigo colégio.
Calincka Cratéus acionou  justiça por injúrias em grupo do WhatsApp (Foto: Reprodução/Facebook)Calincka Cratéus acionou justiça por injúrias
(Foto: Reprodução/Facebook)
Após dez anos distante da turma com quem estudou o ensino médio, Calincka recebeu uma mensagem de uma das participantes do grupo em uma das suas redes sociais perguntando se ela tinha interesse de entrar no grupo do WhatsApp do colégio. “Eu recusei o convite e expliquei que eu passei muita coisa ruim na escola. Depois disso, eu soube que essa pessoa estava fazendo uso das minhas fotos no grupo, junto com outra pessoa que estudou também comigo. Houve também um menino que pediu minha amizade em 2014 também em uma rede social e eu recusei. Eu não queria saber da vida dele e não queria que soubesse da minha. Então, eu não sei dizer se foi o orgulho ferido da parte dele e por isso que fizeram isso comigo”, explica.
Ela conta que teve conhecimento das ofensas através de uma amiga no domingo (3). Foram postadas fotos dela e algumas pessoas zombavam e diziam piadinhas, como "Essa aí é recebendo espírito" e "Minha gente, essa foto é de dar medo". Quando soube, a estudante não se calou, produziu um texto para o perfil dela no Facebook, que já teve quase 2 mil compartilhamentos.
“Um amiga me contou e pedi para ela, que estava inserida no grupo, pesquisar meu nome e ela achou mais de 55 prints de conversas falando como sou e estou. As postagens que eu deixo na minha página em público são bem pensadas e publicadas utilizando um contexto. Em uma das fotos utilizadas estou revirando os olhos para frases sobre homofobia, política e tem todo um contexto, mas no grupo eles utilizaram essa imagem para usar com o contexto de receber espírito”, conta.
Fotos de Calincka foram usadas fora do contexto que ela publicou em redes sociais (Foto: Reprodução/Facebook)Fotos de Calincka foram usadas fora do contexto
que ela publicou em redes sociais
(Foto: Reprodução/Facebook)
Ao saber da difamação, a blogueira, autora da página 'Toda Linda de Valentino', resolveu procurar a polícia. “Dessa vez eu não tive medo e não tenho 17 anos. Eu acredito que a justiça vai ser feita, porque não se trata apenas de mim, mas de crianças de Petrolina, Paraná, Mato Grosso, e de pessoas que mandaram mensagens e que passaram também por tudo o que passei", garante Calincka.
A página da rede social de Calinka está bloqueada e ela aguarda a liberação. “Eu fui bloqueada no Facebook. Essas pessoas denunciaram o post que eu fiz denunciando eles, o que gerou grande repercussão, com isso eu acabei sendo bloqueada. Estou recebendo mensagens de apoio de todos os cantos do Brasil. Abri uma porta a todos que tinham medo e vergonha de falar”, destaca.
Crime
Dois advogados estão no caso para defender Calincka (Foto: Juliane Peixinho / G1)Dois advogados estão no caso para defender
Calincka (Foto: Juliane Peixinho / G1)
Na terça-feira (5), a estudante foi até a delagacia, onde foi feito um Boletim de Ocorrência (B.O). Vai ser iniciado um processo penal para julgar o crime. De acordo com o  advogado João Gabriel Brito, já foram identificadas quatro pessoas do grupo que agiram com o intuito de injuriar Calincka. “Essas pessoas tinham a intenção de ofender a honra de Calincka. Elas pegavam as fotos sem autorização da página do Facebook dela e colocovam no WhatsApp junto com xingamentos e palavras de baixo calão", afirmou o advogado.
Em seguida, o advogado deve entrar na vara cívil para pedir a reparação pelos danos que eles cometeram. "Foram cometidos o crime da difamação e de injúria. A difamação interfere na reputação. Já a injúria é o que mais observo no caso de Calincka, é subjetivo e é relacionado à dignidade dela", explicou João Gabriel Brito.
A advogada Cíntia Amando, que também cuida do caso, defende que apesar de ser uma figura pública, não é possível aceitar que pessoas maculem e denigram a imagem dela. “Ela utiliza as imagens dela para fazer o trabalho dela e fazer as pessoas se divertirem, mas isso não dá direito de ridicularizar no meio público”, destaca Cíntia.
Ensino Médio
Os meninos diziam que eu não era a garota mais bonita da sala e eu só baixava a cabeça e ouvia, fingia não doer."
Calincka Cratéus
Calincka disse que sofreu bullying durante todo o ensino médio e que até cometia infrações para não ter que frequentar as aulas. “Os meninos diziam que eu não era a garota mais bonita da sala e eu só baixava a cabeça e ouvia, fingia não doer. Quando eu não consegui mais suportar, buscava várias estratégias para não ir à escola. Ia com a farda incompleta para voltar para casa, fazia infrações para receber a punição e ficar três dias sem ir ao colégio. Todos os dias eram infernais”, relata.
Os pais de Calincka não perceberam a dor da filha, pois estavam sofrendo com a morte da irmã dela. “Minha mãe não entendia o motivo e eu não podia contar, porque nessa época eu perdi a minha irmã por causa do lúpus. Então, eu tinha que me virar e cuidar dos meus pais emocionalmente, resguardar meu luto, mostrar que eu estava ali e que eles teriam que prosseguir, pois ainda havia uma filha ali. E ainda tinha que ouvir piadas e humilhações. Faziam exclusões, não queriam fazer trabalhos comigo. Eu fazia a maioria dos trabalhos sozinha e sentava só no recreio”, relembra. 
A blogueira relata que o fim do ensino médio foi um alívio e que ao ingressar no curso de Jornalismo da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) em Juazeiro, na Bahia, ela sentiu-se muito bem. “Gostei, porque haviam semelhantes, pessoas que gostavam de escrever, de militar, de não passar por cima de ninguém e ajudar o outro. Eram pessoas adultas e estavam todos atrás dos sonhos”, conta Cratéus.

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