As ofensas começaram no primeiro ano do ensino fundamental. Os apelidos eram "gorda", "feia", "fedida". A sala tinha 35 alunos. Desses, pelo menos 20 implicavam com ela. Os anos passaram, a adolescência chegou e as ofensas mudaram. "Puta", "vadia", "lésbica" e "prostituta" eram alguns dos novos adjetivos que uma estudante do nono ano do ensino fundamental, de 14 anos, recebia dos colegas de classe em uma escola particular de Americana, cujo nome o TODODIA não vai revelar para que a estudante não seja identificada.
O bullying levou a depressão, ao medo da sociedade, e chegou ao ponto de os pais da jovem não poderem andar com os vidros do carro abertos quando ela estava junto. A menina queria ficar escondida, onde ninguém pudesse vê-la. Ano passado, a tristeza e a insegurança levaram a garota a começar a praticar a autoflagelação. Ela se arranhava até sangrar, para substituir a dor psicológica pela física. No começo do ano, trocou de sala na escola e deixou para trás os agressores. A nova realidade estava fazendo bem para a jovem, que conseguia se sentir feliz. Porém, na última terça-feira, as ofensas voltaram a acontecer, o que levou seus pais a registrarem, na quinta-feira, um BO (boletim de ocorrência) na DDM (Delegacia de Defesa da Mulher) em Americana contra um dos agressores.
O assunto voltou à tona na escola, segundo a vítima e seus pais, após um colega da sala anterior falar para dois meninos da sala atual sobre os apelidos da garota. Um dos novos colegas a avisou sobre as ofensas e também procurou o coordenador da escola.
O problema já tinha sido levado até a diretoria no ano passado, no auge da depressão, durante uma reunião de pais. Até então, o assunto passava despercebido pelos professores, dizem os pais. "Ela (menina) foi chamada para explicar o que acontecia e quais crianças estavam envolvidas. O diretor devolveu ela para a sala e chamou os outros alunos. Perguntou se eles (alunos) faziam isso. 'Não' (a resposta). Então está bom. Voltaram para a sala de aula, piorou a situação, e daí não adiantou nada", lamentou o pai.
Antes disso, no segundo ano da menina na escola, os pais foram chamados porque um dos colegas dizia que a jovem era gorda. "Minha mãe foi na escola naquela época e parece que eles foram adquirindo raiva, por terem chamado os pais (deles) também. E parece que (esse sentimento) foi crescendo", conta a menina.
Ela começou a fazer tratamento psicológico no ano passado, quando foi diagnosticada com depressão. Desde então, teve de tomar remédios controlados para tratar a doença e mudou de sala.
A possibilidade de trocar de escola passou pela cabeça dos pais, que optaram pela permanência no colégio. "Queríamos trocar de escola. Por opção dela e consequência do tratamento, ela precisa superar essa situação, então ela preferiu enfrentar. Não tem só inimigos, tem amigos lá. Decidimos manter na mesma escola, (...) e essa nova sala a acolheu como uma aluna normal", disse o pai.
Já a elaboração do BO foi uma tentativa de não deixar a situação sair do controle. "Analisamos que ela precisa ter uma proteção por lei. Fomos atrás porque não queremos que isso continue. Forma muito fácil é eu tirar ela da escola, é o que eu queria fazer, mas ela precisava desse sentimento de superação", explicou o pai.
A DDM de Americana informou que "poucas pessoas" procuram a delegacia para registrar boletins relacionados a bullying, e que casos que envolvem adolescentes geralmente são resolvidos na escola. "Mas como foi injúria, foi feito um BO nesses termos (ato infracional)", informou a delegacia. Quando o boletim for despachado, o adolescente apontado como autor das ofensas deve ser chamado, com os pais. A SSP (Secretaria Estadual de Segurança Pública) informou que não há um número de quantos BO's são registrados por bullying.
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