segunda-feira, 4 de abril de 2016

Adolescência, bullying e a impotência de cada dia



André Rossi | Repórter do Jornal TODODIA

Boa parte dos meus amigos lembra com nostalgia da adolescência. Tempo livre para falar e fazer bobagem, perspectiva de várias portas se abrindo e, principalmente, a sensação de que o mundo, um dia, estaria aos nossos pés. A saudade da adolescência é forte justamente por causa dessa utopia que alguns imaginam que poderia ser a vida.
Entretanto, minhas lembranças da adolescência são marcadas, principalmente, pela sensação de impotência. Você tem vontade de fazer a diferença, de corrigir o que acha que está errado, e às vezes de simplesmente sumir. Você tenta expor essa avalanche de sentimentos, nem que seja no grito, mas a verdade é que ninguém leva a sério um garoto de 16 anos que ouve Nx Zero.
A adolescência passa, a vida adulta chega e, de repente, você duvida de tudo o que acreditava. Faculdade, trabalho, pagar contas. A vida não dá espaço para conjecturas. Ao mesmo tempo, aquela impotência adolescente começa a desaparecer. Você pode dirigir, pode escolher o que, quando e como fazer. A primeira vez que fui ao shopping de carro, com a minha namorada, e comprei dois Big Tasty para nós com o dinheiro do meu trabalho, no auge dos meus 18 anos...Cara, aquilo foi especial. Eu era, enfim, adulto.
Cinco anos depois, jogar "Life Is Strange" (PS3, PS4, Xbox 360, XOne, PC) foi uma experiência, no mínimo, inquietante. Você controla uma estudante de fotografia chamada Sam, que assim como vários adolescentes, é insegura nos relacionamentos com os colegas de sala.
Com seu jeito introvertido, ela rapidamente se torna o alvo preferido dos valentões do local, que praticam bullying com a garota. Logo no começo do jogo, as sensações que tinha quando era adolescente voltaram como um soco no estômago.
A diferença é que Max não é uma garota normal. A graça do jogo é que, devido a um evento misterioso, ela consegue voltar no tempo. Não estamos falando de anos. São minutos, cerca de dez no máximo. Tempo suficiente, porém, para ela revidar uma agressão verbal ou até mesmo física.
O jogo também possui um sistema interessante de escolhas. As decisões que você toma, sejam pequenas ou grandes, impactam no andamento do jogo, e as situações rapidamente saem do controle.
A sensação de poder, de não ser mais vulnerável, é o sonho de qualquer adolescente. Saber o que está fazendo e ainda pode consertar algo que não saiu exatamente como o planejado? Qualquer um quer isso.
Obviamente, o jogo é muito inteligente ao travar, em dado momento, todo esse poder. E aí se faz necessário, novamente, encontrar outros caminhos para superar os próximos obstáculos, agindo como uma pessoa "normal".
A transição da adolescência para a vida adulta é parecida. Você é impotente e acredita que quando for adulto conseguirá sanar essa ansiedade. Quando isso finalmente acontece, a impotência muda, se adapta. O novo vira rotina, a rotina vira chata e depois, inevitavelmente, você sente saudades dos seus 16 anos. Queremos crescer cedo demais, e demoramos muito tempo para entender que nada do que deixamos para trás poderia ter sido diferente. Ao menos, é claro, se pudéssemos voltar no tempo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário