Fonte: JC Net - Referência quando o assunto é educação, professor fala de sua trajetória e dos desafios atuais das escolas e dos educadores no País | ||
Mariana Cerigatto | ||
Ele faz a defesa intransigente da educação Por mais breve que seja o contato com o professor Joaquim Eliseo Mendes, impossível não deixá-lo sem a certeza de tratar-se de um homem verdadeiramente apaixonado pela educação e, consequentemente, pela vida. Autor do livro “Roteiro Administrativo da Educação”, este conhecido e respeitado cidadão de nosso cotidiano foi professor primário, licenciou-se em pedagogia, com habilitação em administração escolar, e chegou a lecionar como professor universitário. Tanta dedicação o levou a assumir o cargo de diretor regional de Bauru na Diretoria de Ensino, entre os anos de 1979 a 1982. “Só sei fazer educação e se fosse para ser professor novamente, seria”, diz, convicto de sua missão profissional na sociedade. Apesar da paixão, o educador avalia os problemas que permeiam as escolas e defende a categoria, destacando a importância da valorização dos profissionais e de se garantir melhores condições de trabalho. “Por mais idealista que seja o professor, se não tiver condições mínimas de trabalho, se não estiver satisfeito, não adianta. Todos precisam ser mais valorizados”, aponta, criticamente. Pai de quatro filhos, avô de sete netos e um bisneto, Joaquim Eliseo Mendes também atou em duas gestões como presidente do Lar Escola Rafael Maurício e está prestes a ingressar na Academia Bauruense de Letras (ABL). Mais detalhes dessa personalidade, nascida em Agudos, você conhecerá na entrevista a seguir. Aos 80 anos e já aposentado, o educador contou um pouco de sua trajetória ao JC. Jornal da Cidade - O senhor é bisavô! Joaquim Eliseo Mendes - Pois é, tive quatro filhos maravilhosos - Alexandre, Joaquim Júnior, Maria Cristina e Cláudia. Eles me deram sete netos e tive o prazer de ter me tornado bisavô. Posso dizer que sou um avô ‘pan-americano’, já que tenho três netos norte-americanos, dois brasileiros que moram em Bauru, um paraguaio e uma neta boliviana. Eles são muito queridos e os que moram no Exterior sempre vêm para cá, assim como eu os visito. JC - Como começou sua trajetória profissional? Joaquim - Me formei na década de 50, em Garça, como professor primário. Nesta época havia apenas duas opções - fazer magistério ou ser contador. Então eu, que já tinha uma irmã professora, optei por seguir o magistério. Comecei a dar aulas como substituto, numa cidade chamada Rinópolis, que fica próxima a Tupã. Naquele município, neste período que vivi por lá, não havia nem iluminação pelas ruas. De Rinópolis fui para Nova Guataporanga e também lecionei em Gália. Depois, fiz concurso para diretor de escola e assumi meu primeiro grupo escolar em Ribeirão dos Índios, em Santo Anastácio. Era um grupo de ensino típico rural. JC - Pelo jeito, as mudanças não pararam? Joaquim - O meu segundo grupo escolar foi em Presidente Prudente. Um fato que me recordo com carinho foi quando eu e outros professores da escola organizamos uma banda de música, que percorreu vários desfiles cívicos. Essa banda tornou-se bastante popular, foi algo que ficou muito marcado. Outro fato marcante, também em Presidente Prudente, foi o nascimento dos meus quatro filhos. Minha esposa, a Diva, conheci quando ministrava aulas na zona rural de Garça. JC - E como foi dar aulas em escolas da zona rural? Joaquim - Eu ia de ônibus, motocicleta ou até de cavalo (risos). Nas décadas de 50 e 60 havia muito mais gente na zona rural do que na área urbana. Depois de Presidente Prudente, vim para Bauru e atuei como inspetor escolar. Fiquei na cidade todo esse tempo (mais de 30 anos) e terminei a minha trajetória educacional como diretor regional de ensino da Diretoria de Ensino de Bauru entre os anos de 1979 a 1982. Foi um período bastante bom, muito produtivo. Também fui professor universitário na Universidade do Sagrado Coração (USC) no curso de pedagogia e tenho muita saudade desses maravilhosos tempos. Ainda tive a felicidade de, por duas vezes, assumir a presidência do Lar Escola Rafael Mauricio. Primeiro, atuei entre os anos de 1974 e 1978. Minha segunda gestão na entidade foi de 2008 até 2010. JC - O senhor também é membro da Academia Bauruense de Letras (ABL)? Joaquim - Meu ingresso na Academia Bauruense de Letras (ABL) está ocorrendo devido a um convite. Nós, professores, temos uma facilidade muito grande não só para falar, mas para escrever, então estamos sempre colaborando. JC - Essa facilidade resultou na publicação de livro? Joaquim - Antes de me aposentar, ainda na ativa, escrevi um livro que se chama “Roteiro Administrativo da Educação”. A primeira edição dele foi lançada em 1975. Mas na verdade foram 11 edições em 25 anos, abordando assuntos diferentes. É um livro de orientação para professores, para especialistas em educação, para alunos de pedagogia. Ele foi muito bem aceito e foi bastante utilizado na rede estadual de ensino. Com orgulho, posso dizer que é raro encontrar uma escola estadual que não tenha o meu livro na biblioteca. E, ainda, tenho mais dois livros que venho escrevendo sobre educação e que pretendo lançar dentro de algum tempo. JC - A educação foi o seu grande objetivo de vida... Joaquim - A única coisa que sei fazer é educação. Eu me realizei como educador, professor. Gostei de atuar desde professor até diretor regional. Em todos cargos que ocupei, eu me realizei. JC - Mas hoje o professor perdeu um pouco do prestígio e respeito que tinha antes. Joaquim - Antes, o professor era mais respeitado, o perfil do aluno era outro. Atualmente, a escola pública, principalmente, mudou bastante. Existe uma diferença muito grande do tempo em que eu era professor e de hoje em dia. Há tempos atrás, o professor era muito respeitado e ele era o único informante de seus alunos. Era ele a principal pessoa que trazia as novidades, as explicações sobre o mundo. Hoje em dia, o educador deixou de ser o único e exclusivo informante e os alunos conseguem obter uma gama de informações através da Internet, através dos diversos recursos digitais. Essa agitação, transformação e um grande fluxo de informações que existe em nossa sociedade, chegam em nossas escolas públicas e particulares; chegam aos lares e famílias. Vivemos uma época difícil, em que o professor muitas vezes chega a ser agredido em sala de aula. Assim, o trabalho se torna mais difícil. E o aluno desestimulado dificulta o processo de aprendizagem e ensino. Porém, é importante que a sociedade entenda que o professor não é o único culpado. Ele faz o que pode, mas é muito difícil dar aula para um aluno desinteressado. JC - O que fazer, então, professor? Joaquim - O aluno desinteressado precisa de um trabalho diferenciado na escola, precisa do apoio de outros especialistas, como psicólogos e assistentes sociais, pois a educação não é feita apenas pelo professor. JC - E o que seria necessário para dar um novo rumo à educação no Brasil? Joaquim - A educação brasileira pode melhorar se receber investimento. Educação e saúde são áreas que precisam de dinheiro para dar certo. Por mais idealista que seja o professor, se ele não tiver condições mínimas de trabalho, se ele não estiver satisfeito, não adianta. O professor tem que ser valorizado, ganhar mais. Hoje esse profissional, para conseguir uma renda satisfatória, tem que trabalhar em várias escolas. Isso é ruim porque ele não cria vínculo com escola nenhuma e fica submisso àquela eterna correria. JC - Com a chegada das novas tecnologias, o que muda na educação? Joaquim - Por mais que evolua a tecnologia, o professor é insubstituível. Mesmo com todo avanço, não acredito que uma criação do homem vai substituir a família, nem o educador. O computador pode exercer inúmeras funções, mas a máquina não tem amor. A máquina tem uma previsão programada, mas ela não cria. Quem cria é o professor. É ele que vai se relacionar com seus alunos. JC - E a violência nas escolas? O agravante são as drogas? Joaquim - As drogas constituem uma calamidade que está acabando com nossa juventude. A polícia tem feito um trabalho muito eficaz de apreensão. Tanto que vemos constantemente pelos jornais a quantidade astronômica de drogas apreendida. A polícia tem sido eficiente, mas esse trabalho de apreensão não vai contribuir para diminuir o consumo de droga. Alguém só vai deixar de consumir quando estiver consciente do mal que a droga faz. E aqui cabe um papel importante da educação - esse combate às drogas necessita de uma disciplina específica no currículo escolar. A família também deve apoiar os filhos para que eles tenham autoestima suficiente para resistir à tentação das drogas e saber que o consumo de entorpecente não tem retorno. JC - Se tivesse que escolher outra profissão, qual seria? Joaquim - Como eu disse, só sei fazer educação e se fosse para ser professor novamente, seria. É uma pena que a carreira no magistério esteja se esvaziando. Se o educador continuar desvalorizado, ele tende a desaparecer, por isso a educação precisa receber mais investimentos e o professor precisa contar com o trabalho de outros profissionais dentro da escola. Perfil Nome - Joaquim Eliseo Mendes Idade -80 anos Local de nascimento - Agudos/SP Signo - Gêmeos Filhos - Cláudia, Joaquim Júnior, Maria Cristina e Alexandre, além de sete netos e uma bisneta Hobby - Ler, passear, ouvir música e cinema Livro de cabeceira - Bíblia e “O Grande Amigo de Deus” Filme preferido - Comédia romântica Estilo musical predileto - Sou eclético, gosto desde sertanejo de qualidade até música clássica Time - Sou noroestino, mas gosto de futebol no geral Para quem dá nota 10 - Para o casal bauruense Carlito e Neusa e o filho Tiago. Essa família concedeu um terreno para a construção do Lar Escola Rafael Maurício. Também dou nota dez para voluntários, que prestam serviço por amor. Para quem dá nota 0 - Para os que praticam a corrupção e para aqueles que agridem a natureza. |
domingo, 7 de agosto de 2011
Joaquim Eliseo Mendes, faz a defesa intransigente da educação
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